[Resenha] Os Instrumentos Mortais: Cidade do Fogo Celestial
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O fim é apenas o começo. Esta é a tagline clichê usada para descrever Cidade do Fogo Celestial, último livro da saga Os Instrumentos Mortais, que por sua vez foi apenas o início de um ciclo de sagas relacionado ao Mundo das Sombras. Literalmente, o fim é apenas o começo, e Cidade do Fogo Celestial cumpre bem ambas as funções, apesar de não alcançar o status dos melhores livros deste universo.
Em Cidade do Fogo Celestial, Clary e seus amigos lutam contra o maior mal que eles já enfrentaram: o próprio irmão de Clary. Sebastian Morgenstern não para, sistematicamente colocando Caçador de Sombras contra Caçador de Sombras. Tendo o Cálice das Trevas, ele transforma Caçadores de Sombras em criaturas de pesadelos, destruindo famílias e casais conforme as fileiras de seu exército Negro vão crescendo. Em apuros, os Caçadores de Sombras procuram refúgio em Idris – mas nem mesmo as famosas torres demoníacas de Alicante podem conter Sebastian. E com os Nephilim presos em Idris, quem irá proteger o mundo contra os demônios? Quando uma das maiores traições mais desconhecidas dos Nephilim é revelada, Clary, Jace, Isabelle, Simon e Alec devem correr – mesmo que sua viagem os leve profundamente aos reinos dos demônios, onde nenhum Caçador de Sombras jamais pôs os pés, e de onde nenhum ser humano jamais voltou.
Cidade do Fogo Celestial é uma ótima conclusão para Os Instrumentos Mortais, honrando os livros anteriores e seus personagens ao oferecer uma conclusão tanto divertida quanto melancólica. Este sexto livro também pode ser considerado o mais violento da série por contar com mais batalhas do que qualquer outro, e por estas serem também muito mais vívidas. A narrativa principal – no que tange a Sebastian –, mesmo que recorra a alguns clichês, é bastante tensa e interessante, especialmente por levar seus personagens a caminhos nunca antes percorridos, tanto fisicamente quanto psicologicamente.
Cassandra Clare continua a ter um senso de humor único, que supera a pieguice dos diálogos, mostrando o melhor de seus personagens. De fato, é em Cidade do Fogo Celestial que Jace, Simon e todos os outros encontram seus melhores momentos, em especial Clary e Alec – a primeira por assumir-se como uma garota forte e confiante, continuando a fantástica evolução demonstrada no livro anterior, e o segundo por contar com alguns dos momentos mais emocionais e complexos do livro. Seu relacionamento com Magnus, que desde Cidade das Almas Perdidas havia começado a ganhar mais destaque, finalmente parece completamente aproveitado aqui, revelando o motivo do shipp ser um favorito dos fãs. Deve-se ressaltar também o desenvolvimento de Maia, que sempre pareceu uma personagem desnecessária e irrelevante, mas finalmente ganha uma trama interessante de se acompanhar, apesar do pouco impacto ao plot principal.
Eu poderia me desfazer em elogios aos protagonistas nesta resenha, mas todos que acompanham meus textos sobre a saga sabem o quanto eu sou apaixonado por estes. Em vez disto, falarei sobre os novos personagens, Emma e Julian, que serão principais na próxima trilogia da série, The Dark Artifices. Foi uma ótima jogada introduzir desde já estes personagens – bem como seus secundários e algumas das tramas que terão impacto em sua saga –, pois não só nos permitiu uma espécie de contato diferente do de Os Instrumentos Mortais e As Peças Infernais, como também promete um desenvolvimento diferente para o primeiro livro da trilogia (que, nas sagas dos Caçadores de Sombras, costuma ser o menos interessante).
Os problemas de Cidade do Fogo Celestial – nem sempre tão fáceis de ignorar – estão reservados a sua grossura (afinal, 500 é um número de páginas perceptível e desnecessariamente longo para estas tramas, apesar de nenhuma decair ao extremo tédio) e em seu clímax, que, similar ao de Princesa Mecânica e ao contrário do de Cidade de Vidro, é um tanto simples e desinteressante. Cassandra Clare parece ter desaprendido a criar a atmosfera necessária para sair de cena com impacto, o que é visível também na sua incapacidade de eliminar personagens importantes, ainda que este seja o último livro da saga e algumas mortes pudessem tornar o resultado mais agridoce. O único personagem de peso cujo final poderia ser considerado triste o suficiente para causar impacto teve uma salvação de última hora, tornando este final talvez feliz demais, especialmente considerando o quão sombrio e violento fora o livro anteriormente.
Uma bela swan song para Os Instrumentos Mortais, Cidade do Fogo Celestial não decepciona, ainda que poucas vezes surpreenda. Definitivamente, a segunda trilogia focada em Clary e seus amigos não teve a mesma força que a primeira, mas abriu portas para a construção de um dos universos literários mais curiosos das sagas atuais. Contando com seus sempre ótimos personagens e também com algumas importantes viradas mitológicas que podem e devem ser exploradas nos próximos livros, Cidade do Fogo Celestial cumpre seu papel de finalizar a história de seus protagonistas, bem como abrir espaço para os próximos.