[Crítica] Em Nome da Lei
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O juiz Odilon de Oliveira ficou
famoso nacionalmente por viver constantemente escoltado pela Polícia Federal,
chegando inclusive a morar no Fórum onde trabalha. Esse modo de vida peculiar foi
adotado pelo magistrado devido a sua rígida atuação na fronteira do Brasil (na
cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul) com o Paraguai. A história do juiz
renderia um ótimo filme se explorasse a tensão e a claustrofobia da situação em
que vive. No entanto, Em Nome da Lei não explora o potencial que tinha para ser
um grande filme.
Livremente inspirado na história
do juiz Odilon, o longa começa com Vitor (Mateus Solano) na garupa de sua moto
em viagem para seu novo local de trabalho na fronteira, testemunhando com uma
cena curiosa no meio do caminho: um homem ensanguentado dentro de um carro em
meio a muitos tipos suspeitos. Vitor é um jovem e idealista juiz que chega à
cidade com o intuito de mudar o cenário de crime e violência instalado ali por
muitos anos. Seus aliados nessa empreitada são a procuradora Alice (Paolla
Oliveira) e o policial federal Elton (Eduardo Galvão), que já trabalham no
lugar há anos e sempre enfrentam problemas para deter a criminalidade local,
que se instalou com a conivência de alguns setores do poder público. O estilo firme
e determinado de Vitor revela-se um problema para o trabalho de Alice e Elton,
pois estes trabalham há anos na construção de um caso para desbaratar todos os
esquemas que possa haver ali na cidade.
Representando a criminalidade
instalada do lado brasileiro na fronteira está Gomez (Chico Diaz), também
conhecido como El Hombre. Gomez é uma prestigiada figura pública, amigo de
algumas das pessoas mais poderosas da cidade, incluindo o delegado local. Por
trás da fachada de homem de família, Gomez chefia todo um esquema de tráfico e
contrabando em colaboração com um chefão paraguaio conhecido como Coronel. Ao saber
da chegada de Vitor, Gomez tenta seduzir o jovem magistrado com todo e qualquer
meio em troca de sua colaboração: desde gordos pacotes de dinheiro até a um
simples convite para o casamento de sua filha. Porém, quando vê que Vitor não se
dobra a nenhuma de suas propinas, Gomez não tem outra escolha a não ser partir
para cima do juiz, contando para isso com a ajuda de Hermano (Emílio Dantas),
um de seus homens de confiança.
Dono de uma carreira irregular,
que apresenta desde filmes interessantes (Guerra de Canudos, Mauá - O Imperador
e o Rei) até desastres (Lamarca, Salve Geral), o diretor Sergio Rezende realiza aqui uma obra que se encaixa no segundo grupo. Desde
o início da projeção ficamos cientes que a intenção de Rezende é realizar um
filme de ação para entreter. Contudo, o filme apresenta problema de ritmo, as
cenas de ação não empolgam, os personagens não são bem desenvolvidos (alguns poderiam muito bem ser cortados que não fariam falta alguma) e muitas das
cenas ali presentes não colaboram para impulsionar a história pra frente,
como por exemplo a subtrama romântica envolvendo Hermano e a filha de Gomez,
interpretada por Juliana Lohmann. A real força do filme está nas cenas que
envolvem os personagens Vitor, Alice e Elton.
E por falar no trio acima, é
importante destacar o trabalho de Mateus Solano. Ator de talento, Solano faz o
que pode para criar um personagem complexo. Vitor é extremamente idealista, e
com isso acaba atravessando até mesmo seus próprios aliados no intuito de levar
Gomez a responder por seus crimes. Eduardo Galvão convence-nos da experiência e
da competência de Elton, obtidas graças há anos de trabalho e vivência na
fronteira. Paolla Oliveira se esforça, mas acaba repetindo muito do trabalho
que realiza na televisão. Emílio Dantas revela-se uma presença interessante e
intensa na pele de Hermano, um pistoleiro manco que transparece perigo toda vez
que aparece em cena. E por fim, Chico Diaz surge ameaçador como Gomez, porém é
sabotado pelo roteiro quando poderia criar um personagem instigante, e a sequência final envolvendo seu personagem é extremamente constrangedora (isso se deve mais à direção do que ao trabalho de Diaz).
Em Nome da Lei é mais uma prova
de que não adianta o filme ter uma embalagem maravilhosa se não tiver um
roteiro que invista em seus personagens e uma direção que saiba conduzir a
história para o caminho certo. O que poderia render uma incrível produção de
ação acaba por se revelar um filme esquecível que não faz jus ao talento dos
intérpretes envolvidos.