[Crítica] Frank
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Um visual bonitinho, um clima leve e uma trilha sonora fofa. Eis a fórmula para agradar o público indie, que vem se expandindo cada vez mais e, com isso, ganhando destaque entre as produções de cada ano. Felizmente, Frank não é um filme que se conforma em se isolar em sua zona de conforto; o longa de Lenny Abrahamson é profundo e questionador, indo muito além da doçura, mas sem jamais perder o encanto.
Ligeiramente inspirado pela história real de Chris Sievey, a trama de Frank acompanha Jon (Domhnall Gleeson), um músico aspirante que consegue entrar para uma problemática banda de rock. Nela, ele terá de enfrentar excêntricas figuras como Frank (Michael Fassbender), o inocente vocalista que vive escondido atrás de uma cabeça gigante de papel machê, Clara (Maggie Gyllenhaal), uma enfurecida e ácida tocadora de teremim, e Don (Scoot McNairy), o depressivo empresário da banda.
Uma mistura de God Help The Girl com Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum, Frank funciona com delicadeza e assombro. Louco e fofo, com todos os trejeitos de um road movie, o longa é dotado de um humor intensamente criativo e sofisticado, com diálogos e gags inspiradíssimos. De fato, inspiração pode ser a palavra certa para descrever Frank, que com flexibilidade vai de gargalhadas altas a momentos extremamente dramáticos e impactantes. Seus personagens são extremamente encantadores, e o denso desenvolvimento a eles destinado é a força motora do argumento. O roteiro de Jon Ronson e Peter Straughan vai além das aparências, se dedicando a criar momentos sutis, numa bem-vinda fuga ao óbvio.
A direção de Abrahamson, simples, mas eficaz, também é responsável pela criação de uma atmosfera leve e gostosa, e, mais para frente, no terceiro ato, que se desenrola numa reviravolta surpreendentemente dramática, intimista e emocional, é impossível imaginar um tratamento superior a temas tão sérios e, por fim, tão tristes. A cena final, ao som da música original I Love You All, é extremamente marcante e emocionante, e, ao subir dos créditos, o espectador é deixado com um resultado final de fato bonitinho e engraçado, mas também agridoce. Ao mesmo tempo, leva-se em consideração algumas falhas impossíveis de serem ignoradas que, caso evitadas, poderiam elevar ainda mais a conclusão: a trama, um tanto formulática, volta e meia cai nas armadilhas da previsibilidade, ainda que se esforce em preencher seus clichês com uma incrível sensibilidade. Ainda que a direção segura de Abrahamson, o ótimo roteiro de Ronson e Straughan, a belíssima fotografia de James Mather, em tons frios como o Reino Unido, entre outros fatores, consigam em parte disfarçar os lugares comuns presentes no argumento, a fragilidade deste ainda se mostra visível, especialmente em momentos de conflito.
Mas se há algo a ser destacado em Frank são as performances espetaculares do elenco principal. Fassbender é digno de todos os elogios colecionados ao longo deste ano desde a primeira exibição do longa, em Sundance, mais uma vez entregando uma atuação vencedora, capturando com maestria todas as emoções somente com o uso da linguagem corporal e mínimos movimentos, o que é excepcionalmente estarrecedor num personagem tão complexo. Mas não devemos ignorar os trabalhos de Domhnall Gleeson, que está perfeito no papel do fracassado e egoísta protagonista Jon, e, em especial, Maggie Gyllenhaal, que se entrega à agressiva Clara e rende alguns dos melhores momentos cômicos do filme, e também uma das performances mais dramáticas.
Doce, leve e delicado, Frank não só é um grande filme; é também desde já um personagem icônico e memorável. Destinado a figurar ao lado de outras comédias indie como Pequena Miss Sunshine, Juno e 500 Dias Com Ela, o longa não é perfeito, mas é uma experiência suficientemente diferente e louca para valer a conferida.