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[Resenha] Insurgente


Existe uma espécie de consenso silencioso quanto à trilogias literárias e cinematográficas que dita que a segunda obra quase sempre será melhor do que a primeira. Star Wars, Mad Max, O Cavaleiro das Trevas, Jogos Vorazes... Não posso dizer que sou adepto a esta regra; para mim, por várias vezes, na tentativa de intensificar sua trama, “capítulos do meio” apresentaram fortes problemas estruturais que impediram minha total apreciação. O segundo volume da saga Divergente, Insurgente, sem dúvidas é uma dessas obras que se perde na sua própria grandeza, concertando pontualmente alguns dos erros que permearam seu antecessor, mas pecando pela falta de foco e superficialidade.

Em Divergente, o jovem leitor entrou na pele da heroína Beatrice e a acompanhou pelos conflitos, traições e amores proibidos em uma Chicago pós-apocalíptica dividida em cinco facções. Insurgente revisita este cenário e se encontra mais uma vez com Beatrice, que precisará arcar com o peso de suas escolhas. Na Chicago criada por Veronica Roth, as facções estão desmoronando. E Tris Prior tem que arcar com as consequências de suas escolhas. Em Insurgente, a jovem Tris tenta salvar aqueles que ama – e a própria vida – enquanto lida com questões como mágoa e perdão, identidade e lealdade, política e amor.

O lado bom é que, em Insurgente, a interessante mitologia, subutilizada no livro anterior, ganha espaço e se torna um dos carros-chefes da trama. Além das “facções protagonistas”, isto é, Audácia e Abnegação, os demais grupos são amplamente explorados e belamente construídos, garantindo uma identidade própria que os destaca de outros pontos comuns do gênero. O lado ruim é que, enquanto a mitologia se sobressai pela multidimensionalidade e pelo cuidadoso planejamento, o resto permanece obscurecido pela incapacidade de Roth de compor uma atmosfera de genuinidade.


Insurgente consegue ser mais superficial do que seu antecessor – em parte, porque se esforça mais; o que de forma alguma é uma falha: apenas torna mais visível a imaturidade de sua autora. Roth tenta investir numa trama mais emocional e mais densa psicologicamente, mas parece não entender seus próprios personagens. A depressão de Tris jamais ultrapassa o limite do senso comum, e, já de início, se torna tão irreal e rasa que passa a ser irritante e repetitiva; sua conclusão também é súbita e preguiçosa, conveniente para a trama, mas extremamente inverossímil. Similarmente, Roth se perde nos demais plots, jamais encontrando um bom tom de desenvolvimento ou mesmo uma linha principal. Insurgente pula de cenário em cenário, sem jamais se fixar ou definir o que pretende até muito próximo do final.

Com isso, o livro, mesmo com suas recorrentes explosões frenéticas de ação, torna-se imediatamente uma leitura cansativa e arrastada. A narração de Veronica Roth, problemática desde o primeiro volume, pesa aqui mais do que nunca; mesmo a agilidade de sua escrita e as várias reviravoltas da trama não conseguem desfazer a impressão que temos de um desenvolvimento cada vez mais entediante. Ao fim, Insurgente é uma obra que, de fato, aproveita o potencial de Divergente e se constrói em cima de tudo que foi apenas sugerido em seu antecessor – porém, faz isso dentro de tantos limites impostos pela inabilidade de sua autora que falha em ressoar, ou mesmo em se tornar minimamente relevante.

Bagunçado e inconstante, Insurgente comprova que nem sempre ação compensa a falta de uma estrutura forte. Talvez, nas mãos de um(a) autor(a) mais habilidoso(a), o livro, bem como a saga como um todo, pudesse ter real valor e impacto; entretanto, do jeito que é, Insurgente se beneficia de, ao menos, não ser tão genérico quanto o primeiro ato da trilogia Divergente.

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