Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam

Animais Fantásticos e Onde Habitam abre a nova franquia baseada no universo de Harry Potter nos cinemas, com roteiro escrito por J.K. Rowling e direção de David Yates (que também dirigiu os últimos quatro filmes da saga do bruxo mais famoso do mundo). Com pretensões de ter até cinco filmes, o longa vem com a missão de introduzir novos personagens em uma história que se passa muito tempo antes do nascimento do menino-que-sobreviveu, em tempos onde o perigo que rondava o mundo da magia atendia pelo nome de Grindelwald e não você-sabe-quem.

Nova York. Década de 1920. Somos apresentados ao atrapalhado bruxo britânico Newt Scamander (Eddie Redmayne), ex-aluno da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e dono de uma mala recheada de criaturas que dão título ao longa-metragem. A confusão começa quando esta mala é trocada pela de Jacob Kowalski (Dan Fogler), um trouxa - ou não mágico, como dizem os americanos - e grande responsável pelos momentos mais engraçados nos 133 minutos de duração da história. Com ajuda da ex-auror Tina (Katherine Waterston) e sua irmã Queenie (Alison Sudol), Newt buscará recuperar os monstros que agora se escondem pela grande selva de pedra.

Animais Fantásticos e Onde Habitam apela para a nostalgia desde seus primeiros minutos ao som da trilha clássica de John Williams. Ouvir termos como "trouxa", "Hogwarts" e "Alvo Dumbledore" farão os fãs antigos da franquia se sentirem em casa rapidamente. Descobrir esses Estados Unidos bruxo é o grande mérito do filme na questão criativa. Vemos novas regras, novos sistemas de governo entre outras coisas da vida bruxa em Nova York. Quem não é familiarizado com o mundo de Harry Potter vai descobrindo tudo na hora mesmo, entendendo aos poucos que existe uma comunidade bruxa se mantendo em segredo.

Apelar para a nostalgia é uma boa estratégia, e é inegável que os quatro protagonistas apresentam um carisma que é suficiente para levar o filme até o final. As diferenças quanto à história original são muitas, como o elenco mais velho, por exemplo, mas o que mais faz falta é aquele mistério e suspense que Harry Potter tinha de sobra. Ninguém vai sentir medo assistindo Animais Fantásticos e Onde Habitam, o filme é uma grande sessão da tarde, com o privilégio de fazer parte de um dos melhores universos fictícios que surgiram nos últimos tempos. Nem mesmo o vilão Percival Graves (Colin Farrell) chega a assustar como outros bruxos já fizeram. Os tempos parecem ser mais civilizados até mesmo para os bruxos das trevas. Ezra Miller, na pele do jovem Credence, entrega a atuação mais peculiar e é o mais próximo a causar certo desconforto no público, mas nem de perto com o que já foi visto no passado (ou futuro) da franquia.

David Yates entrega uma direção que não compromete, mas também arrisca poucos momentos mais criativos, principalmente quanto ao uso do 3D, assim como a fotografia. É de se esperar um texto mais maduro em determinados momentos da história, o que não acontece. J.K. Rowling parece mais interessada em mostrar com leveza esse novo mundo de possibilidades que, apesar de flertar com algo sombrio, favorece os elementos mais evidentes da saga original: a amizade, a bondade e, é claro, o amor.

Animais Fantásticos e Onde Habitam não é pretensioso e se agarra ao carisma de seus protagonistas para encantar o público. Aqui não falo apenas dos bruxos, mas também dos animais, que roubam a cena em diversos momentos, de engraçados a constrangedores, o que lembra muito o clima dos primeiros livros da série Harry Potter. Se as continuações vão adentrar em um clima mais sombrio, só o tempo dirá. Mas a falta de trevas e maldade não é o problema principal do filme, o problema é desenvolver um mistério que envolva o espectador do começo ao fim.

Com falhas de ritmo, o roteiro peca nisso, o que não estraga a experiência de retornar ao mundo mágico de Harry Potter. Ele apenas não aproveita todo o potencial possível. De qualquer forma, os fãs antigos vão amar muitas coisas e referências que aparecem o tempo todo, enquanto o público novo vai descobrindo um mundo rico em detalhes e ganha o privilégio de conhecer a magia por um outro olhar.