[Crítica] A Colina Escarlate
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Cineasta de carreira cimentada no
terreno do horror e do fantástico, o diretor Guillermo Del Toro entregou obras
icônicas como Cronos, A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno, além de
filmes da série Hellboy. Ao lado de seus bons momentos (apesar de não se comparar
aos filmes anteriormente citados), A Colina Escarlate fascina
pela complexidade de seus temas e personagens, e pela forma como sua narrativa
é construída.
Edith Cushing (Mia Wasikowska) é
uma aspirante a escritora de horror que está tentando conquistar seu espaço no
universo literário, ao mesmo tempo em que é cortejada pelo jovem Dr. Alan
McMichael (Charlie Hunnam). Até que, certo dia, ela conhece Sir Thomas Sharpe
(Tom Hiddleston), baronete, um nobre inglês que está à procura de financiamento
para aperfeiçoar a máquina que opera nas minas que se encontram em suas terras.
Quando Carter Cushing (Jim Beaver), pai de Edith, recusa-se a financiar o
empreendimento de Sir Thomas, este se aproxima da jovem, que acaba se apaixonando
por ele. Os dois acabam por se casar e Edith vai morar com seu marido na casa
da família, tendo também a companhia de Lady Lucille Sharpe (Jessica Chastain),
irmã de Sir Thomas. Acontece que, desde a infância, Edith é assombrada por
visões de fantasmas, que se tornam cada vez mais frequentes assim que se muda
para a residência dos irmãos Sharpe, cujo elo é não só intrigante como também
perigoso.
O diretor Guillermo Del Toro é um
cineasta que, assim como Robert Zemeckis, James Cameron e Peter Jackson, entende
que os efeitos especiais são empregados a serviço da história e não para fins
de exibicionismo estético e financeiro. E o mexicano os investe de forma
maravilhosa na composição do ambiente sinistro de sua narrativa e de seus
personagens fantasmagóricos. Além disso, Del Toro comprova (mais uma vez)
através deste filme que é um realizador ambicioso. O cineasta não mediu
esforços para construir um set em tamanho real da casa dos Sharpe, onde boa
parte da narrativa é ambientada. E o trabalho conjunto do designer de produção
Thomas E. Sanders, do diretor de arte Brandt Gordon e dos decoradores de set
Jeffrey A. Melvin e Shane Vieau, ajudou a conceber um aspecto tenebroso e
sombrio para aquele cenário. Em especial, o trabalho de Gordon ainda merece
ser lembrado pela forma como ele encontra de preencher muitos dos quadros do
filme com a cor vermelha, desde o anel de Lady Lucille até o aspecto dos
minerais que são extraídos nas terras dos Sharpe. Destaque também para os
figurinos e para a trilha sonora de Fernando Velásquez, cuja melodia lembra a
música que Ennio Morricone compôs para o filme Cinema Paradiso.
No entanto, como disse no
início do texto, A Colina Escarlate não se compara nem de longe aos bons
momentos da carreira de Del Toro. Apesar de ser um filme muito bom, o roteiro
(escrito pelo cineasta ao lado de Matthew Robbins) apresenta problemas sérios que
prejudicam, em parte, o andamento da história. Por mais que Sir Thomas e Lady
Lucille sejam extremamente complexos como deveriam ser, a forte ligação entre
os dois é bastante óbvia e, quando descobrimos a real natureza deste laço, não
reagimos com o choque que se esperaria em face de uma descoberta dessas. Sem
contar que o filme pareceu apressado entre a passagem de um ato para outro,
como se quisesse resolver os conflitos o mais rápido possível, seguindo a
terrível tendência que vem assolando as produções contemporâneas.
Outro ponto forte de A Colina
Escarlate é a qualidade e força de seus intérpretes: Mia Wasikowska encarna
Edith Cushing com galhardia e competência, convencendo a plateia de sua força e
de seu espírito determinado em se impor num mundo patriarcal; Tom Hiddleston
prova, mais uma vez (além da franquia Thor), que é a escalação certa para um
personagem que ora amamos, ora odiamos. O ator britânico entrega uma atuação
excepcional e irretocável na pele do nobre que é amaldiçoado por um terrível
segredo que esconde de sua esposa, e que deve escolher entre sua maldição e o
amor que sente por Edith; Jessica Chastain esbanja versatilidade interpretando
Lady Lucille com a frieza que o papel exige. A atriz investe numa composição
minimalista para sua personagem, economizando nas expressões faciais e contando
apenas com um tom de voz grave e a expressividade de seus olhos; Por fim,
Charlie Hunnam apresenta um bom desempenho no papel do Dr. Alan McMichael,
apesar do pouco material que lhe é dado para desenvolver seu personagem.
Ainda que não figure entre seus
melhores trabalhos, A Colina Escarlate fascina por conta da paixão que Del Toro
teve ao realizar sua obra e que transparece a cada minuto de projeção e em cada
detalhe de seus quadros. É sempre satisfatório perceber o quanto somos
afortunados por ter entre nós um cineasta que emprega o melhor de si em todos
os trabalhos que realiza, ainda que o resultado final não seja extraordinário. O
filme tem seus defeitos sim, mas não deixa de ser um verdadeiro banquete para
os nossos olhos.