[Crítica] Amor em Sampa
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Fato: o cinema brasileiro é um
dos mais ricos em variedade e em temática no mundo. Basta um olhar mais atento
ao que é produzido aqui para reconhecer o quão vasta é a produção cinematográfica
nacional, desde simples comédias até documentários extremamente ambiciosos. E
sendo o Brasil um país de extensões continentais, temos cineastas produzindo
seus filmes em todos os cantos, sobressaindo-se os polos
cinematográficos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Logo, para a surpresa de muitos, temos
um grande volume de produção, composto por obras satisfatórias e irregulares
(assim como qualquer filmografia no mundo). O filme Amor em Sampa é um exemplo
que se encaixa na segunda categoria.
No longa escrito por Bruna
Lombardi, vários personagens e várias tramas paralelas se cruzam durante a narrativa
(repetindo a fórmula já experimentada em O Signo da Cidade, primeiro filme de Carlos Alberto Riccelli como diretor também roteirizado por Lombardi). O taxista Cosmo
(Riccelli) é o narrador e serve como fio condutor da história. Um outrora homem
de negócios que foi afetado por "uma das crises que afeta o país", em suas
próprias palavras, e que hoje dirige um táxi e não abre mão dele, pois rodar
pela cidade de São Paulo é um vício. Temos também Mauro (Rodrigo Lombardi), um
publicitário que se empenha em criar uma campanha de mobilização e
conscientização da população paulistana por uma cidade mais sustentável, ao
mesmo tempo em que busca se aproximar de Tutti (Mariana Lima). Acompanhamos
também a história de Aniz (Bruna Lombardi), uma empresária que anda às voltas com
Lucas (Eduardo Moscovis), desconfiada de que o interesse dele por ela se baseia
em segundas intenções. E por fim, vemos a dinâmica entre a aspirante a atriz
Carol (Bianca Müller) e sua amiga Mabel (Letícia Colin), duas jovens que são
seduzidas por Matheus (Kim Riccelli, filho de Carlos Aberto e Bruna), um charmoso diretor de teatro.
Tecnicamente falando, o filme é
excelente. Carlos Alberto Riccelli e seu filho Kim, ao lado do designer de
produção Frederico Pinto e do diretor de fotografia Marcelo Trotta, demonstram
um esmero e um cuidado estético admiráveis em sua produção. Entretanto, o
roteiro de Bruna Lombardi revela-se confuso em meio às tramas paralelas. A
escrita de Lombardi é claramente inspirada pelos filmes de Robert Altman (que também
envolvem tramas paralelas e grandes elencos) com uma pitada de crônica da
cidade grande, porém a roteirista nos bombardeia com personagens estereotipados
e caricatos como, por exemplo, a suburbana Lara (Miá Mello), com quem Cosmo tem
um caso; a personagem Ceição (Michele Mara), negra em vestes de doméstica cujas
ações são regidas por seus chefes brancos; e o casal Raduan (Tiago Abravanel) e
Ravid (Marcello Airoldi), que reforçam rótulos negativos como se a graça de um
personagem gay residisse no fato de ele ser... gay. Outra escolha narrativa
equivocada de Lombardi é o excesso de números musicais no filme, que não
funcionam organicamente para contar a história. Salvo apenas dois números que
se passam no teatro: um envolvendo as amigas Carol e Mabel; outro envolvendo o
personagem Matheus.
Na pele de seus respectivos
personagens, os galãs Carlos Alberto Riccelli, Rodrigo Lombardi e Eduardo
Moscovis não fazem nada diferente do que já fizeram nas novelas Globais. Tiago
Abravanel, Marcello Airoldi, Miá Mello e Michele Mara são indubitavelmente
intérpretes de talento, no entanto suas atuações não conseguem fazer com que
seus personagens deixem de ser caricaturas, especialmente Mara. Bruna Lombardi,
apesar de talentosa e versátil, não explora o suficiente o potencial de sua
personagem. Kim Riccelli não precisa de muito esforço para ser sedutor ao
interpretar um personagem que cairia como uma luva em seu pai nos tempos da
juventude. As únicas atrizes que se salvam são Mariana Lima, interpretando a
reservada Tutti, e a dupla Bianca Müller e Letícia Colin, que conseguem
divertir através da interação e dos desentendimentos de suas personagens.
Amor em Sampa é uma bem humorada
declaração de amor à cidade de São Paulo. Contudo, é uma pena que certas opções narrativas no filme não façam justiça ao talento e ao esmero de seus
realizadores. E competência é o que não falta para Carlos Alberto Riccelli, Kim
Riccelli e Bruna Lombardi. Torçamos para que os próximos projetos deste trio
sejam ainda mais empolgantes e satisfatórios.