Desventuras em Série | 1x01/02 - Mau Começo

Por Luísa Ribeiro

Caro leitor,

Como o próprio título sugere, esta não é uma história sobre um pequeno elfo feliz. A jornada dos órfãos Baudelaire é, na verdade, bastante penosa e cheia de infortúnios; cada instante recheado com uma nova tragédia. Você realmente não precisa ler esta resenha, muito menos assistir ao seriado ou ler os livros. Não. Poupe a si mesmo da imensa tortura que é conhecer a fundo a vida dessas crianças abandonadas pela sorte. Infelizmente, há pessoas como eu e o próprio Lemony Snicket que voluntariamente se dedicaram a relatar o ocorrido com os órfãos. Você não tem essa obrigação. Pare agora.

Se você decidiu continuar a leitura, apesar de todos os avisos, saiba que deixará a pessoa que aqui escreve de coração seriamente conturbado, mas por outro lado feliz por saber que as injustiças cometidas contra os Baudelaire finalmente chegarão ao conhecimento público. Uma pessoa disse uma vez que a vida é como um estranho e impopular restaurante, cheio de garçons mal encarados te trazendo coisas que você não gosta e quase nunca pediu. Pois o que foi servido aos irmãos Violet, Klaus e Sunny Baudelaire foi o cúmulo dos infortúnios, expressão que aqui significa "um incêndio terrível, a morte dos pais e um tutor, além de cruel, péssimo ator". Como se você pedisse pudim de sobremesa e te servissem Raiz Forte. Todos esses eventos são esclarecidos nos primeiros dois episódios.

Meu papel aqui não é o de me aprofundar no relato sobre a vida das três crianças, mas sim estabelecer algumas considerações entre a série, disponível na nova fonte de contato do senhor Snicket, a Netflix, e os livros escritos por ele há alguns anos e que eu, aos 13 anos, li com tanto afinco, causando-me muitas dúvidas e lágrimas. A primeira temporada dividiu-se entre os quatro primeiros livros, reservando dois episódios para cada um, tornando mais fácil o detalhamento dos fatos e sendo bem fiel ao relato escrito do Sr. Snicket. Seria interessante que para as próximas temporadas a quantidade de episódios por livro aumentasse, mas isso ainda não podemos saber.

Sobre o elenco, não há nada que eu possa dizer além de elogios. Alguns podem já ter assistido ao filme de 2004 , no qual o papel de Conde Olaf é interpretado por Jim Carrey. Definitivamente é uma interpretação digna. Só que vocês precisam entender uma coisa desde já: Conde Olaf é mau. Não é um vilão que vocês vão gostar. Ele é, no mínimo, extremamente desagradável, tanto como ator, tanto como pessoa e, na opinião de quem vos fala, Neil traz essa aura de vilania de forma mais adequada.

Algo que, como leitora, não foi de meu agrado é a forma como Lemony Snicket é retratado. Ele está sempre fugindo, é difícil encontrar um refúgio seguro e, por isso, revelar seu rosto seria um grande erro. Colocá-lo para narrar a história é uma coisa, expor essa figura, que nos livros é tão misteriosa, já é outra bem diferente. Abaixo, uma das poucas fotos que tivemos acesso até hoje (para mais informações, ler a Autobiografia Não Autorizada de Lemony Snicket).

Sr. Snicket pego de surpresa no meio
de uma investigação

Há na série certas sutilezas que apenas os leitores irão reparar agora no início, como bolos de limão e açucareiros perdidos. Para os que tomam conhecimento desta história pela primeira vez, recomendo que prestem atenção nos detalhes, pois serão importantes no futuro. Os mistérios que este drama nos entrega, questões cruciais para compreender o enredo, estão nessas pequenas coisas, como por exemplo uma dedicatória ou pais ainda desconhecidos querendo encontrar seus filhos.

A estética que o seriado estabelece soube captar bem a aura dos livros, realista e mágica ao mesmo tempo. Enquanto o Sr. Snicket nunca abandona seu tom narrativo-investigativo, certos elementos da história nos transportam para um universo à parte. O melhor exemplo disso é a caçula dos irmãos, Sunny. Suas habilidades de mordida ainda serão muito exploradas, de todas as maneiras possíveis e impossíveis. É importante que você ao assistir compreenda esta dualidade e saiba ver o cenário ímpar que ela proporciona. Dito isso, deixo vocês por ora. Voltaremos a nos cruzar no texto que relatará alguns comentários sobre a estadia dos órfãos na casa de seu segundo tutor, depois que Olaf... Bem... Só assistindo, não ouso falar.

Apenas lembre-se: aqui o mundo é sereno.