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[Review] The Leftovers 2x07/08/09 - A Most Powerful Adversary/International Assassin/Ten Thirteen


A cada semana que passa se torna mais difícil falar sobre The Leftovers. Odeio fazer críticas negativas em geral, mas odeio especialmente fazer críticas negativas demais ou positivas demais; sempre procuro encontrar uma pequena qualidade ou uma pequena falha, pois é difícil comentar sobre algo ruim demais ou perfeito demais. The Leftovers, entretanto, me faz quebrar regras. E está sendo difícil encontrar novos elogios ou mesmo novos adjetivos para caracterizá-la; a cada episódio, penso estar vendo o ponto alto da série, apenas para, na semana seguinte, ser surpreendido com algo melhor ainda. Certas séries não sabem brincar. E The Leftovers confirma novamente que é a melhor série da televisão atual.


2x07/08 - A Most Powerful Adversary/International Assassin



A primeira impressão que temos de A Most Powerful Adversary é que se trata de um episódio mais objetivo do que estamos acostumados para The Leftovers – por isso, estranhamos. Apesar disso, assim como Lens, A Most Powerful Adversary é uma pequena aula de roteiro: sua abordagem traz uma viagem dantesca pelos infernos pessoais de Kevin, num episódio que parece uma pequena odisseia – e, da mesma forma, é exaustivo, mas recompensador. Sua simplicidade narrativa, novamente direta, consegue criar momentos espetaculares, como os confrontos com Laurie e Patti e a metáfora da algema, demonstrando que Kevin se encontra constantemente preso, e ainda rende alguns planos belíssimos nas mãos de Mimi Leder, que, sem dúvidas, é a alma visual da série.

Contudo, a estranheza prevalece, sobretudo pelo preocupante direcionamento que poderia acabar com a intensa ambiguidade e tornar a série numa narrativa de fato sobrenatural, o que não seria tão positivo. Mas, aí, vem International Assassin. E, se eu me agarrava à insegurança para ter a desculpa de que existe alguma imperfeição em A Most Powerful Adversary, o oitavo episódio age como uma sequência direta para mostrar-nos que nada acontece em The Leftovers sem que uma contribuição maior seja visível no horizonte.

Por isso, é impossível distinguir um episódio do outro: ambos são irmãos, o segundo ressignificando o primeiro (em especial, o seu impactante gancho), unidos para trazer uma trama apoteótica que conta com uma das metáforas mais poderosas que a série já fez, englobando todos os seus vários temas ousados e pesados. Um dos episódios mais angustiantes e ansiosos da temporada, International Assassin poderia facilmente se tornar um exercício de afetação, como nos momentos mais forçados da primeira temporada; em vez disso, se torna uma das coisas mais intrigantes feitas na TV americana neste ano.

International Assassin se desenrola como um pesadelo. Uma tensão inimaginável permeia o episódio, cheio de graves constantes que inquietam imediatamente o espectador. A inserção de "Va Pensiero", o coro do terceiro ato da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, numa provável referência ao Adeus à Linguagem de Godard, cria um clima fantasmagórico; mesmo após se repetir mais de cinco vezes, a música ainda consegue aterrorizar-nos. A direção segura de Craig Zobel é outro fator que tornam International Assassin mais uma pequena obra-prima dentre a coleção de The Leftovers.


Estamos diante de uma das tramas mais ousadas da TV atual. A correlação entre A Most Powerful Adversary e International Assassin é de impressionar qualquer um. É incrível como esta série consegue manter o suspense pairando sobre a cabeça de seus espectadores – mesmo que apenas flerte com o suspense psicológico. The Leftovers prossegue sua sofisticada e impactante segunda temporada nos assombrando, com inúmeros momentos antológicos e ao menos dois discursos poderosíssimos, maximizados pela grande performance de Ann Dowd, refletindo sobre todo o medo e a esperança que sangram de todos os personagens nesta temporada. É impossível não se emocionar com o monólogo final de Patti, no lindíssimo clímax que encerra esta dupla de episódios que, sem dúvidas, capturaram ampla e profundamente a alma da série.

Será difícil escolher um único episódio de destaque para esta temporada – ou mesmo encontrar uma única que me permita descontar meia estrelinha sequer. Eu, que detesto tanto os elogios quanto as críticas rasgados, não posso conferir menos que cinco estrelas para ambos os episódios – totalizando três notas máximas nesta temporada. Se esta não é a melhor série na TV, eu não saberia dizer qual é.



2x09 - Ten Thirteen



Duro, seco e desolador. Talvez como nunca antes em The Leftovers. É assim como eu descreveria o penúltimo episódio da temporada. Com uma sobriedade tensa que beira ao terror psicológico, Ten Thirteen exige nervos de aço de seu espectador – tanto para suportar seu tom denso e sombrio quanto para lidar com tantas informações de tantas ordens diferentes.

Nesta temporada, o espectador tornou-se uma espécie de voyeur de várias tramas extremamente singulares e pessoais. Cada episódio age como um pequeno capítulo de um grande segundo livro, estabelecendo e concluindo suas reflexões particulares – mas jamais garantindo uma espécie de senso de encerramento ou satisfação. E, ao abordar com tanto sucesso uma personagem até então completamente secundária, esquecida por quase todos os episódios do ano, The Leftovers se garante como um dos mais impressionantes estudos de personagem – talvez, do audiovisual atual como um todo.


Sua estrutura temporal ousada durante a primeira metade do episódio dá lugar a uma narrativa mais tradicional, mas o impacto persiste. Afinal, ao longo desta série, vimos inúmeros personagens buscando por algo que os permitisse seguir em frente e encontrar um sentido na vida – mas poucas vezes encontramos alguém que tenha completado esta transição de forma tão desoladora e assustadora. Os rumos para uma finale intensa e trágica se definem, ao mesmo tempo em que a narrativa fragmentada de toda esta temporada converge com maestria para um clímax agourento que promete ser intenso.

Nas mãos de Keith Gordon, que abusa de longos e desconcertantes planos-sequência, maximizados pela fotografia e pelas cores mais belas da temporada, e com a performance surpreendente de Liv Tyler, que vai da mágoa à psicopatia bem diante de nossos olhos, Ten Thirteen triunfa num suspense ansioso presente em cada cena. Forte, sufocante e perturbador, Ten Thirteen é um dos episódios mais tensos da temporada, que chega à última semana do ano com um saldo de nove capítulos completamente diferentes entre si, que, não obstante, permanecem intimamente relacionados. The Leftovers é um milagre estrutural – uma produção que consegue ser igualmente cerebral e emocional, como poucas antes. A nós, espectadores, resta apenas rezar pela difícil renovação para uma terceira temporada da série mais original e excêntrica da televisão atual.

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