loggado
Carregando...

Crítica | Nerve - Um Jogo Sem Regras


Baseado no livro de Jeanne Ryan, Nerve - Um Jogo Sem Regras é um thriller da era digital. No início do filme somos apresentados à personagem principal, Vee (Emma Roberts), uma adolescente comum que está cursando o último ano do ensino médio e que não gosta muito de se arriscar, preferindo, por exemplo, apenas observar de longe o cara que ela gosta ao invés de tentar falar com ele.

Nesse contexto aparentemente comum ficamos sabendo da existência de um aplicativo de celular, o jogo Nerve, que é um enorme sucesso entre os amigos de Vee e com os jovens em geral. Ao acessar o aplicativo pela primeira vez a pessoa pode escolher entre ser um espectador ou um jogador. Os espectadores pagam para assistir as transmissões, enquanto que os jogadores se inscrevem de graça e devem cumprir com os desafios que aqueles que estão assistindo propõem. Para que o desafio seja considerado cumprido ele deve ser gravado do celular do jogador, e assim poder ser transmitindo a todos que quiserem assistir. Caso consiga cumprir e gravar tudo, o jogador ganha uma quantia em dinheiro correspondente à dificuldade do desafio completado. Devido a alguns fatores apresentados logo no início, Vee decide se inscrever no jogo e, por causa disso, ela é apresentada ao outro personagem principal do filme, Ian (Dave Franco). Os dois se conhecem devido a um desafio e depois disso são “forçados” a cumprirem certas tarefas juntos, e é assim que se origina a relação deles.

O ponto mais marcante do longa é a sua velocidade. Desde a sequência de abertura, que se resume a uma infinidade de janelas de computador sendo abertas e minimizadas enquanto Vee faz várias coisas ao mesmo tempo, até o momento em que ela e Ian estão quase pelados fugindo de uma loja de grife, ou então quando estão pilotando a moto em alta velocidade. Tudo acontece muito rápido. O ritmo do filme nunca fica cansativo e pequenas cenas de diálogos mais calmos aparecem aqui e ali para que essa velocidade não se torne problemática. O andamento é muito bem planejado e deixa o público preso ao que está acontecendo.

Nerve - Um Jogo Sem Regras também se mostra como uma obra inteligente. O filme aborda de modo interessante temas importantes da atualidade, como a privacidade (ou a falta dela) no mundo virtual e a falsa coragem trazida pelo anonimato. No que tange à privacidade, ele cumpre muito bem a sua proposta e mostra de maneira realista o quanto é fácil descobrir sobre a vida de alguém nos dias atuais, além de mostrar consequências possíveis dessa exposição. Mas é a partir daqui que o longa começa a se mostrar um pouco mais raso.

A questão da valentia que as pessoas adquirem na internet é provavelmente o ponto mais interessante que a obra poderia abordar, mas também é o primeiro a não ser aprofundado. O anonimato nas redes, ou mesmo o fato de as pessoas não estarem fisicamente próximas, gera coragem em pessoas que nunca a tiveram, e é com essa coragem que muitos indivíduos cometem crimes virtuais e propagam discursos de ódio nas redes. Nerve - Um Jogo Sem Regras perdeu uma chance ótima de explorar melhor um tema muito importante para os jovens da atualidade, e isso é uma pena.

Aqui, entretanto, preciso fazer uma ressalva. Tentar se aprofundar na crítica social e levar essas discussões mais a sério nunca foi a proposta do filme. E nem poderia ser, já que a ideia era produzir algo emocionante para um público que quer tudo acontecendo o mais rápido possível. É bem provável também que esse tipo de abordagem mudaria drasticamente a coisa que eu já citei como a mais interessante do longa: o seu ritmo. Entre manter essa característica distinta e bem executada e entrar mais a fundo na discussão dos problemas da atualidade (o que poderia tornar o filme mais denso e menos atrativo do ponto de vista comercial), provavelmente a decisão tomada foi a certa. De qualquer modo, ainda é um desperdício de potencial.

Outro ponto não positivo são seus personagens. Era de se esperar que uma obra que visa o público jovem se esforçasse para sair dos clichês e tentasse dar mais profundidade às pessoas que ela está representando, mas não foi isso o que aconteceu. O amigo nerd, o jogador de futebol bonito e babaca, todos esses personagens estão presentes, e mesmo os personagens principais não se destacam muito no que se refere às suas personalidades. Nesse sentido é preciso ser dado crédito para a dupla de atores principais: Emma Roberts e Dave Franco conseguiram tornar dois personagens não muito únicos em pessoas interessantes, capazes de cativar o público. A química entre os dois é ótima e as atuações deles são muito satisfatórias.

Mas os personagens, infelizmente, são apenas um sintoma do problema principal: o roteiro. A primeira metade do filme é ótima, e mesmo que os motivos para que Vee participe do jogo não sejam os melhores, é a metade inicial do longa que faz tudo valer a pena e gruda os olhos do espectador na tela. Infelizmente a história se perde um pouco, os problemas crescem muito e muito rápido, de modo que o final acaba sendo decepcionante por isso. Mesmo tendo uma reviravolta interessante, tudo acaba soando mais fácil do que deveria.

Nerve  - Um Jogo Sem Regras é um bom filme e com certeza deve ser assistido pelo público mais jovem. O ritmo mais acelerado pode ser apreciado por todos, mas a sua temática acertará em cheio os adolescentes. Contanto que você não vá ao cinema esperando uma crítica muito forte da era digital, ou que tenha grandes expectativas de ver uma obra-prima, ele cumprirá o papel de te entreter e você sairá da sala de cinema feliz e com vontade de mudar as especificações de privacidade do Facebook.

Nerve - Um Jogo Sem Regras 4453695163370728449

Postar um comentário Comentários Disqus

Página inicial item