[Review] American Horror Story: Freak Show 4x04 - Edward Mordrake (Part 2)
Menos monstro, mais humano.
https://siteloggado.blogspot.com/2014/11/review-american-horror-story-freak-show.html
As
emblemáticas sequências dos especiais de Halloween
em American Horror Story são conhecidas
por sempre deixarem um rastro de sangue inventivo ou por manterem explícitas as
bases do pano de fundo da história, seja na apresentação da mitologia da trama
como uma fonte para fins dramáticos, seja na aplicação do mais puro horror como
choque e comoção. Surpreendentemente, o roteiro de Jennifer Salt consegue pôr o simbolismo de redenção representado
por Edward Mordrake numa toada distante do senso piegas de humanização para
justificar a tridimensionalidade dos protagonistas, mostrando assim duas das
maiores figuras de Freak Show - Elsa
e o palhaço - como monstros que não se aceitam como tal, mas que são capazes de
comover o próprio demônio por conta das suas imperfeições externas e internas.
Sei que já tinha ficado claro que a
presença de Mordrake no circo traria à tona o passado de alguns dos freaks, porém, mesmo que tenha sido
breve, gostei da forma como apresentaram a chegada de Paul e Suzi ao mundo de
Elsa. American Horror Story está
dando espaço para pessoas realmente especiais neste quarto ano - mais uma vez voltando
ao que Tod Browning fez lá em 1932 -
e a dupla Mat Fraser e Rose Siggins não deixaram a peteca cair
nas cenas mais dramáticas.
A quinta visita do espectro foi à
tenda da fraülein Elsa Mars. Os
diálogos entre os dois personagens foram excelentes e é perceptível que Wes Bentley e Jessica Lange continuam se divertindo bastante com o sotaque
teatral e os trejeitos exagerados dos seus papéis. Elsa é a estrela femme fatale que, mesmo quebrada pelo
passado sombrio, não deixa de delirar com o retorno ao estrelato anunciado por
Esmeralda. No entanto, Mordrake segue com o seu fantasmagórico inquérito e põe
a dona do circo de encontro com a realidade que ela ainda não consegue
enfrentar. A deformidade que Elsa esconde dos seus protegidos pode não ter a
mesma origem da deles, porém tem um significado mais monstruoso do que qualquer
outra: ela surgiu da perversidade humana.
Essa linha tênue entre quem é o
homem e quem é o monstro guia Dandy e o palhaço ao centro do episódio, trazendo
também Jimmy e Esmeralda como participantes especiais. É uma grata surpresa ver
o roteiro costurar a trama sem conexões frágeis e saídas forçadas, levando o
significado estrutural da série - o antológico moldar de histórias de horror -
ao pé da letra, sem soar absurdo ou drástico. Sim, tudo continua estilizado,
tudo continua repleto de referências, mas é esta a eterna rima recorrente em American Horror Story.
O passado de Elsa na Alemanha de
1932 não faz feio ou choca menos que os filmes do italiano Pier Paolo Pasolini. Vivendo como uma estrela dominatrix no
submundo de Berlin, Elsa alcançou o sucesso, devotos e uma audiência num show
de horror masoquista. Aqui, a fotografia de Michael
Goi e a direção de arte da série executam o que já deve ser uma das
sequências mais bonitas já realizadas em American
Horror Story. Não deixando de ser menos impactante e incômodo o momento em
que, mais pela sugestão, conhecemos o terrível destino da fraülein ao protagonizar o início da era dos filmes snuff na Alemanha nazista.
Porém, é a expressão pesarosa de John Carroll Lynch e a história do
palhaço Twisty que chega como um soco na boca do estômago. Quando Edward
Mordrake faz uma súbita mudança na sua escolha final, ganhamos a chance de
conhecer quem realmente é o assassino por detrás do desconcertante sorriso
eterno. As respostas não são as mais fáceis de serem encaradas e tudo é tão
angustiante que comove de verdade. Lynch
trabalha o tom da voz de Twisty - morosamente reduzido pela ausência do maxilar
- de uma forma impressionante e, ao fim da última revelação sobre o palhaço,
começamos a pensar que todo o terror começado em Jupiter foi de uma forma
torta, necessário para que o pré-julgamento da cidade com relação aos freaks desaparecesse.
Corajoso por encerrar a trajetória de
personagens emblemáticos e promissor por tornar o futuro da trama repleto de
possibilidades curiosas, este é, sem sombra de dúvidas, o episódio chave da
temporada de Freak Show. Um Dandy
abraçando o legado do seu tutor é só o começo do macabro segundo ato. É a arte
a favor do horror e o horror conduzindo o espetáculo. Eu não poderia estar mais
hipnotizado. E vocês, como estão?
P.S.1:
A última cena do Jimmy na entrada do circo foi para nos deixar de coração
feliz.
P.S.2:
Finn Wittrock é o meu favorito
para liderar as futuras indicações de Freak
Show nas premiações.
P.S.3:
Então vamos lá: “I hate you! I hate you! I hate you! I hate you!...”