[Resenha] As Peças Infernais: Príncipe Mecânico/Os Instrumentos Mortais: Cidade das Almas Perdidas
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Depois das decepções que foram os livros anteriores, até
mesmo o mais duro dos haters há de se surpreender com Príncipe Mecânico e
Cidade das Almas Perdidas. Joguem suas dúvidas no lixo, pois Cassandra Clare as
esmaga. Finalmente fazendo jus às expectativas, As Peças Infernais e Os
Instrumentos Mortais voltam com tudo, me lembrando do porquê eu amo tanto estas
sagas. Confira abaixo:
Príncipe Mecânico
Após o ataque ao Instituto, Tessa Gray está tentando achar
seu lugar dentre os Caçadores de Sombras de luto. Will está mais frio do que
nunca, e ela encontra conforto na amizade de Jem. Entretanto, a paz pode durar
pouco: o Magistrado continua à solta, e a Clave cobra resultados. Charlotte
pode perder o comando do Instituto, e a ameaça dos autômatos ainda paira sobre
Londres. Enquanto isso, Will procura a ajuda de Magnus Bane para realizar um
feitiço que pode mudar sua vida. Para salvar o Instituto, os Caçadores decidem
investigar as origens e os motivos que levaram o Magistrado a se tornar o que
é: o Príncipe Mecânico.
Se Anjo Mecânico foi uma entrada fraca na galeria dos
Caçadores de Sombra, Príncipe Mecânico arrebenta as expectativas e vem com
tudo, corrigindo todos os erros de seu predecessor. Um exemplo disso é em
relação ao clima da história: em Anjo Mecânico, a saga parecia ainda patinar
entre suas pretensões, sem jamais decidir se gostaria de ser uma história leve
como Os Instrumentos Mortais ou sombria e genérica; aqui, entretanto, As Peças
Infernais deixa de lado ambas as possibilidades e adota um clima mais trágico e
melancólico. Todos os personagens passam por provações desagradáveis, criando
cenas devastadoras até mesmo para os secundários. Até Jessamine, a irritante
coadjuvante do primeiro livro, ganha momentos bastante tristes.
E é essa tristeza que move a história. O livro inteiro gira
ao redor de situações difíceis que os personagens devem passar. Diferentemente
de Cidade das Cinzas, que da metade para o final criou várias sequências de
ação, Príncipe Mecânico é um livro muito mais calmo. Focado inteiramente na
investigação ao Magistrado e nas descobertas que dos personagens, o segundo
livro de As Peças Infernais tem um bom ritmo, embalado por intrigas e
revelações. Mas também diferentemente de Cidade dos Anjos Caídos (que também é
um livro calmo, focado nos personagens), em Príncipe Mecânico, a história
realmente se desenvolve. Novos
personagens são apresentados: Gideon e Gabriel Lightwood, os antepassados de
nossos queridos Alec e Isabelle. Conhecemos um pouco mais sobre a condição de
Jem e o passado de Will, que finalmente se distancia das comparações com Jace.
Os dois personagens, agora que ganham tempo para se desenvolver, finalmente se
tornam protagonistas encantadores, os dois com suas histórias tristes e suas
esperanças de conseguir a felicidade ao lado de Tessa. A busca pelo Magistrado
continua, trazendo um intenso foco sobre a política na Clave.
É um livro tenso e cheio de suspense, e por isso viciante. A
grande falha, entretanto, é o número de pontas soltas, uma vez que o livro
desenvolve vários mistérios introduzidos em Anjo Mecânico, mas soluciona
pouquíssimos deles, deixando a maior parte das respostas para o último volume,
Princesa Mecânica. A resolução para a história de Will também é decepcionante,
já que ele deveria ser uma figura trágica para a saga e acaba resolvendo seu
problema de maneira corrida, até fácil demais. Estas falhas tornam o clímax
arrastado e previsível, mas não apagam o triunfo dos momentos anteriores. Mesmo
com um final fraco, Príncipe Mecânico ainda é um ótimo livro, finalmente
conseguindo se equiparar à qualidade de Os Instrumentos Mortais.
Cidade das Almas Perdidas
Após o ataque de Lilith, Jace desapareceu, junto do corpo do perverso Sebastian. A Clave está alarmada: poderia a ameaça do filho de Valentim retornar? Quando Jace e Clary voltam a se encontrar, ela fica horrorizada ao descobrir que a magia de Lilith ligou Jace a Sebastian, transformando o Caçador de Sombras em um servo do mal. A Clave decide destruir Sebastian, mas não há nenhuma maneira de matá-lo sem destruir Jace. Para salvá-lo, Clary decide acompanhá-lo até Sebastian, mesmo que isso destrua sua vida. Enquanto isso, Simon e Isabelle são obrigados a enfrentar seus problemas, enquanto Jordan decide pedir ajuda à Praetor Lupus, e Alec está cada vez mais intrigado com os segredos de Camille. Todos estão juntos para salvar Jace, mas ainda podem confiar nele? Ou ele está realmente perdido?
Cidade das Almas Perdidas foi uma surpresa gratificante.
Depois de Cidade dos Anjos Caídos, seria difícil acreditar que Os Instrumentos
Mortais conseguiria recuperar a glória e o perigo da trilogia original – mas
conseguiu. Cidade das Almas Perdidas é um dos melhores livros do universo dos
Caçadores de Sombras, com tudo de melhor que suas sagas podem oferecer.
Com mais points of view e mais histórias paralelas, Cidade
das Almas Perdidas enche suas 400 páginas com a trama dividida entre o plano de
Sebastian e a busca do grupo de Nova York por uma cura para Jace; este segundo
se subdivide ainda no romance de Isabelle e Simon, o outro romance de Maia e Jordan
e na busca de Alec por respostas quanto ao passado de Magnus. História é o que
não falta para o quinto volume da saga, e, mesmo que algumas tramas pareçam
desnecessárias, elas conseguem se segurar com o carisma dos personagens e
também pelo fato de que não se alongam por muitas páginas.
Com a história dividida em somente dois grandes grupos (isto
é, Jace, Clary e Sebastian de um lado e Alec, Magnus, Isabelle, Maia, Jordan e
Simon do outro), grande parte da trama se passa num clima de amizade, cheio dos
momentos leves e cômicos que tornaram essa saga tão especial e diferente, mas
sem jamais esquecer do senso de perigo constante que paira sobre suas cabeças, o
que ocasiona algumas ótimas cenas de ação, principalmente em relação a Clary.
De fato, Clary foi uma grande surpresa neste livro: nós, que estamos
acostumados a vê-la somente como a garota com poderes especiais, vislumbramos
aqui um pouco de seu lado mais guerreiro. Desta vez, ela está diretamente
envolvida com a ação, lutando contra demônios e tudo. Considerando que estamos
no quinto livro, é impossível não se sentir empolgado com a situação, até porque é uma personagem que vemos evoluir há quatro livros. Enquanto o perigo
aumenta, Clary vai aos poucos descobrindo a real natureza da ligação de Jace
com Sebastian, assim como o plano que está em vigência. Uma nova guerra está sem
dúvidas a caminho, e aos Caçadores de Sombra, resta se preparar: Valentim foi
apenas o começo.
É muito difícil falar deste livro sem mencionar nenhum
spoiler. Cidade das Almas Perdidas é uma daquelas histórias em que cada detalhe
é um spoiler em potencial. Assim como Cidade das Cinzas, o quinto volume da
saga se apoia na história introduzida no seu predecessor para desenvolver uma trama;
deste modo, mesmo nas primeiras páginas há algo importante acontecendo. Todos
estes pequenos detalhes levam a um clímax gigantesco e ameaçador, criando uma
das melhores cenas de toda a saga. As últimas páginas reúnem as reviravoltas tensas
de Cidade das Cinzas com o clima pesado de Cidade de Vidro, criando uma cena
longa e memorável. Tudo isso, claro, só fica melhor com a presença de todos nossos personagens
adorados lutando lado a lado. Cidade das Almas Perdidas está cheio de momentos
de interação entre personagens, mas, ao contrário de Cidade dos Anjos Caídos,
aqui há uma trama realmente envolvente e perigosa para temperar a história.
Mesmo com alguns ganchos, o livro termina num tom amistoso,
cheio de paz e felicidade – algo que com certeza será recompensado no último
volume da saga, Cidade do Fogo Celestial. Cassandra Clare já prometeu ao menos
seis mortes importantes, um número perigosamente alto para uma saga que tem
tantos personagens centrais. Cidade das Almas Perdidas cumpre seu dever com
maestria e deixa a porta aberta para o livro final de Os Instrumentos Mortais,
que, no entanto, não é final da saga: uma nova trilogia já foi prometida, com
lançamento previsto para 2015, iniciando um novo ciclo para as Crônicas dos
Caçadores de Sombras. Afinal, como diz a tagline de Cidade do Fogo Celestial, o fim é apenas o
começo.