[Crítica] Voando Alto
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Por mais que a realidade em que
vivemos seja árdua, somos todos movidos por sonhos, em maior ou menor grau. O
que diferencia uma pessoa da outra é até onde cada um está disposto a chegar
para transformar seu sonho em realidade. Voando Alto trata exatamente deste
tipo de situação, na qual o sonhador em questão estava preocupado em superar apenas
suas próprias expectativas ao invés das expectativas de outros.
Inspirado em uma história real
que se passa no final dos anos 1980, o filme conta a história de Eddie Edwards
(Taron Egerton), um jovem oriundo da classe trabalhadora britânica que é movido
por um sonho: ser um atleta olímpico. Porém, tudo conspira para que o
protagonista fracasse em seu intento: não tem os joelhos bons o suficiente para
a prática esportiva, tem problemas de visão e não tem o condicionamento de um
atleta. Sem contar a falta de incentivo do pai, que insiste que o filho seja
gesseiro ao seu lado. Remando contra toda e qualquer maré, Eddie sai da
Inglaterra e vai para a Alemanha com o objetivo de ser saltador de esqui,
determinado a treinar o máximo para estar apto a competir nos Jogos Olímpicos
de Inverno. Lá, ele conhece Bronson Peary (Hugh Jackman), um ex-saltador cuja
falta de disciplina o colocou como zelador das pistas de esqui, que é cético
quanto ao futuro profissional de Eddie. Nasce uma improvável amizade que vai
mudar a vida de ambos.
Em seu terceiro filme como diretor,
o britânico Dexter Fletcher opta por uma abordagem leve e bem humorada, ao
mesmo tempo em que emprega movimentos de câmera ambiciosos e não convencionais.
Respeitando o equilibrado roteiro escrito Sean Macaulay e Simon Kelton, o
cineasta utiliza de maneira certeira a comédia como forma de retratar a
trajetória singular de seu protagonista, dando resultado a uma direção correta
e apropriada para a história que ambicionou contar. A trilha sonora de Matthew
Margeson e o design de produção de Mike Gunn ajudaram a proporcionar ao filme
não só uma ambientação tipicamente oitentista, mas uma aparência de produção
dirigida por John Hughes.
Apostando em uma composição
completamente diferente da que empregou em Kingsman - Serviço Secreto, o ator
Taron Egerton prova que não é mais um rosto bonito que caiu de paraquedas no
estrelato entregando uma atuação multidimensional e carismática. Seu Eddie é
um indivíduo desajeitado que não aparenta ser um atleta com aspirações
olímpicas. No entanto, sua perseverança e sua capacidade de superar
expectativas, qualidades que ficam o tempo todo evidentes graças ao excelente
trabalho do jovem ator, faz com que a jornada do personagem nos envolva e
desperte verdadeiro fascínio em quem assiste ao filme.
Com seu próprio histórico de
fracasso profissional, Bronson Peary demonstra relutância em ajudar o aspirante
a saltador. Graças à força de vontade de Eddie, o ex-atleta acaba cedendo ao
chamado do jovem, abraçando o papel de mentor como uma forma de compensar os
erros de outrora. Adotando um sotaque do meio oeste norte-americano e
uma postura rígida que sugere um passado atlético, Jackman oferece uma ótima
performance de apoio sem jamais ofuscar seu protagonista, proporcionando uma
divertida e bem humorada dinâmica nas telas.
Com interpretações competentes e
um ritmo ágil e divertido, Voando Alto não tem as qualidades que o fazem um
clássico comparado a Rocky, Um Lutador, mas certamente é um filme tocante e
inspirador tal qual o emblemático filme estrelado por Sylvester Stallone. Impossível
não se identificar com as aspirações de um personagem determinado a superar
suas próprias limitações e expectativas. No fundo, todos nós temos algo de
Eddie Edwards.