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Review | Game of Thrones 6x04/05 - Book of the Stranger/The Door


Para além das portas do tempo.

Quando Game of Thrones se propõe a aparar arestas, ousar e seguir em frente com os plots mornos de uma temporada, a gente acaba ganhando espetáculos televisivos como nenhum outro produzido pela TV contemporânea. Book of the Stranger e The Door são duas horas diametrais, mas que guardam no fator espetáculo uma dramaturgia que emociona, empolga e assombra pelo empenho dramático quase cirúrgico despendido pelo roteiro da série. São dois episódios que terminam com pontas elementais: uma delas representadas pelo ultimato de fogo de Daenerys, já a outra representada pela sombra gelada do Rei da Noite. A Canção de Gelo e Fogo volta a tocar outra vez e a certeza que fica é a de que nunca estivemos tão perto das respostas definitivas para os maiores mistérios do show.

O reencontro emocionante de Sansa e Jon e a última jogada de Ramsay no Norte de Westeros aqueceu e despedaçou nossos corações, respectivamente. Eu detestei o que fizeram com a Osha simplesmente pelo fato de que aquele fim descaracterizou tudo o que a personagem representou desde que apareceu na série, afinal ela nunca arriscaria ser pega pelo Ramsay daquela forma. Infelizmente foi do pior jeito que escolheram finalizar a sua jornada. No entanto, se os roteiristas erraram ao deixar a trajetória de uma personagem promissora ter um fim tão preguiçoso, eles acertaram e muito ao fortalecer Sansa. Eu sou só elogios para as atuações de Sophie Turner e Kit Harington porque os atores encarnaram o sentimento de pertencimento da forma mais humana possível. Porém, é Turner que vai além ao expor todo o desejo de vingança que a consome, sem perder a postura honrosa tão característica dos Stark.

Em Meereen, finalmente foi dada a chance de Tyrion articular como um real membro do conselho de Daenerys ao deixarem o pequeno Lannister resolver o impasse com os senhores de escravos e os filhos da harpia. Foi a primeira vez na temporada que eu comprei de verdade a trama na cidade justo por ela começar a fazer sentido no panorama geral do sexto ano. Também foi ótimo que o texto utilizou das dúvidas de Missandei e Verme Cinzento para embasar a jogada do anão. Assim, os personagens passaram a fazer uma diferença que há muito tempo não era sentida por nós.

Na mesma linha de validação e importância, o mesmo pode ser dito sobre Pyke e os seus Greyjoy. O pedido de desculpas de Theon para a irmã deu espaço à redenção do personagem, e encarar as consequências do perdão velado dado por Yara no episódio seguinte é a maior prova do cuidado dramatúrgico que eu mencionei anteriormente. Essas reverberações, inclusive, podem ser vistas também num outro ponto da quarta hora, quando retornamos ao pequeno conselho de Porto Real só para ganharmos um inspirado twist que coloca inimigos mortais unidos por uma aliança contra uma ameaça maior, o Alto Pardal. É uma consonância de tramas tão rica que instantaneamente eu fico querendo colocar Game of Thrones no topo dos Melhores do Ano no mundo das séries quando ainda nem chegamos na metade dele.

Para justificar de forma épica os elogios acima, Book of the Stranger ainda consegue colocar Daenerys numa sequência que por mais requentada – me desculpem o trocadilho – que possa parecer, ainda nos deixa atônitos e de queixo caído. A gente já viu Dany provar o seu poder várias e várias vezes, e sim, eu já cansei um pouco de todo o alarde que se faz em torno disso. Só que eu não posso negar que ter posto fogo no templo das Dosh Khaleen com todos os Khal dentro foi a jogada mais maluca e intensa da Mãe dos Dragões. É impossível não se arrepiar quando os khalasares de Vaes Dothrak se ajoelham perante ela, e eu só peço uma coisa a partir de agora: Por favor moça, vai logo para Westeros!


Eu não estava preparado para o que aconteceu em The Door. Quer dizer, quem é que estava preparado para o que aconteceu em The Door? O conceito das visões verdes foi explicado sucintamente pelos Reed lá na quarta temporada, mas só agora podemos compreendê-las de uma forma mais abrangente. Bran, como o sucessor do Corvo de Três Olhos, não tem só o poder de caminhar pelo tempo, ele é o agente propulsor do conceito na série. Das várias teorias que existem sobre as possibilidades de viagens no tempo, as mais incríveis para mim são aquelas que fogem dos temidos paradoxos, e fico feliz de perceber que é justo neste pilar que Game of Thrones vai apoiar seu enredo mais fantástico até aqui.

No entanto, antes de chegar ao cliffhanger mais doloroso desde a morte de Ned na primeira temporada, temos que desfiar um pouco do que está prestes a se desenrolar na série. Não existem mais retornos, ou Pointy Ends, como o próprio George R.R. Martin gosta de chamar. A partir de agora entramos nas descidas e loopings da montanha-russa orquestrada pelos showrunners de Game of Thrones. Os Greyjoy partem numa busca desenfreada pela Rainha dos Três Dragões, os Stark buscam o exército definitivo para acabar de vez com a ameaça de Ramsay Bolton, Daenerys segue para uma última visita a Meereen e Arya parece finalmente estar diante da última lição do seu treinamento. Todos eventos bem conduzidos, porém mínimos diante das sequências mitológicas que foram planejadas para intercalar os momentos elencados.

Afinal, descobrimos a origem dos White Walkers numa reviravolta Criador vs. Criatura que me deixou boquiaberto e, talvez, tenhamos começado a entender o papel de Bran no jogo dos tronos. Foi espetacular todos os flashes conferidos pelo Stark quebrado, com um destaque maior para a marca deixada pelo Rei da Noite e, claro, para a comovente história de Hodor. A última vez que o destino como fator temporal imutável tinha me emocionado tanto foi durante as explicações dadas para os eventos desse gênero na quinta – e subestimada – temporada de Lost. Por coincidência ou não, foi justo Jack Bender – o principal diretor de Lost – que também comandou esse The Door.

Hodor foi a vítima do destino aqui. A colisão de consciências que fez o jovem cavalariço perder a sanidade no passado aconteceu para garantir que ele estivesse pronto para Segurar a Porta no futuro. Um looping temporal tão triste e sombrio que a minha única reação ao entender tudo o que estava se desenrolando na cena final do episódio foi a de disparar no choro. É engraçado confessar isso aqui, mas eu costumo chorar de verdade quando percebo que um produto, cuja função é de puro entretenimento, atravessa barreiras emocionais que nem podem ser expressas em palavras. E eu senti isto em Game of Thrones.

O compromisso que a metade final do sexto ano tem a partir de agora nem pode mais ser comparado com promessas de outrora. A maior série da história dá um passo rumo ao desconhecido sem medo das portas que estarão trancadas, pois ela sempre consegue abri-las. Game of Thrones foi além pela primeira vez, meus caros, e isso é para poucas séries no ar. Que orgulho de poder viver tudo isso!

P.S.1: Margaery mais esperta do que Cersei. Quem poderia prever?

P.S.2: Mindinho, o homem mais rápido de Westeros, continua patinando por vários núcleos sem propósito maior. Pelo menos ganhamos aquele esculacho bem dado pela Sansa.

P.S.3: E essa nova sacerdotisa vermelha? A moça intimidou o Varys, minha gente. Olhem a moral.

P.S.4: Peixe Negro reconquistou Correrrio. Guardem essa informação, pois ela será bem importante.

P.S.5: Tenho tanta antipatia pelo Euron quanto tinha nos livros. Sou team Yara! 

P.S.6: Hold The Door!”, ou a frase mais triste de 2016.


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