[Resenha] Bravura Indômita
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Imortalizado duas vezes no cinema, com uma adaptação regular de Henry Hathaway e outra magistral dos irmãos Coen, Bravura Indômita é considerado um dos “grandes romances da literatura norte-americana” – e não é para menos. A fluidez, para não dizer simplicidade da narrativa pode até decepcionar leitores mais conservadores, mas está longe de ser uma falha: True Grit é uma pequena obra-prima melancólica e cruel.
Considerado uma obra excêntrica e, sobretudo, cômica, Bravura Indômita conta a história de Mattie Ross, uma menina de Dardanelle, Arkansas, que aos 14 anos decide abandonar a fazenda natal para caçar o homem que matou traiçoeiramente seu pai e roubou os seus poucos pertences. Com a ajuda de Rooster Cogburn, o mais inclemente dos agentes federais à sua disposição e de um homem da lei texano, ela parte numa jornada em território desconhecido à procura de vingança.
Um livro imensamente prazeroso de ser lido, pode ser difícil para o leitor médio encontrar onde reside a maestria em Bravura Indômita. Mas sua frugalidade engana: sob as palavras simples de Charles Portis, existe um grande exercício literário, narrativo e emocional. Para uma trama que já foi adaptada múltiplas vezes e tornou-se influente para tantas outras obras relevantes (como o Léon, de Luc Besson), é difícil imaginar como True Grit possa ter mantido seu frescor e sua originalidade ao longo dos anos; o livro de Portis possui um único senso de tragédia, nostalgia e melancolia, que fez falta na genérica adaptação de Hathaway, mas foi dominado e executado bravamente no excelente longa dos Coen.
A narração de Portis é objetiva e oral, podendo ser facilmente imaginada como uma história do Velho Oeste sendo contada à luz de uma fogueira. Não pensem que isto afeta negativamente a trama de qualquer forma – de fato, serve apenas para engrandecê-la. As palavras de Mattie, que conta sua própria história, são pessoais e caricatas no melhor dos sentidos, fazendo ressurgir os curiosos costumes orais do sul norte-americano em plena Corrida para o Oeste. Da mesma forma, seu estilo narrativo (todo o livro é narrado na forma de memórias de uma Mattie já idosa) imprime uma constante atmosfera nostálgica, essencial para um coming-of-age tão cercado de violência e atrocidade quanto este.
Uma obstinada história de vingança, amadurecimento e dureza, Bravura Indômita não só é um dos mais relevantes livros americanos do século XX: é também uma leitura deliciosa e divertidíssima. Com personagens icônicos, como o famigerado brutamontes Cogburn, e uma linguagem única, Bravura é um raro exemplar que combina uma leitura fácil a um forte impacto emocional. Um curto romance para ser devorado em um dia – e, então, ansiar para encontrar um livro tão ágil e viciante quanto este.