Crítica | Invocação do Mal 2
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Uma das razões de filmes como
Tubarão, de Steven Spielberg, serem bem sucedidos na tensão e nos sustos que
provocam é porque deixam no terreno da sugestão a ameaça na qual o longa se
sustenta. Isto é: mostrar pouco, assustar mais e provocar mais medo. Invocação
do Mal, de 2013, se saiu muito bem neste quesito. Invocação do Mal 2 escorrega
na hora de ser sutil. No entanto, suas virtudes conseguem ser maiores do que seus
defeitos e o filme se salva por um triz.
Saindo da ambientação interiorana
norte-americana do longa anterior, a nova trama se passa no subúrbio de
Enfield, em Londres, no ano de 1977. Recém-separada do marido, a dona de casa
Peggy Hodgson (Frances O’Connor) se esforça para criar sozinha seus quatro
filhos: Margaret (Lauren Esposito), Janet (Madison Wolfe), Johnny (Patrick
McAuley) e Billy (Benjamin Haigh). Até que a vida da família é atormentada por
uma suspeita opressão demoníaca em sua casa. A situação se torna ainda mais
desesperadora quando Janet começa a mostrar sinais de possessão.
Do outro lado do Atlântico, os
investigadores paranormais Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson)
lutam contra seus próprios demônios e tentam viver uma vida mais tranquila e
distante dos casos que os tornaram famosos. Ed nota que Lorraine tem estado
mais sensível desde que investigaram os eventos que levaram à chacina de
Amityville (que deu origem às duas versões de Horror em Amityville, de 1979 e
2005), o que os levou a darem um tempo do trabalho. Até que, certo dia, um
padre os procura para que viajem até Londres com a finalidade de investigarem a veracidade das
supostas manifestações demoníacas em Enfield.
Novamente no comando da
continuação, o diretor James Wan (que também co-escreveu o roteiro ao lado de
David Leslie Johnson, Chad Hayes e Carey Hayes) repete o competente trabalho
realizado no original, especialmente em relação à primorosa recriação de época
por meio de figurinos, penteados, objetos de cena, ambientação e imagens de
arquivo. Dito isto, diferente do primeiro longa, no qual a tensão era
construída com sucesso através de elementos não-evidentes, Wan se entrega à
falta de sutileza logo no início do filme com dois planos sequências
vergonhosos de tão artificiais que atravessam a janela de fora para dentro,
além de mostrar o que poderia apenas ser sugerido (com exceção do plano
sequência no qual Ed se comunica pela primeira vez com o espírito que oprime a
família Hodgson, que é de arrepiar), o que acaba por diminuí-lo em relação a
seu antecessor. Além disso, o cineasta se utiliza de opções óbvias para criar
tensão em algumas cenas, como, por exemplo, a torneira da cozinha pingando
durante a noite ou a música estridente no momento do susto, que em nada
acrescentam a narrativa ou provocam o efeito desejado.
No entanto, Wan se redime das
falhas cometidas nos dois primeiros atos graças à reviravolta bem construída
pelo roteiro e a crescente tensão causada pelas visões de Lorraine, que nos faz
temer pelo destino que alguns personagens terão. A forma como o ato final do
filme foi conduzido engradece Invocação do Mal 2 e faz com que perdoemos o
cineasta pela forma descuidada com a qual ele nos entregou um primeiro ato
relaxado e um segundo ato regular. Outro ponto positivo para Wan é o fato de
que ele reconhece que a história que está contando, apesar de “baseada em
fatos reais”, é um exemplar do gênero terror e não hesita em abordá-la como
tal, ao invés de fazer um drama de época cabeça e pretensioso como muitos diretores
fariam se tivessem em mãos uma história inspirada em eventos verídicos como
esta.
Fundamental também para o sucesso
de Invocação do Mal 2 são os seus atores. Vera Farmiga e Patrick Wilson voltam
a exibir a bem sucedida química que demonstraram possuir no primeiro filme.
Enquanto a primeira é hábil ao expressar uma fragilidade latente após tanto
experimentar de perto as ameaças demoníacas, o segundo permite que conheçamos
uma faceta diferente do sério demonologista, naquela que é uma das melhores cenas
do filme, ao tocar violão e cantar "Can’t
Help Falling In Love", de Elvis Presley. Frances O’Connor convence como uma
mãe de família suburbana apavorada por lidar com o que não conhece e Franka
Potente demonstra a competência de sempre no papel de uma psiquiatra cética quanto às manifestações
paranormais. Os atores mirins também são dignos de aplausos ao ilustrar o medo
diante da ameaça demoníaca que os assombra, principalmente Madison Wolfe, cuja
personagem experimenta de forma íntima o sobrenatural.
Levemente inferior ao seu
original no início, porém compensando todas as falhas nos momentos próximos do clímax,
Invocação do Mal 2 é um ótimo exemplar do gênero terror como poucos conseguem
ser atualmente. Poderia facilmente fazer uma sessão dupla com A Bruxa, que também foi um belíssimo
representante do gênero este ano. Veremos se os próximos lançamentos
continuarão mantendo o padrão atingido até agora.