[First Look] Marvel's Daredevil 1x01 - Into the Ring

"Be careful of the Murdock boys. They got the devil in them."

Quando começamos o piloto de Marvel's Daredevil, com Matt Murdock num confessionário pedindo perdão para um padre de Hell's Kitchen pelo que ele está prestes a fazer, é praticamente impossível não ativarmos o alerta de coisa boa nas nossas cabeças. A despeito da ambientação e do desenho de produção da belíssima sequência, a expressão do ator Charlie Cox acaba dando o tom do que veremos pela frente no episódio: as costumeiras cores vivas das outras produções do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) dando lugar ao cinza granulado da periferia que os seus novos protagonistas representam.

Que a Netflix é sinônimo de qualidade, não é mais novidade para ninguém, porém, perceber que a Marvel Studios escolheu a liberdade do serviço para começar uma nova fase do MCU (aquela que representa o tom mais sóbrio e violento das HQ's), só aumenta ainda mais nossa admiração pelos acertos crescentes. O Demolidor ('Daredevil' lá fora, ou ainda, 'Atrevido' para os fãs brasileiros mais antigos) é parte da história de quem acompanha a Marvel pela nona arte, bem antes do Homem de Ferro, Thor e cia. ganharem as lancheiras, bonecos e linhas de roupa pelo mundo a fora. 

A história do jovem cego, que é advogado de dia e luta contra o crime na pele de um vigilante pelas noites brutais da Cozinha do Inferno, rendeu anos das mais bem escritas e viscerais tramas. No entanto, se em 2003 o incompreendido filme estrelado por Ben Affleck - sim, sou um dos poucos que gosta da produção - virou piada pela pegada um tanto quanto rasa dada a origem de Matt Murdock, não espere nada menos do que os acordes de Frank Miller nesta nova empreitada. Afinal, Drew Goddard e Steven S. DeKnight (as mentes por detrás de O Segredo da Cabana e Spartacus) não são Avi Arad e Mark Steven Johnson (Motoqueiro Fantasma é produto da segunda dupla).

Se a Nova York em que os parceiros Matt Murdock e Foggy Nelson estão prestes a advogar é a mesma que passou pela invasão chitauri lá no primeiro Vingadores, o bairro, que é a casa deles, não o é. O comando de Hell's Kitchen - lugar mais violento da cidade - se aproveitou do chamado 'incidente' para patrocinar a corrupção por meio do tráfico, superfaturamento de obras e formação de verdadeiras milícias, praticamente demonstrando que a invasão alienígena foi só um mero subsídio para uma ameaça bem mais perigosa: a ambição dos poderosos.

É aí que já no seu primeiro caso, Murdock e Nelson têm de encarar um suposto homicídio cometido pela secretária Karen Page que afirma não ter culpa alguma no assassinato. Vai se escancarando, assim, uma trama que se desdobra numa amarrada rede criminosa, engrandecendo mais e mais a experiência do piloto. Desde a primeira sequência de luta até o violento embate na chuva - com Murdock vestindo a bandana de vigilante, ainda sem a alcunha de demônio - tudo se justifica. E por justificativa, eu falo na curiosa forma com a qual o roteiro esclarece a relação entre os chefes do crime e a acusação contra Page.

Com Charlie Cox dando vida ao Demolidor numa entrega que já impressiona à primeira vista; a querida e linda Deborah Ann Woll já mostrando que o drama em torno da sua Karen Page vai nos arrancar algumas lágrimas e a acidez canastrona do simpático Elden Henson como Foggy Nelson, nos fazendo rir no momento exato, já dá para sacar que o casting de Marvel's Daredevil é daqueles sopros inspirados que só abrilhantam a série. Somando tudo isto com a produção que salta aos olhos durante a coreografia das lutas, ou mesmo a direção nem um pouco casual do episódio piloto, temos desde já o grande start do MCU underground.

Sem dar espaço para os usuais tiques dos seus parceiros no ambicioso universo de origem, Marvel's Daredevil é a aposta de sucesso imediato que muita gente queria ter feito desde que foi anunciada. Um exemplo a ser seguido e que só deve crescer nos próximos doze episódios. Vamos embarcar nessa visita a cozinha mais infernal das HQ's, afinal o Demônio está faminto... Só que desta vez, a fome é por justiça.