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[Review] True Detective 2x06/07 - Church in Ruins/Black Maps and Motel Rooms

Homens maus.


Homens maus.

Nas últimas semanas, fui muito duro com True Detective e não mascarei minha opinião só pelo hype que a série carrega. Ao contrário do que as pessoas acham, um show cultuado pode sim derrapar numa segunda entrada e a antologia de Nic Pizzolatto infelizmente passou a fazer parte desta lista. Assim, fui sem muitas expectativas conferir as penúltimas horas da série e, para minha surpresa, pela primeira vez desde a estreia True Detective fugiu da fórmula truncada que vinha apresentando com a pegada mais insossa do ano. Ao imprimir um desenvolvimento real para os plots desconexos da história, o texto de Pizzolatto resgatou com louvor a urgência poética e incômoda que alavancou o programa no passado.

Church in Ruins começa capengando e com um desfecho previsível para o face off entre Velcoro e Frank, mas a partir dali a direção dada ao detetive rende cenas que permitem Colin Farrell brilhar. É doloroso assistir Velcoro abrir mão do filho por simplesmente não querer que ele passe pelo baque de descobrir o violento passado da mãe. Ao mesmo tempo somos levados a desejar que Velc consiga, de uma forma ou de outra, vingar o estupro da ex-esposa. O ultimato dado ao verdadeiro estuprador é o diálogo que sem dúvidas pode render algum prêmio a Farrell no futuro. A busca de Frank por Irina – o primeiro e fraco link entre o mafioso e a trama central dentro de um episódio –, só serve para ganharmos mais algumas caras de dor de barriga do Vince Vaughn. No entanto, como o plot se conecta bem com a jornada de Velcoro, dá para deixarmos de lado a inépcia do pior chefe do crime que uma série já viu.

Paul e Ani continuam sendo os verdadeiros detetives aqui. Os dois desencavam mais do passado de Caspere e dos negócios entre Osip, Tony Chessani e as orgias de luxo promovidas pelo alto escalão da sociedade de Vinci. Um dos maiores problemas da temporada foi a falta de química entre o elenco, e é triste notar que se no início essa proximidade tivesse se mostrado mais palpável – como agora –, estaríamos loucos e rasgando elogios para tudo. Paul ainda é atormentado por mentir para si próprio e os demônios de Ani ecoam de um passado mais distante e cruel. Juntos, os dois deixam de lado os fantasmas pessoais e entram de cabeça na investigação, dinamizando a trama ainda que tarde demais.

Novamente, o que era para ser a sequência chave do episódio empalidece diante das saídas fáceis. Sério mesmo que ninguém se importou com o conveniente encontro entre Ani e a garota “desaparecida” justo na festa? E a fuga quando tudo parecia perdido? Parecia um momento de obra pulp de tão tosca que foi. Sim, aplaudo a escolha narrativa do Miguel Sapochnik ao embaçar a caminhada de Ani pelos corredores evocando justo a sua relação com o sexo, porém isto não apaga a sensação de que “poderia ter sido melhor”. A sorte é que logo após essa escorregada, o espetacular Black Maps and Motel Rooms toma a frente como uma das melhores horas da série junto da finale do primeiro ano.


Paul Woodrugh e Taylor Kitsch foram as maiores surpresas de True Detective. Com uma jornada incompleta de herói trágico, o patrulheiro que lá na première parecia esconder algo sombrio, nunca foi mais do que um homem assombrado pela falsa liberdade que escolheu viver. As mentiras que Paul contava para si mesmo não afetaram seu caráter, porém deixaram frestas para os homens maus da história de Pizzolatto se fazerem presentes. Os carrascos do personagem foram parte do universo de Woodrugh por anos, mas ele nunca julgou ninguém até descobrir os papéis na delegacia. Assistir a luta que ele travou naqueles túneis foi dos momentos que me deixaram triste por não ter encontrado prumo na temporada. True Detective tinha tudo para ser tão grande quanto aqueles minutos finais.

O desmanche do “reinado” de Frank também foi digno de nota, não por Vince Vaughn, claro, porém mais pela sensação que a condução das cenas conseguiu evocar. Somando-se isto às despedidas de Ani e ao pedido de perdão de Eliot Bezzerides, parecia mesmo que eu estava vendo o monstruoso senso de convergência da outrora brilhante antologia prometida pelo showrunner.

De pé no antagônico conto sobre a lama criminal de L.A., só restam Velc e Ani. As duas almas que se confortaram de forma torta, num pequeno instante de alívio. As duas almas que, ao que tudo indica, estão prestes a encontrar seu derradeiro desafio. Uma rodovia nunca foi tão cheia de monstros. E True Detective nunca esteve tão próxima de dar a volta por cima. Estou sinceramente surpreso, e vocês?

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