Crítica | Jogo do Dinheiro
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Jodie Foster é uma atriz de
filmografia sólida. Com dois Oscars de Melhor Atriz em seu currículo (por
Acusados e O Silêncio dos Inocentes, respectivamente), Foster acumulou vários
sucessos em seus anos de carreira como Taxi Driver, Maverick, Nell, Contato, O Quarto do
Pânico, O Plano Perfeito, entre outros. O que muitos provavelmente não conhecem
é a sua expressiva carreira como diretora, tendo dirigido três filmes (Mentes
Que Brilham, Feriados em Família, Um Novo Despertar) e episódios de House of Cards e Orange is the New Black. Chega aos cinemas o drama Jogo do
Dinheiro, o mais novo filme de Foster como diretora e um de seus mais
contundentes.
A princípio seria mais um dia de
transmissão de um programa televisivo sobre o mundo dos investimentos. Lee
Gates (George Clooney) é o apresentador de Money Monster, um programa que
oferece, entre outras coisas, dicas de quais empresas valem a pena investir. Gates
é um apresentador irreverente e uma personalidade forte que dá muito trabalho
para sua diretora, Patty Fenn (Julia Roberts). No entanto, uma de suas dicas se
revelou um verdadeiro tiro no pé: a empresa Ibis Global Capital, comandada por
Walt Camby (Dominic West), perdeu inexplicavelmente 800 milhões de dólares,
prejudicando inúmeros acionistas.
Um dos investidores prejudicados
é o jovem Kyle Budwell (Jack O’Connell), que invade a emissora disfarçado de
entregador. Uma vez dentro do estúdio onde o programa é gravado, Kyle veste
Gates com um colete-bomba ameaçando explodir o prédio caso Camby não se
explique quanto ao dinheiro perdido. Com isso, Patty se vê obrigada a controlar
os ânimos dentro do estúdio e investigar sobre Camby e sua empresa, ao mesmo
tempo em que Gates percebe o quão longe foi com as informações que forneceu em
seu programa.
O roteiro escrito a seis mãos por
Alan Di Fiore, Jim Kouf e Jamie Linden investe bastante tempo desenvolvendo
seus personagens, permitindo com que nos identifiquemos com seus dramas
pessoais. Ao mesmo tempo em que a trama se concentra nos acontecimentos dentro
do estúdio, vemos que as repercussões das ações de Walt Camby se dão em nível
global, atingindo desde o técnico de informação coreano que desenvolveu o
sistema da Ibis, que aparentemente deu “pane”, até o líder sindical sul-africano
que está à frente de uma grande greve de trabalhadores. Com isso, percebemos os
subtextos da trama, como a desonestidade por trás das grandes corporações e a
irresponsabilidade de um sistema desregulado, sem que eles se escancarem e
ofusquem a história que está sendo contada.
Jodie Foster tem plena consciência
e conhecimento da história que está contando e concentra toda sua força na
interpretação dos atores. A escalação de George Clooney revela-se fundamental
para que venhamos a torcer por um sujeito que, na vida real, provavelmente
desprezaríamos. Sua atuação é hábil ao ilustrar os instantes de reflexão de Lee
Gates quanto ao seu papel de cúmplice de um sistema que prejudica inúmeras
pessoas. Julia Roberts estabelece uma química sem igual com Clooney e o fato de
já terem trabalhado em vários filmes no passado só ajuda para que as interações
de Patty com Gates resultem de forma natural e espontânea.
Mas o maior destaque do filme é
Jack O’Connell. O jovem de 25 anos já provou seu talento em filmes como
Encarcerado e Invencível, e mais uma vez ele brilha ao compor Kyle como um
sujeito imaturo e desesperado (reparem na forma como ele treme com a arma na
mão). Por outro lado, Dominic West e Giancarlo Esposito não têm muito que fazer
com seus personagens, já que, respectivamente, um é uma representação
unidimensional da ganância das grandes empresas e outro é um policial que se
limita apenas a dar ordens.
Com um roteiro simples e sem
pretensões de parecer mais grandioso do que é, porém se excedendo no humor,
Jodie Foster realiza uma pequena obra prima, ainda que problemática em certos
detalhes. Jogo do Dinheiro é um filme instigante que comprova que, além de ser
uma grande atriz, Foster é uma diretora com um grande potencial para
realizações ainda melhores.