Crítica | Star Trek: Sem Fronteiras
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“O espaço, a última fronteira...”. Mais do que nunca (ao menos
dentro do reboot cinematográfico),
esta frase faz todo o sentido na saga da tripulação da USS Enterprise, tendo em
vista que, uma vez atravessada a última fronteira, não existem mais fronteiras.
Finalmente retratando a jornada de cinco anos na qual o Capitão James T. Kirk
(Chris Pine) e sua equipe exploram estranhos mundos buscando novas mundos e
novas civilizações, Star Trek: Sem Fronteiras se afirma como o capítulo mais
divertido da nova franquia.
Após cumprir três dos cinco anos
da missão no espaço, a tripulação da Enterprise desembarca na estação espacial
Yorktown para reabastecimento e para que seus tripulantes tenham um tempo de
descanso. Nesse ínterim, Kirk recebe uma oferta de promoção à Vice-Almirante,
com a condição de abdicar da função de capitão da Enterprise e assumir o
comando de Yorktown. Enquanto isso, Spock (Zachary Quinto) recebe a notícia do
falecimento do Embaixador Spock (Leonard Nimoy), o que o abala profundamente
por ser um dos últimos de sua raça.
Passado algum tempo, a Enterprise
recebe a missão de resgatar uma nave que se encontra em Altamid, um planeta
encoberto por uma nébula. Mal sabe Kirk que era apenas uma armadilha planejada
pelo perigoso Krall (Idris Elba), um mutante que comanda uma instalação
fortificada em uma área remota do planeta. Com a Enterprise danificada e a
tripulação separada em diferentes cantos de Altamid, Kirk precisa reunir seus
colegas de farda a tempo de impedir os planos terroristas de Krall.
Assumindo a direção do novo longa no lugar de J.J. Abrams (que continua na franquia como produtor), o cineasta
Justin Lin, conhecido por ter dirigido a maior parte dos filmes da série
Velozes e Furiosos, não se deixa intimidar com o desafio de substituir Abrams e
entrega um filme tão sólido e empolgante quanto seus dois antecessores. Lin demonstra
competência tanto em pequenos detalhes quanto nas cenas grandiosas. Reparem
na conversa que Kirk tem com McCoy (Karl Urban) no bar da Enterprise, carregada
com uma dose de introspecção que pouco víamos na obra de Lin. E aqui o diretor
entrega algumas das mais grandiosas sequências de sua carreira. A sequência da
batalha final embalada pela música Sabotage, dos Beastie Boys, é desde já uma
das mais memoráveis do ano.
Com roteiro de Simon Pegg e Doug
Jung, Star Trek: Sem Fronteiras se diferencia dos anteriores por investir mais no
tom aventuresco e nas situações de humor. Não deixa de ser curiosa, por
exemplo, a forma como a tripulação se divide depois que a Enterprise é abatida,
permitindo que o filme tenha um ritmo agradável e que os personagens tenham
praticamente o mesmo tempo de tela: Kirk e Chekov (Anton Yelchin); Uhura (Zoe
Saldana) e Sulu (John Cho); Scotty (Simon Pegg) e Jaylah (Sofia Boutella), uma
alienígena que também está presa em Altamid; e, especialmente, Spock e McCoy. Destaco
a última dupla, pois, para quem já acompanha a nova franquia ou é um Trekker
inveterado, Spock e McCoy exercem enorme influência (cada um à sua maneira) na forma
como Kirk comanda a Enterprise. Enquanto Spock é mais racional, McCoy é impetuoso,
o que faz com que os dois tenham muitos conflitos. E algumas das partes mais
engraçadas do filme acontecem justamente quando os dois são obrigados pelas
circunstâncias a conviverem se caso quiserem sobrevier.
Contudo, o filme encontra seus
problemas na hora de estabelecer sua principal ameaça. Demoramos muito a
entender o que leva Krall a agir da forma que age. Sem contar que, uma vez que suas
motivações são expostas, elas são mal explicadas e não funcionam para levar a
história adiante. Não nos identificamos com os intentos do vilão, por mais que
a atuação de Idris Elba seja espetacular. Prejudicado no início com a maquiagem
carregada de Krall, o trabalho de Elba fica mais expressivo e marcante à medida
que o personagem troca de face (e a maquiagem não interfere tanto em sua
performance).
Mais confortável do que nunca na
pele do Capitão Kirk, Chris Pine nos convence da experiência e da segurança que
o capitão possui, atuando como um verdadeiro líder. Zachary Quinto, Karl Urban e Simon Pegg são responsáveis por boa parte das risadas, funcionando como
eficientes alívios cômicos. John Cho e Zoe Saldana defendem bem seus
personagens, exibindo a competência marcante de Sulu e a personalidade forte de
Uhura. Em uma de suas últimas atuações no cinema, Anton Yelchin (falecido em junho deste ano) tem a
oportunidade de mostrar a bravura de Chekov e sua lealdade a seu capitão, fazendo do personagem uma das criações mais marcantes do ator. No
entanto, o destaque do elenco é Sofia Boutella, que, como Jaylah, cria uma personagem única e
forte que o público dificilmente esquecerá.
Investindo em uma alta dose de
aventura e se levando menos a sério do que seus antecessores, Star Trek: Sem
Fronteiras é um filme divertido e tocante, principalmente devido aos discretos
tributos à Leonard Nimoy e Anton Yelchin. A esperança que fica é de que possamos acompanhar mais aventuras de Kirk e sua tripulação e que a franquia possa ser tão
audaciosa quanto o seu material de origem.