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[Resenha] 1984


Existem certos livros sobre os quais não ouso comentar. O motivo? Medo de não fazer-lhes jus. 1984 é um desses livros. Um dos maiores clássicos do século XX, o livro figura facilmente entre minhas obras favoritas, e é simplesmente obrigatório. 1984 não precisa de leitores; os leitores precisam de 1984.

O clássico distópico de George Orwell conta a história de Winston Smith, um homem que vive na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão. Smith, entretanto, encontra uma forma de resistência em seu romance com Júlia e começa a nutrir o ideal de uma revolução.

1984 é um retrato pavoroso de fascismo e totalitarismo. A conclusão mais óbvia, e ainda assim terrivelmente assustadora, é que Orwell já vivia em uma sociedade cheia de elementos da dominação, e isso nos leva a perguntar: em que tipo de mundo nós, quase 70 anos após a publicação desta obra-prima, estamos vivendo?

Os sociólogos Adorno e Horkheimer criticaram a indústria cultural ao definirem os meios de comunicação de massa como instrumentos de dominação e de “violência simbólica”. A trama de 1984 ilustra um dos melhores exemplos deste conceito. No livro, a mídia tem papel definitivo no controle sobre a população, que sofre de um processo estarrecedor semelhante à hipnose. Todo o povo da nação de Oceânia parece cego ao exterior, aos absurdos dos discursos e mesmo às contradições de suas crenças – uma das cenas mais incríveis descreve o momento em que o Estado em constante guerra muda abruptamente de aliança bem no momento de uma passeata, que por sua vez instantaneamente muda de foco também.

Orwell escreve com simplicidade, mas entrega socos no estômago fortes o suficiente para assombrar para sempre o leitor. Todo o último terço do livro é dedicado a destruir emocionalmente seu público. Não há quem deixe de se comover e de se assustar com estas páginas finais. 1984 demonstra a fragilidade do correto entre o jogo de poderes, na qual a justiça sempre sai perdendo no meio da luta do poder pelo poder.

Fazendo uma profunda análise sobre a racionalização das relações humanas e a solidão, bem como a dominação ideológica, George Orwell constrói em seu magnum opus uma visão aterradora do mundo moderno. Afinal, o totalitarismo é sempre tão claro quanto se concebe? Seria 1984 uma mera crítica à violência do regime stalinista, vigente na época de sua publicação, ou uma elaborada referência à crescente influência da mídia na vida da população? Seja como for, 1984 é uma obra para ser venerada e analisada. Não é um livro de emoções fáceis: ao chegar a sua última página, é impossível não sentir um misto de medo e fúria, tanto pela ficção como por sua base na realidade.

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