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[Crítica] Jogos Vorazes: A Esperança - O Final


Em meu texto sobre 007 Contra SPECTRE, comentei que Daniel Craig merecia um adeus melhor da franquia. Eis que, para a alegria dos fãs do Tordo (ou não), chega aos cinemas Jogos Vorazes: A Esperança - O Final, último filme da saga de Katniss Everdeen. Baseada no universo distópico concebido pela autora Suzanne Collins, a produção mantém o brilhantismo dos sub-textos e o desenvolvimento da protagonista que fazem de Jogos Vorazes uma franquia única, seja na literatura juvenil, seja no cinema. No entanto, o que se vê na tela é um filme que segue a maldição dos capítulos finais de franquias, cedendo à previsibilidade e à letargia.

Após a prova de resiliência enfrentada pelo Distrito 13 no filme, os treze distritos de Panem se unem contra a Capital, formando um único exército sob o comando da Presidente Alma Coin (Julianne Moore). Katniss (Jennifer Lawrence), cansada de ter sua imagem explorada para fins políticos, quer assumir um papel mais ativo na guerra que está para acontecer. Angustiada devido ao estado de Peeta (Josh Hutcherson), que foi psicologicamente torturado, e cada vez mais distante de Gale (Liam Hemsworth), a jovem tem apenas um objetivo em mente: assassinar o Presidente Snow (Donald Sutherland). Contudo, se infiltrar na Capital não será a mais fácil das tarefas e, ao lado de seus companheiros de batalha, Katniss terá que enfrentar desafios tão letais quanto os dos Jogos Vorazes e do Massacre Quaternário.

Novamente dirigido por Francis Lawrence, Jogos Vorazes: A Esperança - O Final tem boas cenas de ação e, dessa vez, Katniss compensa por todas as flechas não disparadas em Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (ela só disparou uma flecha). Ao mesmo tempo em que testemunhamos a capacidade do diretor em lidar com situações emergenciais como, por exemplo, a perda trágica de Philip Seymour Hoffman (que interpreta Plutarch Heavensbee). O falecido ator havia rodado apenas algumas cenas e, com isso, o filme tem seu foco voltado para a missão de Katniss, trazendo o rosto de Seymour Hoffman reconstruído digitalmente nas cenas finais do longa. A segurança com a qual Francis Lawrence supera imprevistos como esse fica evidente ao longo da projeção.

Também escrito por Peter Craig e Danny Strong, Jogos Vorazes: A Esperança - O Final novamente valoriza o que diferencia Jogos Vorazes das demais franquias jovens: os sub-textos. Não só reforçando o que vimos nos filmes anteriores quanto ao uso de artifícios criados por governos despóticos para distrair o povo (reality shows, cultura de celebridades, manipulação midiática); criação de símbolos a serem seguidos por aqueles que se rebelam contra um regime tirânico; guerra de informação; mas também ao deixar claro que ambos os lados tem seus tons de cinza, ora na Capital, ora no Distrito 13. Além de Snow, que obviamente conhecemos, podemos enxergar a frieza que Coin demonstrava no filme anterior crescer cada vez mais aqui, sugerindo que ela pode ser uma figura tão ameaçadora quanto Snow.

Por outro lado, o longa dá margem a momentos bastante previsíveis. Como, por exemplo, no ataque dos bestantes ao grupo de Katniss no subsolo. A forma como o suspense tenta ser construído ali e as mortes resultantes daquele ataque estavam bastante evidentes e dava para assistir apontando o dedo para quem iria sobreviver e quem não. O que é lamentável, pois o filme anterior foi bastante eficaz ao conceber os momentos de tensão. Outro momento bem previsível é uma das sequências finais envolvendo Snow (por motivos óbvios, não vou falar). A maneira como todos os elementos foram dispostos naquela sequência indicam obviamente o que o personagem que está ocupando o foco narrativo fará e o que acontecerá depois, sendo entregue de maneira tão gratuita que chega a ser ofensiva.

Apesar de seus problemas, Jogos Vorazes: A Esperança - O Final compensa pela força de seus intérpretes. Uma das melhores atrizes de sua geração, Jennifer Lawrence volta brilhar em uma performance sensível e comovente como Katniss. Cansada de ser usada pelas pessoas que combatem do seu próprio lado, Katniss toma a frente de suas ações, inspirando outras pessoas a segui-la, tal qual uma verdadeira líder. Entretanto, ela sente o peso de cada morte que ocorre devido a sua jornada, fazendo de Katniss uma personagem que vive em meio à angústia (sofrimento que é ainda mais intenso por estar claramente dividida entre Gale e Peeta), que terá de enfrentar um longo processo para enfim encontrar a paz. O ano de 2015 foi de grandes protagonistas femininas no cinema de ação, e Katniss se junta a esta gloriosa galeria de personagens ao lado da Imperatriz Furiosa de Charlize Theron (Mad Max: Estrada da Fúria) e da Ilsa Faust de Rebecca Ferguson (Missão: Impossível - Nação Secreta).


Josh Hutcherson comove ao retratar a dor e o trauma sofridos por Peeta quando este foi feito cativo pela Capital, vivendo um dos conflitos internos mais interessantes do filme. Liam Hemsworth dá um bom suporte representando o sofrimento de Gale ao perceber que ele e Katniss estão cada vez mais distantes um do outro, ainda que ele insista em ficar ao seu lado na luta. Em um de seus últimos trabalhos no cinema, Philip Seymour Hoffman é hábil em sua interpretação, deixando evidente toda a inteligência e astúcia de Plutarch em seus poucos minutos de tela. Enquanto Donald Sutherland confere cinismo e autoridade a Snow, Julianne Moore retorna com a frieza de Alma Coin, surgindo mais ameaçadora do que nunca.

Jogos Vorazes: A Esperança - O Final segue a tendência de muitos capítulos finais de franquias: não proporcionar um fim satisfatório às suas histórias. Embora as falhas não comprometam o resultado final, o filme se beneficia por contar com talentos na frente e atrás das câmeras, fazendo com que a força da jornada de Katniss e companhia siga deixando marcas nas gerações que virão.

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