[Fora de Cena] Incêndios
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“Agora que estamos juntos, melhorou.”
A frase supracitada não pertence
ao roteiro do filme. Essa crítica abusa um pouco e menciona também a
peça, montada no Rio de Janeiro (Teatro Carlos Gomes) e encenada pela grande
Marieta Severo. Quando assistimos um filme, ou uma peça teatral ou ainda quando
ouvimos uma música, uma frase sempre chama nossa atenção. Uma frase sempre nos
marca. “Agora que estamos, juntos melhorou” é a fala da personagem Nawal Marwan
(Marieta Severo na peça) e de seu amado Wahab. É a frase
que marca a personagem ao longo de sua vida e ajuda a construir toda
significação da trama da peça.
Ao contrário do cinema o teatro possui apenas o palco para relatar uma história que se passa em tantos lugares e
tempos distintos. É necessário mexer com a imaginação de quem assiste. Fazer com
que imagine, com que sinta da maneira mais profunda possível. O teatro tem esse
belo dom de nos permitir ir além do que é apresentado. O filme, por sua vez, é
capaz de mostrar com mais precisão fatos que no palco foram apenas mencionados,
causando um maior impacto, mas de certa forma limitando nossas possibilidades
imaginativas.
Há prós e contras, por isso, caro
leitor, se você tiver a oportunidade de fazer ambos, ir ao teatro e ver o
filme, não se limite a apenas um. Impacto. Choque. São as palavras-chave que
definem o filme, que se baseia nesses elementos. Já fica claro com a cena
inicial: vários garotos tendo seus cabelos raspados, sendo preparados para
guerra. E esse olhar:
Somos apresentados então aos
gêmeos Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon Marwan (Maxim Gaudette) durante a leitura do testamento de sua mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal). Além
de uma série de diferentes exigências sobre seu funeral, o testamento revela
também os últimos desejos dessa misteriosa mulher. Jeanne deve encontrar seu
pai, que até o momento o tinha como morto, e entregar a ele uma carta. Simon deve
encontrar seu irmão, que até aquele momento não sabia que existia, e entregar a ele uma carta. Ao final disso, uma terceira carta será entregue aos gêmeos.
Para que isso seja possível, é necessário que os irmãos viajem até o Oriente
Médio em busca não só dessas pessoas, mas principalmente do passado de sua mãe,
que mesmo depois de morta revelou-se uma figura bem mais desconhecida do que
eles podiam imaginar.
Paralelo a isso somos
apresentados à história do passado de Nawal, uma jovem apaixonada que tem seu
filho levado embora no dia de seu nascimento. Uma mulher determinada que
cumpriu a promessa de sair de sua pequena vila e estudar para libertar-se da
mediocridade e da ignorância. Uma mulher que fez parte da luta de seu país e
foi capaz de um grande sacrifício por ele. Esses fatos se entrelaçam com a
busca dos dois irmãos, até que descobrem a verdade. Somos inundados por um sentimento forte recheado pela
surpresa e pela intensidade dos fatos. A origem das pessoas, a origem de nós
mesmos, muitas vezes carrega muito mais do que aparenta, significa muito mais
do que inicialmente apresenta. A importância de compreender o passado e
aceitá-lo para, dessa forma, seguir rumo ao futuro.
Esse tipo de história está
aparentemente longe do nosso cotidiano, da nossa realidade. Não possuímos um
histórico tão marcante de guerras, mas também conhecemos dias sangrentos,
também somos capazes de reconhecer o lado mais obscuro do ser humano. É dessa forma uma questão muito mais particular do que aparenta. Reconhecemos essa história no nosso íntimo. Por fim, caro leitor, só me resta
dizer que ao final, seja do filme, seja da peça, você terá outra resposta para
a pergunta “um mais um são dois?”.