[Crítica] Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
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Em meu texto sobre 007 Contra SPECTRE, comentei que Daniel Craig merecia um adeus melhor da franquia. Eis
que, para a alegria dos fãs do Tordo (ou não), chega aos cinemas Jogos Vorazes:
A Esperança - O Final, último filme da saga de Katniss Everdeen. Baseada no universo
distópico concebido pela autora Suzanne Collins, a produção mantém o
brilhantismo dos sub-textos e o desenvolvimento da protagonista que fazem de
Jogos Vorazes uma franquia única, seja na literatura juvenil, seja no cinema.
No entanto, o que se vê na tela é um filme que segue a maldição dos capítulos
finais de franquias, cedendo à previsibilidade e à letargia.
Após a prova de resiliência
enfrentada pelo Distrito 13 no filme, os treze distritos de Panem se unem contra
a Capital, formando um único exército sob o comando da Presidente Alma Coin
(Julianne Moore). Katniss (Jennifer Lawrence), cansada de ter sua imagem
explorada para fins políticos, quer assumir um papel mais ativo na guerra que
está para acontecer. Angustiada devido ao estado de Peeta (Josh Hutcherson), que
foi psicologicamente torturado, e cada vez mais distante de Gale (Liam
Hemsworth), a jovem tem apenas um objetivo em mente: assassinar o Presidente
Snow (Donald Sutherland). Contudo, se infiltrar na Capital não será a mais
fácil das tarefas e, ao lado de seus companheiros de batalha, Katniss terá que
enfrentar desafios tão letais quanto os dos Jogos Vorazes e do Massacre
Quaternário.

Também escrito por Peter Craig
e Danny Strong, Jogos Vorazes: A Esperança - O Final novamente valoriza o que
diferencia Jogos Vorazes das demais franquias jovens: os sub-textos. Não só
reforçando o que vimos nos filmes anteriores quanto ao uso de artifícios
criados por governos despóticos para distrair o povo (reality shows, cultura de
celebridades, manipulação midiática); criação de símbolos a serem seguidos por
aqueles que se rebelam contra um regime tirânico; guerra de informação; mas
também ao deixar claro que ambos os lados tem seus tons de cinza, ora na
Capital, ora no Distrito 13. Além de Snow, que obviamente conhecemos, podemos
enxergar a frieza que Coin demonstrava no filme anterior crescer cada vez mais
aqui, sugerindo que ela pode ser uma figura tão ameaçadora quanto Snow.
Por outro lado, o longa dá margem
a momentos bastante previsíveis. Como, por exemplo, no ataque dos bestantes ao
grupo de Katniss no subsolo. A forma como o suspense tenta ser construído ali e
as mortes resultantes daquele ataque estavam bastante evidentes e dava para
assistir apontando o dedo para quem iria sobreviver e quem não. O que é
lamentável, pois o filme anterior foi bastante eficaz ao conceber os momentos
de tensão. Outro momento bem previsível é uma das sequências finais envolvendo
Snow (por motivos óbvios, não vou falar). A maneira como todos os elementos
foram dispostos naquela sequência indicam obviamente o que o personagem que
está ocupando o foco narrativo fará e o que acontecerá depois, sendo entregue
de maneira tão gratuita que chega a ser ofensiva.
Apesar de seus problemas, Jogos
Vorazes: A Esperança - O Final compensa pela força de seus intérpretes. Uma das
melhores atrizes de sua geração, Jennifer Lawrence volta brilhar em uma
performance sensível e comovente como Katniss. Cansada de ser usada pelas
pessoas que combatem do seu próprio lado, Katniss toma a frente de suas ações,
inspirando outras pessoas a segui-la, tal qual uma verdadeira líder.
Entretanto, ela sente o peso de cada morte que ocorre devido a sua jornada,
fazendo de Katniss uma personagem que vive em meio à angústia (sofrimento que é
ainda mais intenso por estar claramente dividida entre Gale e Peeta), que terá
de enfrentar um longo processo para enfim encontrar a paz. O ano de 2015 foi de
grandes protagonistas femininas no cinema de ação, e Katniss se junta a esta
gloriosa galeria de personagens ao lado da Imperatriz Furiosa de Charlize
Theron (Mad Max: Estrada da Fúria) e da Ilsa Faust de Rebecca Ferguson (Missão: Impossível - Nação Secreta).
Josh Hutcherson comove ao
retratar a dor e o trauma sofridos por Peeta quando este foi feito cativo pela
Capital, vivendo um dos conflitos internos mais interessantes do filme. Liam
Hemsworth dá um bom suporte representando o sofrimento de Gale ao perceber que
ele e Katniss estão cada vez mais distantes um do outro, ainda que ele insista
em ficar ao seu lado na luta. Em um de seus últimos trabalhos no cinema, Philip
Seymour Hoffman é hábil em sua interpretação, deixando evidente toda a
inteligência e astúcia de Plutarch em seus poucos minutos de tela. Enquanto
Donald Sutherland confere cinismo e autoridade a Snow, Julianne Moore retorna
com a frieza de Alma Coin, surgindo mais ameaçadora do que nunca.
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
segue a tendência de muitos capítulos finais de franquias: não proporcionar um
fim satisfatório às suas histórias. Embora as falhas não comprometam o
resultado final, o filme se beneficia por contar com talentos na frente e atrás
das câmeras, fazendo com que a força da jornada de Katniss e companhia siga
deixando marcas nas gerações que virão.