[Fora de Cena] Os Bons Companheiros
“ Desde que eu me entenda por gente, eu sempre quis ser um gângster... Para mim, ser um gângster era melhor do que ser presidente dos E...
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“Desde que eu me entenda por gente, eu sempre quis ser um gângster...
Para mim, ser um gângster era melhor do que ser presidente dos Estados Unidos.”
Com essas palavras, tinha início
um filme lançado há 25 anos que não demoraria a se tornar um grande clássico do
cinema. Até aquela altura, Martin Scorsese já havia lançado filmes emblemáticos
como Taxi Driver, Touro Indomável, A Última Tentação de Cristo, entre outros,
além do documentário The Last Waltz. Com uma filmografia dessas, parecia que o
diretor não precisava mais de outras obras-primas. No entanto, em 19 de
setembro de 1990, Scorsese lançou Os Bons Companheiros, um dos melhores e mais
memoráveis filmes de sua carreira.
Baseado no livro Wiseguy, escrito
por Nicholas Pileggi (que escreveu o roteiro junto com Scorsese), o longa,
ambientado na cidade de Nova York, acompanha a trajetória de Henry Hill (Ray
Liotta) ao longo de três décadas, quando este trabalhava para a família
Lucchesi, comandada por Paulie Cicero (Paul Sorvino), no Brooklyn. Apesar de estar
numa posição privilegiada dentro da organização, Henry nunca poderia ascender
ao poder dentro da máfia, pois, apesar de sua mãe ser italiana, seu pai era
irlandês. Ao seu lado, estavam Jimmy Conway (Robert De Niro), que adorava
roubar, e Tommy DeVito (Joe Pesci), muito conhecido por seu pavio curto. Desde
criança, Henry tinha um fascínio pela cultura dos gângsteres. Seus olhos
brilhavam ao ver aqueles homens de prestígio em sua comunidade, com seus ternos
caros e sapatos finos.
Acompanhamos a história sendo
contada por Henry na forma de narração em off, típica dos filmes de Scorsese.
Contudo, contamos também com algumas intervenções, também em off, de Karen
(Lorraine Bracco), a esposa de Henry. Na época em que havia o conhecido, a moça
não sabia das atividades criminosas de seu namorado. Foi quando teve que
esconder uma arma ensanguentada que Henry havia usado para agredir um homem que
Karen descobriu quem realmente era a pessoa com quem estava se envolvendo. Era
um mundo completamente novo para ela, que estava fascinada e apavorada ao mesmo
tempo. O recurso da narração em off utilizado por Henry e Karen foi uma decisão
inspirada de Scorsese, que nos permite enxergar a história por mais de um ângulo
e não entrega o monopólio da fala a Henry.
Os Bons Companheiros é um filme tipicamente
scorsesiano. Nele é possível enxergar todas as marcas que caracterizam o estilo do
diretor. Além das narrações em off, temos o uso de câmeras lentas; dinâmicos e
inventivos movimentos de câmera; cortes rápidos; uma trilha sonora vibrante com
músicas de Tony Bennett, Dean Martin, Aretha Franklin, The Rolling Stones,
Cream, The Who, George Harrison, entre muitos outros. Destaque para a canção
que toca nos créditos finais do filme, um cover de "My Way", de Frank Sinatra,
cantado por Sid Vicious. Outro momento do filme que merece destaque é o
fantástico plano-sequência de Henry levando Karen para jantar no Copacabana,
que é também o momento em que a jovem adentra o mundo habitado por criminosos, filmado
como se Scorsese quisesse que nós não perdêssemos nenhum detalhe deste
microcosmo que se apresenta a nós. Faz-se importante mencionar a direção de
arte de Maher Ahmad, o design de produção de Kristi Zea e a direção de
fotografia de Michael Ballhaus, especialmente nas cenas ambientadas nos
luxuosos restaurantes, em que se faz um uso constante e marcante da cor
vermelha, indicando que existe muita violência por trás de todo aquele glamour.
O roteiro de Scorsese e Nicholas
Pileggi não se preocupa nenhum pouco em apressar a narrativa ou em encontrar
soluções rápidas e fáceis. São 145 minutos que passam bem rápido e que nos
deixam desejando ainda mais. Trata-se de um mundo habitando por gângsteres, e os
roteiristas não têm medo de mostrar os tons de cinza. Mesmo que os personagens
tratem de assalto e assassinato como assuntos banais de mesa de bar, e cometam
os crimes que cometem como se fosse um trabalho como qualquer outro, ainda
assim ficamos interessados em conhecê-los e por alguns minutos demonstramos
empatia por eles.
Os Bons Companheiros é um filme obrigatório
para todo aquele que deseja conhecer a filmografia de Martin Scorsese. Trata-se
simplesmente de um dos melhores filmes de todos os tempos e uma aula completa
de linguagem cinematográfica. Trata-se de um dos maiores cineastas vivos em sua
melhor forma.