[Crítica] Zoom
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Como já venho manifestando há
algum tempo, o cinema brasileiro é bem produzido e rico tanto em sua
diversidade regional quanto na variedade de temas e ideias. Zoom é um filme que
conta com uma excelente produção (neste caso, coprodução Brasil e Canadá) e com
uma ideia complexa e ambiciosa. E só. A ideia por trás do filme é realmente
boa, mas não é satisfatoriamente desenvolvida.
O longa começa com Emma (Alison
Pill), uma funcionária de uma fábrica de bonecas sensuais que sonha em ter
seios maiores. Ao mesmo tempo, ela trabalha em uma HQ que tem como
protagonista Edward Deacon (Gael García Bernal), um diretor de cinema que
precisa lidar com as pressões do estúdio enquanto tenta impor sua marca
artística na condução de um filme sobre Michelle Camargo (Mariana Ximenes), uma
modelo internacional que vive uma crise em seu relacionamento com Dale (Jason
Priestley) em decorrência das aspirações literárias da moça, que está
escrevendo um livro de ficção que conta a história de... Emma.
A princípio, é daquelas ideias
que fazem a cabeça explodir. E o diretor Pedro Morelli (filho do veterano Paulo
Morelli) sabe como filmar. Empregando uma mistura das técnicas de live action e
da animação por rotoscopia, Morelli tem o domínio completo de sua mise-en-scène
e das técnicas de filmagem que melhor servem à sua produção. Inegavelmente, ele
é um cineasta com uma visão artística da história que quer contar. É evidente
o cuidado que o diretor de fotografia Adrian Teijido teve utilizando movimentos
de câmera bem pensados e imagens abstratas para a sugestão de ideias. Evidente
também a direção de arte de Elisa Sauve, em especial pelo cuidado com a criação
da fábrica de bonecas (e das próprias bonecas). O problema grave da produção é
o roteiro confuso de Matt Hansen, que não ajuda em nada.
Até percebermos que se trata de
uma história conectada com a outra de maneira cíclica já passou mais de meia
hora de projeção. O tempo que poderia ter sido aproveitado para desenvolver o
interessante conceito narrativo do filme é totalmente desperdiçado em meio a um
desenvolvimento superficial de personagens, que falha em envolver a plateia que
está assistindo ao filme. Outro problema evidente do longa é não se decidir
entre personagens caricatos e não caricatos. É com certo estranhamento (pra não
dizer choque) que somos apresentados ao personagem de Don McKellar no início do
filme, um homem que deseja a confecção de uma boneca que seja semelhante à sua
falecida esposa, que de tão excêntrico chega a ser uma caricatura que destoa do
universo naturalista da personagem de Alison Pill.
E por falar na atriz, sua
trajetória pelo filme nos envolve graças ao seu belo trabalho. Seu segmento
cômico possui leves toques de Breaking Bad, e algumas das risadas que
(ocasionalmente) acontecem são graças ao timing de Pill. Habitando um universo
animado através da técnica da rotoscopia, Gael García Bernal faz o que pode com
um personagem que perde o controle de seu filme e de sua vida assim que começa
a sofrer de impotência sexual. E Mariana Ximenes apenas está presente em seu
segmento, não que a culpa seja da atriz, mas do material ingrato que lhe foi
dado.
Pretendendo ser um sofisticado
experimento metalinguístico, Zoom comprova ser uma bagunça narrativa com
embalagem bonita habitada por personagens superficiais. Apesar de ter seus
problemas de desenvolvimento de trama e de personagens, o filme deixa para
todos aqueles interessados no cinema nacional um aviso: Pedro Morelli é um
talento a ser acompanhado pelos próximos anos.