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Crítica | A Chegada


A Chegada é o novo filme do diretor Denis Villeneuve (Sicario: Terra de Ninguém) que estreia nos cinemas brasileiros. O longa, escrito por Eric Heisserer (Quando as Luzes se Apagam), é baseado no livro Story of Your Life, de Ted Chian, e protagonizado por Amy Adams (Batman Vs Superman: A Origem da Justiça), Jeremy Renner (Capitão América: Guerra Civil) e Forest Whitaker (Rogue One: Uma História Star Wars).

O filme é uma ficção científica que conta a história da Dra. Louise Banks (Adams), uma professora especialista em linguística que se vê no meio de uma situação de emergência quando naves alienígenas pousam na Terra. Sem demonstrar nenhuma pretensão de se comunicar com os humanos, a Dra. Banks é convocada pelo exército americano para tentar estabelecer um diálogo com os misteriosos visitantes. Contando com a ajuda do físico Ian Donnelly (Renner), Banks inicia um delicado processo de desvendar o que, afinal, os extraterrestres querem em nosso planeta.

Apesar da temática sci-fi, essa história não é sobre aliens e nem chega a ser uma distopia. Estamos diante de um drama extremamente bem escrito sobre a humanidade. Em tempos de Black Mirror e o pior que há em nós, A Chegada aborda o que há de melhor em nós, nossa capacidade de comunicação, de empatia pelo próximo, de tentar entender desde o mais básico possível, de viver a vida mesmo sabendo que não há só alegrias em nosso caminho. Em tempos onde ninguém dialoga, onde excluímos do Facebook qualquer um que não nos agrade, onde perdemos a capacidade de ouvir. A Chegada consegue ir na contramão de tudo isso para mostrar como buscar entender o outro é algo natural entre os seres humanos, se dermos uma chance.

O diretor Denis Villeneuve consegue colocar um clima de suspense, sem deixar de lado o drama pessoal da protagonista, a perda da filha, que rege toda a história. Amy Adams apresenta uma atuação sólida e a direção privilegia sua interpretação, destacando a atriz em diversos pontos do longa onde a ação ocorre fora de campo. A construção dessa personagem é feita de forma tão delicada, e ao mesmo tempo profunda, que acreditamos nela e em tudo que ela tenta fazer ao longo do filme. Claro que nem todos estão dispostos a tentar entender o que os aliens querem, e a opção da guerra é uma constante, colocando a Dra. Banks numa corrida contra o tempo. O tempo aliás, é um dos elementos mais importantes do filme, os aliens parecem ter outra percepção e sua linguagem altamente complexa se torna o desafio de Banks, que precisa decifrá-lo se quiser evitar uma catástrofe.

A Chegada mergulha o espectador em sua história rapidamente, graças a uma excelente montagem, que aprofunda nossa empatia pela protagonista, dividindo a tela entre seu drama pessoal e sua missão. A fotografia, sempre em tons cinzentos, é mais um ingrediente de imersão nesta história, porém o filme se torna colorido em momentos bem específicos em função da narrativa. O terceiro ato é o mais instável do longa, talvez devido à complexidade da ideia que quer ser mostrada. Isso seria algo ruim em vários casos, mas aqui se torna um motivo para o filme ficar na sua cabeça após o final, gerando diversas reflexões que eu confesso ainda não ter terminado de pensar.

Enfim, o tema sci-fi é apenas a ponta do iceberg nesta complexa obra do diretor Denis Villeneuve. A Chegada é muito mais do que um filme sobre invasão alien, é um filme sobre a vida, sobre entender o outro, se comunicar, amar... Coisas simples que, às vezes, deixamos de lado. O personagem de Jeremy Renner diz em determinado momento que "falaria mais o que sente" se pudesse. E quantas vezes nós não fazemos isso? A Chegada nos lembra que não importa quem somos, estamos todos no mesmo barco. E isso não é algo ruim.

Está aí um filme que merece ser visto. Um drama de qualidade daqueles que justifica uma ida ao cinema. E não deve sair da cabeça do público tão cedo, ao contrário de tantas outras produções em cartaz.

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