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Crítica | Caça-Fantasmas


Quem acompanhou as notícias sobre a produção deste reboot de Os Caça-Fantasmas sabe sobre os altos níveis de rejeição que este filme sofreu por parte de alguns internautas, especialmente pelo fato de o elenco principal ser composto por mulheres. Basta assistir a este Caça-Fantasmas que todos os argumentos contra caem por terra, como acontece com todas as críticas infundadas. O reboot dirigido por Paul Feig é uma divertidíssima comédia que foge da sombra dos originais, conseguindo se estabelecer com autenticidade e segurança.

De início, somos apresentados à Dra. Erin Gilbert (Kristen Wiig), uma acadêmica prestes a ganhar uma cadeira em uma prestigiada universidade norte-americana que é procurada pelo proprietário de uma mansão supostamente mal-assombrada devido a um livro cuja publicação não autorizou, co-escrito com sua antiga colega Abby Yates (Melissa McCarthy). Ao lado da engenheira nuclear Jillian Holtzmann (Kate McKinnon), as cientistas vão até a mansão e comprovam que os fantasmas que tanto estudaram existem. No entanto, suas descobertas chamam a atenção do público e as três acabam perdendo seus empregos, o que faz com que elas comecem a pesquisar o sobrenatural por conta própria, contando com a ajuda da cobradora Patty Tolan (Leslie Jones) e do recepcionista Kevin (Chris Hemsworth).

Antes de qualquer coisa, precisamos bater um papo sobre machismo. Por muitos anos, Dan Aykroyd, roteirista e ator de Os Caça-Fantasmas, tentou levar às telas uma terceira parte da franquia que ajudou a criar ao lado dos cineastas Harold Ramis e Ivan Reitman. No entanto, o elenco e os criadores nunca chegaram a um acordo, até que a Sony resolveu produzir um reboot da série. Quando foi noticiado que o elenco principal seria composto por mulheres, a internet entrou em polvorosa, chamando a atenção os comentários sexistas acima de tudo. Em se tratando de criação artística, mais especificamente de um mundo ficcional, quando o que se é questionado é a raça ou, neste caso, o gênero dos personagens principais, o problema não está nos realizadores, mas sim no caráter de quem faz tais questionamentos. Isto só evidencia a mediocridade de quem acha que os heróis e os protagonistas do filme devem ser homens brancos heterossexuais, que no final da aventura salvam a mocinha cândida e indefesa. É mais do que necessário repensar os modelos e os arquétipos que há muito vigoram e esse é um dos méritos da direção de Paul Feig.

Cineasta cuja carreira está estabelecida entre filmes com protagonistas femininas (os ótimos Missão Madrinha de Casamento, As Bem-Armadas e A Espiã que Sabia de Menos), Feig tomou um rumo corajoso ao introduzir mulheres no lugar de homens caça-fantasmas, criando uma saga bastante apropriada para a atualidade. As personagens são mulheres inteligentes, ousadas, capazes de cuidar de si mesmas diante da ameaça sobrenatural. Além disso, Feig demonstra a mesma desenvoltura tanto na criação de gags visuais quanto na condução de cenas de ação, resultado da experiência adquirida tanto em seus longas anteriores como nos trabalhos que fez para a TV.

Não obstante, o roteiro (co-escrito por Feig com Katie Dippold) reverencia o original em relação à sua premissa e construção narrativa, ganhando pontos no desenvolvimento de suas personagens e de novas situações e soluções para o andar da estória. Sejamos francos aqui, Os Caça-Fantasmas original tinha dois defeitos gritantes: 1) a paixão pelo conceito de "quatro indivíduos com habilidades de caçar fantasmas precisam salvar a cidade de uma ameaça sobrenatural" era tão grande que chegava a ofuscar por vezes a narrativa; 2) a ameaça vista no filme cresce de tal maneira como se os heróis precisassem de um vilão à altura de suas habilidades, não sendo desenvolvida organicamente dentro da estória. O que não é o caso em Caça-Fantasmas, que não faz questão alguma de se levar a sério e cujo antagonista se desenvolve de maneira convincente e plausível na trama. Minhas únicas críticas são quanto a algumas piadas serem excessivamente repetitivas e quanto à transição da personagem de Kristen Wiig ser muito rápida, de cientista que quer muito ser levada a sério para caça-fantasmas descontraída.

Obviamente, Caça-Fantasmas não seria o filme divertido que é se não fosse pelas suas protagonistas. Kristen Wiig tem a incrível habilidade de não precisar se esforçar para ser engraçada, fazendo com que as cenas cômicas de sua personagem fluam naturalmente. Melissa McCarthy demonstra a competência de sempre no papel da cientista que por vezes toma algumas das importantes decisões à frente do grupo. Todavia, é preciso destacar os maravilhosos trabalhos de Leslie Jones e Kate McKinnon. Se por um lado Jones se entrega de corpo e alma na composição de uma personagem que não tem nenhum conhecimento científico sobre paranormalidade, dependendo do jogo de cintura aprendido nas ruas, por outro McKinnon tem a oportunidade de criar a mais engraçada das quatro protagonistas, cuja persona amalucada e irreverente são um espetáculo à parte. Completando o elenco principal no que seria um casting de gênio, Chris Hemsworth (normalmente associado a papéis de ação) surge divertidíssimo na pele do recepcionista Kevin, preenchendo como ninguém a função do bofe-bonitinho-mas-burrinho, exibindo mais uma vez os atributos cômicos demonstrados em Férias Frustradas, coincidentemente outro reboot de um produto oitentista.

Não deixando nada a desejar quanto a seu material de origem, Caça-Fantasmas é um filme eficaz em seu conceito, na criação e estabelecimento de seu próprio universo, no desenvolvimento de suas personagens e, principalmente, ao provocar o riso. Contando com as apropriadas e divertidas pontas de Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Annie Potts e Sigourney Weaver (e as sentidas ausências de Rick Moranis e do falecido Harold Ramis), o reboot é hábil tanto ao honrar os filmes originais quanto ao abrir espaço para possíveis e bem-vindas continuações de seu novo time. Para aqueles que ainda estão em dúvida entre assistir ou não: dê uma chance ao filme. A probabilidade de você se surpreender é grande.

P.S.: Especialmente para quem assistiu aos filmes originais, não saiam do cinema enquanto rolam os créditos finais. A cena pós-créditos é muito, mas muito boa... Vai trazer no mínimo um sorriso no rosto, prometo.

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