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Review | Game of Thrones 6x02 - Home

O que está morto não pode morrer.


O que está morto não pode morrer.

Rasgar convenções e apoiar sua narrativa num misto de imprevisibilidade e desesperança foi algo que Game of Thrones sempre fez bem ao longo de cinco anos. Uma hora ou outra, cada um de nós espectadores deve ter se pegado revoltado com alguns dos mórbidos destinos traçados tanto por George R.R. Martin quanto pelos showrunners D.B. Weiss e David Benioff. Quando é dito que a série – diferente dos livros – está entrando na sua reta final como história, é preciso aparar arestas, optar pela objetividade e empurrar o pé no acelerador. Assim, já na segunda hora da sexta temporada não sobra espaço para preparação ou cozimento de tramas que, se estendidas um pouco além da conta, acabariam sabotando o DNA do próprio show. Até porque não há nada de imprevisível no retorno de Jon Snow, e postergar uma volta telegrafada desde a chegada de Melisandre na Patrulha da Noite só colocaria uma penca de plots promissores sob a sombra de uma trama que poderia ser resolvida facilmente.

Desta forma, a edição de Home sabiamente desconstrói toda e qualquer expectativa de movimentação em um núcleo só ao mostrar que muita coisa está acontecendo por Westeros além dos twists da Muralha. Na medida em que Sansa descobre sobre o real destino de Arya e perdoa Theon numa sincera despedida, Ramsay nos dá a derradeira prova de que por muito tempo o finado Joffrey levou injustamente o título de personagem mais hediondo da série. Tensa e realmente assustadora, a cena em que o bastardo Bolton assassina a própria família a sangue frio entra fácil para a lista de momentos mais cruéis – e olha que estamos falando de Game of Thrones – de todo o show. Foi de arrepiar também optarem por rimar visualmente o último momento de Roose Bolton com a sequência que sublinhou o seu nome na série, o Casamento Vermelho. Rob Stark finalmente foi vingado numa deliciosa ironia do destino.

Voltarmos brevemente ao lar dos Homens de Ferro pode até parecer deslocado – e deixo claro que tenho medo de uma Dorne 2.0 –, mas pondo na balança do espetáculo visual a morte de Balon Greyjoy, o último dos cinco reis, foi um verdadeiro desbunde. Acertaram na introdução de Euron e só isso já é o suficiente para esquecermos um pouco das comparações com a preguiçosa terra de Oberyn. No entanto, quem leu as Crônicas de Gelo e Fogo sabe muito bem que a disputa pelo trono de sal se mostra um desvio que até hoje não se justificou nos livros e eu não sei se a essa altura do campeonato cabe algo tão “novo” num universo já inchado de subtramas. Acho que, assim como no ano passado, vou dar um prazo de cinco episódios para justificarem Pyke porque a gente não está disposto a perder tempo.

Que os deuses novos e antigos sejam louvados, pois Meereen me fez vibrar novamente! Ninguém merece perder tempo com as caminhadas de Tyrion e Varys recapitulando o que a gente já sabia sobre todos os eventos da série. Logo, trazer o anão usando da sua sabedoria – “Eu bebo vinho e sei das coisas. É isso o que eu faço” – para libertar Rhaegal e Viserion me fez abrir um sorriso daqueles. O cuidado técnico com toda a cena não só reforça a predileção por espetáculos visuais que Game of Thrones sempre demonstrou ter, como também estabelece o cuidado do roteiro com os pequenos detalhes. E aqui vale falar do retorno de Bran, que em visual continua nos tirando o fôlego como da última vez em que o vimos. O treinamento com o Corvo de Três Olhos pode até parecer arrastado num primeiro momento, só que a rima das visões verdes do passado de Winterfell com a primeira cena dos Stark lá na primeira temporada, só me fez admirar ainda mais tudo o que foi planejado e executado na forma de narrativa dentro do show.


Mesmo prevista de todas as formas possíveis, nada conseguiu diminuir a poderosa cena da ressurreição. Desde o prólogo no começo do episódio com a prisão de Alliser Thorne e Olly – que já podem ter um fim pelas mãos do gigante Wun Wun – até o momento do ritual em si, o diretor Jeremy Podeswa conseguiu deixar uma marca única. Eu nunca pensei que conseguiria sentir por Melisandre depois de ter assistido a sacerdotisa pôr fogo na princesa Shireen, porém pela primeira vez dentro da adaptação, enxerguei a personagem dos livros na forma da atriz Carice van Houten e isto contribuiu muito para a condução da emblemática sequência. Um leque de possibilidades foi aberto com aquele despertar e acho sim que o profetizado Azor Ahai é o nosso João das Neves!

Com tanta coisa acontecendo, era de se esperar que alguma delas se perdesse em cinquenta minutos. Mas coroando a excelência deste segundo episódio, os Lannister de Porto Real conseguiram ficar com o prêmio de melhores diálogos. Cersei e Jaime juntos e sem impedimentos contra o fundamentalismo do Alto Pardal vai ser daqueles embates que só Game of Thrones consegue entregar. A sensação de urgência imposta pelo roteiro vai nos deixando na ponta da cadeira e acaba sendo impossível não alimentar o monstro da expectativa pelo que vai vir.

Novamente as promessas são muitas e novamente nós iremos cobrar o máximo da série. O bom é saber que, no fim, Game of Thrones sempre paga as suas dívidas... Para o bem e para o desespero das nossas unhas roídas com tanto suspense. Haja dedo até o fim  da temporada, não é mesmo?

P.S.1: A gente espera encarecidamente que a trama de Arya dê uma movimentada agora que ela vai retornar para Casa do Preto e Branco.

P.S.2: Se depender da guarda pessoal da Cersei, vai ser pouca parede para muitos miolos estourados em Porto Real.

P.S.3: Aquele Filho da Floresta cresceu tão rápido quanto o Bran ou foi só impressão minha?

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