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[Falando Sobre...] Orange Is The New Black: A Segunda Temporada


É oficial: Orange Is The New Black é a minha série favorita no ar e tem um lugar bastante privilegiado no meu top de todos os tempos. É incrível como a série, os personagens, o roteiro e praticamente todos os aspectos, técnicos ou não, evoluíram desde o piloto (que já não era nada menos que espetacular). Na segunda temporada do fenômeno da Netflix, as coisas ficam mais tensas, mais complicadas e mais sombrias, mas também muito mais divertidas.

Já nos primeiros vinte minutos de seu primeiro episódio, a segunda temporada investe pesado em nos dar inúmeros socos no estômago - em algumas das melhores cenas da série -, estabelecendo o tom para os episódios seguintes. Fato é que os tempos de brincadeira e camaradagem da temporada passada acabaram. Mesmo que o primeiro ano de Orange Is The New Black não tenha sido exatamente simpático ou benevolente com seus personagens, fazendo-os passar por situações difíceis, machismo, homofobia e todo tipo de segregação, a segunda temporada chega mais séria. O misto de realismo excruciante e ironia ácida ainda vai arrancar muitas risadas e garantir gargalhadas altas, mas o que está em foco aqui é a dor, os dilemas dos personagens, alguns dos quais podem arrancar algumas lágrimas com grande facilidade.

Enquanto um dos temas mais importantes da primeira temporada era a identidade de cada personagem - com a pergunta "quem você realmente é?" sendo recorrente em quase todos os plots -, aqui a temática se volta para a solidão e as relações humanas. Um sentimento agridoce predomina sobre todos os episódios. Todos os personagens são confrontados pela realidade de que, dentro da prisão, estão sozinhos, mesmo quando parecem não estar. E tal temática desembocou em algumas das melhores tramas da série, como a construção do império de Vee (nova personagem que conquista um pequeno exército pessoal a partir da manipulação das emoções das detentas) e a decadência de Red sem sua "família da prisão". 

Neste mesmo quesito, se destaca Piper. A personagem evoluiu bastante desde a última vez que a vimos, se tornando uma mulher séria, focada e, acima de tudo, uma sobrevivente do sistema, se adequando à injustiça e ao abuso de Litchfield e do mundo de maneira geral. Não, ela não se livrou completamente de seu background burguês de classe média alta; ainda podemos ver alguns vislumbres da velha Piper conhecedora de cultura pop e superficial da temporada passada. Mas esta é apenas mais uma prova de como esta série é genial. É genial como Orange Is The New Black  consegue amadurecer uma personagem de maneira realista, fugindo de qualquer caricatura. Piper não se torna uma personagem séria e sombria. Pelo contrário: ela se encontra, define quem realmente é, um misto do que era antes e do que é agora. Por isto, a protagonista apagada da temporada passada se torna uma das mais interessantes personagens de toda a série - o que não é pouca coisa quando se trata de Orange Is The New Black.

De fato, uma das coisas que eu mais gosto em Orange Is The New Black é como a série retrata e desenvolve seus personagens. O desenvolvimento de personagens é o carro-chefe da série inteira, uma vez que Orange se dedica principalmente a quebrar paradigmas, preconceitos e esteriótipos - e, nisto, esta série é genial. A evolução de Piper nesta temporada é apenas um pequeno exemplo. Outras personagens - como Taystee, Poussey, Morello e Crazy Eyes - ganham muito mais espaço, tendo até mesmo arcos próprios ao longo da temporada e flashbacks, alguns dos quais encantadores e devastadores. Destaque especial para Rosa, cujo arco, mesmo que pequeno, consegue ser lindíssimo e emocionante, além de tornar a cena final da temporada extremamente marcante. A equipe da prisão também evolui, passando de meros figurantes a personagens secundários, que servem principalmente de alívio cômico (o que funciona muito bem), mas o que me impressiona mesmo é como personagens odiosos acabaram se tornando extremamente simpáticos e adoráveis. Exemplos disso são Healy e a Caipira; mesmo que sejam dois valentões homofóbicos e machistas, ao final da temporada, eu não conseguia mais odiá-los. Este é o trunfo de Orange Is The New Black: a série consegue ser humana sem ser cínica, consegue nos fazer adorar seus personagens sem nos deixar esquecer que existem muitos motivos para odiá-los.

A parte mais fraca da temporada fica por conta de Bennet e Daya. Apesar de o casal parecer fofo no início (ainda mais do que no ano passado), a trama logo se desgasta e os dois passam praticamente toda a segunda metade da temporada num vai-e-volta que não chega a lugar nenhum. Similarmente, alguns fãs podem ter problemas com Soso, a nova personagem que foi adicionada claramente para servir como um espelho para o que a Piper era no passado. Mesmo sendo irritante e superficial, e não tendo nem metade do carisma que fazia a Piper ser adorável na primeira temporada mesmo com seus problemas, Soso ainda garante alguns bons momentos - a cena do penúltimo episódio em que ela transforma uma crise na prisão em uma espécie de exercício de acampamento é uma das mais hilárias que eu já vi nos últimos anos. E, enquanto a saída de Laura Prepon não seja exatamente uma novidade, alguns espectadores tinham lá alguma razão em manter certo ceticismo, afinal, Alex Vause foi um dos melhores aspectos da primeira temporada. Surpreendentemente, a falta de Vause foi um dos melhores aspectos da segunda, uma vez que permitiu desenvolver certas tramas, amadurecer certos personagens e focar em outros dramas, especialmente no que diz respeito à Piper. Mais uma vez, é incrível como esta série se desdobra, pegando uma limitação que poderia estragar toda a trama (a saída repentina de um membro importante do elenco sempre pode causar uma queda de qualidade) e transformando num dos pontos mais fortes de toda a temporada.

Os trailers prometiam: "vai dar merda". E deu mesmo. Mas apenas no sentido de mais perigo, mais suspense e mais drama. Para nós, fãs e espectadores, a nova temporada figura entre uma das melhores dos últimos anos, e eu me surpreenderia bastante se Orange Is The New Black não ganhasse ainda mais fãs, mais reconhecimento e alguns prêmios importantes. Mais madura, mais crítica e melhor em quase todos os sentidos, a segunda temporada é um daqueles casos em que é inegável que alguns erros são cometidos, mas, no meio de todos os acertos, são facilmente ignoráveis. Por isso, Orange Is The New Black entra oficialmente na minha lista de favoritos, e, mais uma vez, prova o quão essencial é.

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