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[Crítica] Deadpool


Ryan Reynolds costumava ter um relacionamento difícil com as adaptações de histórias em quadrinhos. Ele estrelou Blade: Trinity, um filme que tem seus momentos, mas é inferior aos capítulos anteriores da franquia. Ensaiou uma primeira tentativa no papel de Wade Wilson/Deadpool em X-Men Origens: Wolverine, que acabou se revelando um desastre total. Em seguida, afastado dos personagens da Marvel, encarou assumir um personagem da DC protagonizando Lanterna Verde, sendo mais uma vez mal sucedido em seu intento. Agora, no papel do protagonista-título em Deadpool, Reynolds se redime de todos os fracassos de suas empreitadas anteriores.

Adotando uma estrutura não-linear, o filme nos introduz a Wade Wilson (Reynolds), um ex-soldado das Forças Especiais que trabalha como mercenário em Nova York. Quando não está trabalhando em casos que envolvem proteger jovens mulheres de stalkers, Wade frequenta o bar gerenciado por seu amigo Weasel (T.J. Miller). Neste local, ele conhece duas pessoas importantes para o desenvolvimento de sua história. A primeira é Vanessa (Morena Baccarin), uma prostituta com quem cria um elo através de um inusitado jogo para determinar quem teve a infância mais problemática. A relação entre os dois evolui e Vanessa permanece ao seu lado após Wade descobrir que possui um câncer terminal.

É aí que entra a segunda pessoa importante na história do mercenário. Uma figura misteriosa o aborda no bar oferecendo a ele uma oportunidade de realizar um experimento que provoca uma reação genética na pessoa capaz de desenvolver habilidades mutantes sobre-humanas. Na esperança de que o programa (que, nos quadrinhos, é o Arma X) pode ser uma chance para poder continuar vivendo ao lado de Vanessa, Wade se submete ao experimento e no processo conhece Angel Dust (Gina Carano) e Ajax (Ed Skrein), também conhecido como Francis. Com o tratamento, Wade adquire capacidade acelerada de regeneração. No entanto, seu corpo é totalmente desfigurado e o mercenário, agora assumindo a alcunha de Deadpool, parte no encalço de Ajax no intuito de ter as cicatrizes removidas de seu corpo para que possa finalmente seguir com sua vida.

Pelo que descrevi acima, parece ser só mais um filme baseado em histórias em quadrinhos. Porém, existe um fator que difere Deadpool das demais produções do gênero que pode ser resumido em apenas uma palavra: zoeira. Provando que a zoeira não possui absolutamente nenhum limite, o filme zoa com tudo o que pode em seus 108 minutos de duração. Zoa com o próprio estúdio que está produzindo o filme e sua relutância em produzi-lo; zoa com os filmes de super-heróis (tem uma piada ótima com os X-Men que não vou adiantar), em especial com o altruísmo em excesso que existe neles, chegando a ter um tom metalinguístico nesse sentido; zoa até mesmo com a carreira e a pessoa de Ryan Reynolds. Palmas para o roteiro escrito a quatro mãos por Rhett Reese e Paul Wernick, que já demonstraram ter um timing cômico afiado em Zumbilândia.

Em seu primeiro longa-metragem como cineasta, o diretor Tim Miller executa com competência as piadas propostas pelo roteiro, em especial com as gags visuais. Ao mesmo tempo em que consegue arrancar a graça das situações simples, Miller surpreende ao transformar situações absurdas e extremamente violentas em momentos engraçadíssimos, diminuindo assim o choque que normalmente sentiríamos em certas sequências. As cenas de ação funcionam muito bem em conjunto com a proposta cômica do filme, fazendo com que Deadpool seja um filme narrativamente coeso como poucos filmes de ação ou até mesmo alguns filmes cômicos são.

Obviamente, Deadpool não seria o filme que é se não fosse pela atuação inspirada de Ryan Reynolds. Ator eclético que já exibiu seu talento várias vezes em filmes variados como Mississippi Grind, Enterrado Vivo, Protegendo o Inimigo, Férias Frustradas de Verão, O Dono da Festa e A Proposta, Reynolds é a razão pela qual o personagem Deadpool é hilário, fazendo com que não consigamos imaginar outro intérprete vestindo o traje vermelho. Reynolds tem a seu favor possuir uma veia cômica impecável, conquistada graças a anos de trabalho com comédias. Além de talentoso, o ator prova também ter bom humor considerando que, em muitas das piadas que vemos no filme, Reynolds precisa rir de si mesmo. Por outro lado, os outros intérpretes não tem outra coisa a fazer a não ser girar em torno da performance do protagonista, e Morena Baccarin, T.J. Miller e Ed Skrein defendem bem os seus personagens, oferecendo um suporte consistente para Reynolds.

Irreverente e engraçado do início ao fim, Deadpool é desde já um dos melhores filmes de 2016 e um dos mais divertidos filmes baseados em histórias em quadrinhos já produzidos. Quem se decepcionou com o personagem em X-Men Origens: Wolverine certamente vai gargalhar alto com este filme. Pessoalmente, mal posso esperar para que venham mais filmes de Deadpool e espero que a Fox saiba explorar ainda mais o potencial do anti-herói falastrão.

Obs.: Não saiam do cinema após o filme acabar, pois tem cena pós-créditos. É divertidíssima e garanto que vocês não vão se arrepender.

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