[Crítica] À Beira Mar
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Em menos de dez anos, Angelina
Jolie Pitt realizou quatro filmes (antes de Na Terra de Amor e Ódio, teve o documentário
A Place in Time), podendo sim ser chamada diretora e não somente atriz. Em À
Beira Mar, seu terceiro trabalho de ficção, Jolie Pitt se afasta da temática de
seus dois últimos filmes (guerra) para abordar outro tipo de crise, que põe a
prova relacionamentos amorosos.
O filme se situa em meados dos
anos 1970. O casal norte-americano Roland (Brad Pitt) e Vanessa (Jolie Pitt) parte
em uma viagem pelo litoral da França. É evidente desde o início que eles estão
enfrentando alguma crise em seu casamento, e a distância entre eles cresce cada
vez mais. Roland, um escritor, aproveita a viagem também para dar continuidade
ao seu novo livro, e se aproxima de um proprietário de um bar local (Niels
Arestrup). Vanessa, uma ex-dançarina, passa os dias trancafiada no quarto de
hotel e, por acidente, encontra prazer ao observar um jovem casal hospedado no
quarto ao lado (Mélanie Laurent e Melvil Poupaud).
Abandonando a grandiloquência de
seus últimos trabalhos como diretora, Angelina Jolie Pitt procura, em À Beira
Mar, criar uma experiência intimista, com o mínimo de recursos. Procurando
emular a abordagem adotada por Michelangelo Antonioni em sua trilogia da
incomunicabilidade (formada pelos extraordinários A Aventura, de 1960; A Noite,
de 1961; e O Eclipse, de 1962), Jolie Pitt ambienta seu filme em uma locação idílica,
investindo pesado em um clima de contemplação e alienação. A direção de arte de
Tom Brown e Charlo Dalli, o desenho de produção de Jon Hutman e os figurinos de
Ellen Mirojnick ajudam a recriar os anos 1970 imaginados pela diretora e
provavelmente serão indicados a prêmios por seus respectivos trabalhos.
Entretanto, embora À Beira Mar seja
um filme muito bem executado do ponto de vista logístico, o roteiro de Jolie
Pitt é problemático justamente ao tentar imergir no íntimo dos personagens. Até
haver um ponto de virada na história de Vanessa e Roland, somos obrigados a
aguentar um primeiro ato letárgico. Em seguida, acompanhamos a experiência voyeurística
compartilhada pelo casal ao observar o outro casal jovem transando ou
conversando, experiência essa que os aproxima, mas que é exibida ao expectador
de maneira absolutamente constrangedora de tão inorgânica, chegando a provocar
o riso na maioria das vezes.
Investindo em uma atuação minimalista,
Brad Pitt surge contido como Roland. Tentando salvar seu casamento ao viajar
com a esposa para outro continente ao mesmo tempo em que tenta finalizar sua
obra literária, Roland é um personagem que caminha entre a crescente frustração
e uma ponta de otimismo. Por outro lado, Angelina Jolie Pitt, apesar de não
precisar de esforço para convencer como uma mulher de classe, não consegue
transmitir com eficácia o sofrimento de Vanessa, uma mulher que certamente foi
flagelada pelo casamento. O tom de voz adotado pela atriz é irritante e os
ocasionais gemidos que sua personagem dá ao demonstrar desgaste são
embaraçosos. Niels Arestrup aproveita o pouco tempo de tela de seu personagem
para criar um experiente dono de bar que surge como uma espécie de conselheiro
e amigo de Roland, chegando a comover em uma cena na qual fala sobre sua
falecida esposa. Mélanie Laurent e Melvil Poupaud pouco têm a fazer com seus
personagens, tendo em vista que eles estão no filme com o único propósito de
serem observados.
Belo, porém vazio, À Beira Mar
funciona perfeitamente bem como um exercício de estilo para a diretora Angelina
Jolie Pitt. Como narrativa, no entanto, o filme deixa muito a desejar.
Pessoalmente, gosto muito de acompanhar as carreiras de atores que viram
diretores e, ainda que não tenha acertado como cineasta, Jolie Pitt não é
exceção. Pensar em soluções visuais ela sabe, agora só precisa ser afiada na
arquitetura dramática.