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[Resenha] A Culpa é das Estrelas


O fenômeno A Culpa é das Estrelas chegou aos cinemas neste mês de junho, levando multidões de adolescentes e seus namorados relutantes às sessões. Baseado na obra de John Green, à primeira vista, a história pode parecer comum: uma adolescente, sofrendo de câncer, se apaixona por outro adolescente. O que, afinal, pode ter de tão especial em uma premissa tão ordinária?

Engana-se quem pensa que ACEDE é mais uma história genérica. A Culpa é das Estrelas não é apenas um romance adolescente, mas um coming of age extremamente metafórico e um drama existencialista que ressoa com sua sabedoria.

A Culpa é das Estrelas é uma comédia dramática que narra a história de Hazel Grace - uma jovem vítima de câncer que, apesar de conseguir sobreviver devido a um avanço da medicina, em breve morrerá. Hazel passa seus dias sozinha e deprimida até que sua mãe decide levá-la para um grupo de apoio. Lá, ela conhece Augustus Waters, um jovem que cujo câncer foi curado ao entrar em remissão. Os dois se conhecem aos poucos e, juntos, redescobrem pequenos aspectos esquecidos da vida e da morte.

Para os mais desconfiados, o ritmo dos primeiros capítulos do livro é um prato cheio para críticas. A narração de John Green demora para funcionar, e o pessimismo da protagonista parece, bem, genérico. As primeiras trinta ou quarenta páginas são um desafio para aqueles que, como eu, sofrem trauma de Nicholas Sparks e não aguentam mais um romance meloso e forçado. Entretanto, aos poucos, o livro nos conquista com sua simplicidade e seu senso de humor, e, logo, prova a que veio.

A Culpa é das Estrelas tem um grande valor. Para aqueles que procuram um mero romance, ACEDE será um encanto. Já para quem procura uma boa dramédia, capaz de arrancar risos e lágrimas na mesma medida, Estrelas também será mais do que o suficiente. Mas o verdadeiro tesouro de A Culpa é das Estrelas está nas suas reflexões sábias e absolutamente necessárias, cheias de metáforas sobre vida, amor e morte. 

Não é apenas de quotes que o livro é feito. Cada situação pode ser interpretada como um acontecimento direto e comum, mas, no final das contas, o livro inteiro constrói, a partir da ideia de morte, uma metáfora para a vida. Todos nós vivemos por causa da morte, assim como Hazel e Gus, que, juntos, passam por uma jornada de amadurecimento que engloba vários aspectos da vida - nascimento, crescimento, desenvolvimento, perda, luto, rebeldia e até mesmo casamento. Numa história aparentemente muito direta e simples, John Green construiu uma obra riquíssima em detalhes, os quais sempre remetem para uma situação da vida cotidiana de cada um de nós. Hazel e Gus, em seus pequenos infinitos, não estão vivendo apenas dias de romance adolescente; estão vivendo a vida de cada um de nós, a vida que já vivemos e que ainda vamos viver.

O que mais impressiona neste livro é como ele consegue ser leve, suave em sua narrativa. Uma história sobre vida e morte poderia, com imensa facilidade, cair nas tentações e no clichê. A Culpa é das Estrelas poderia, sim, ser um livro cheio de tristeza e tragédia, em que um clima sombrio e pesado paira sobre a cabeça de seus personagens. Mas, se assim fosse, Estrelas não teria tanta força e tanto impacto. Uma das maiores vitórias deste livro é conseguir ser doce, mesmo tratando de um tema tão cruel e pesado. A beleza do mundo de ACEDE é uma de suas maiores conquistas, e é por isso que este livro consegue ser tão tocante, fugindo de qualquer pretensão de emocionar apenas para arrancar algumas lágrimas. Quando ACEDE nos toca, o livro se preocupa em nos fazer refletir e pensar, em nos emocionar verdadeiramente, fugindo da cafonice habitual dos romances teen. Eis a magnitude de A Culpa é das Estrelas, nos emocionar com doçura e leveza, mas sem esquecer de um realismo excruciante.

A Culpa é das Estrelas transborda poesia do início ao fim. Sempre muito inteligente e muito engraçado (mais até do que eu seria capaz de imaginar), o livro não se contenta em permanecer na zona de conforto do leitor. Em vez disso, procura sempre levá-lo longe em um misto de sentimentos, muitas vezes agradável, muitas vezes não. John Green sempre procura desenvolver sua história com leveza, mas, quando chega o momento de nos destruir, Green o faz sem se preocupar em poupar o leitor, mas também sem cair no sentimentalismo barato. Sincero e honesto sem apelar para manipulação emocional, A Culpa é das Estrelas nunca subestima a inteligência de seus leitores. Não, este não é o melhor livro de todos os tempos, mas é um dos melhores coming of age lançados recentemente. É um crime diminuir este livro a um mero romance meloso, como os haters gostam muito de fazer. A Culpa é das Estrelas é muito mais do que isso - talvez, muito mais do que qualquer hater consiga entender.

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