[First Look] Bloodline 1x01 - Part 1
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Elementos comuns do gênero, como a sacralidade da família e, a bem da verdade, a própria premissa, marcam presença aos montes, de forma que somente em raros momentos o espectador perde o medo quanto ao desenvolvimento e direcionamento da trama. De fato, os clichês incomodam e proporcionam a sensação de estarmos pisando em ovos - ou seja, ainda é impossível mergulhar de cabeça em Bloodline. Mas reconheçamos que o distanciamento, o didatismo e o excesso de segurança são erros comuns dos pilotos, não exatamente perdoáveis, mas dificilmente execráveis.
Aliás, mesmo que permaneça numa relativa zona de conforto, uma coisa da qual Bloodline não pode ser acusada é de mediocridade. Mesmo que o roteiro seja ordinário e os diálogos paupérrimos, a série desde já conta com características interessantes que podem vir a engrandecer sua trama quando (e se) esta atingir sua maturidade. A mão firme e segura de Johan Renck guia a direção de maneira especialmente cinematográfica, até mesmo para o padrão de produções Netflix, e é responsável por grande parte dos acertos deste piloto, incluindo a impecável construção de tensão em determinados momentos; destes, destaco a discussão sobre a presença da convidada de Danny na "mesa da família", um conflito fútil e forçado que, nas mãos de Renck, funciona bem e acaba se tornando extremamente desconfortável.
O clima soturno também deve ser elogiado como um dos pontos altos deste início, mantendo um suspense estável e proporcionando momentos interessantes. Estas, entretanto, poderiam ser tratadas com mais sutileza. De maneira geral, Bloodline é um suspense mais escancarado e claro que, por exemplo, The Leftovers - outro drama familiar estreante que destaca um passado misterioso, e que chamou atenção justamente por se arriscar em um desenvolvimento menos direto -, o que impede a série de se destacar da mesma forma no gênero. Além disso, alguns maneirismos, como os recorrentes flashfowards, beiram a cafonice e em nada contribuem à fluidez e à tensão presentes na trama, apesar de serem responsáveis pelo ótimo e interessante gancho na conclusão do episódio - certamente, um dos motivos pelos quais continuarei a acompanhar pelo menos mais alguns episódios. E, apesar de ser cedo para comentar atuações, desde já podemos manter os olhos abertos para as performances de Ben Mendelsohn e da grande Sissy Spacek, respectivamente, nos papéis Danny e Sally, além de contrair uma desconfiança por Kyle Chandler, que, em sua interpretação como John, prova que está longe de ser a melhor escolha para protagonizar uma série que promete ser tão intensa.
Em seu primeiro episódio, Bloodline ainda não mostra ao que veio e fica só na promessa. A boa notícia, porém, é que promete muito. Mesmo reduzindo-se à capacidade de reproduzir mais do mesmo enquanto introduz questões interessantes se futuramente bem desenvolvidas, Part 1 ainda consegue manter um determinado nível de qualidade, suficiente para não entediar, e ainda guarda algumas surpresas que mantém nosso interesse, se não pela temporada inteira, ao menos pelo próximo episódio.