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[Review] True Detective 2x02/03 - Night Finds You/Maybe Tomorrow

Um passado sob máscaras.


Um passado sob máscaras.

Depois de três episódios do novo ano de True Detective, ainda não sei muito se vale tecer apenas comentários elogiosos, deixando de lado a parte capenga da nova trama escrita por Nic Pizzolatto, ou mesmo conjecturar de forma mais moderada sobre qual o motivo dos aparentes erros de condução dramática, impressos com tanta veemência pelo showrunner. O fato é que eu gosto do que é pretendido quando Velcoro e Ani estão em tela. Gosto do passado quebrado dos dois detetives - até mais do que gostava do Martin, por exemplo -, porém, infelizmente, não dou a mínima para os motivos que levaram à morte de Caspere, o city manager do condado de Vinci.

Claro que eu entendo as regras de um McGuffin e sei bem que o crime e seu autor são aquilo que menos importam - as cabeças por detrás do Rei Amarelo não foram pegas na primeira temporada -, só que fica um pouco difícil se importar com a investigação realizada pelo trio quando tudo o que cerca o plot dos investimentos de Frank Semyon soa desinteressante e aborrecido. Lembro que logo que o novo cast foi anunciado torci o nariz para a escolha do Taylor Kitsch como um dos protagonistas, deixando passar o fato de terem chamado o Vince Vaughn para viver o escuso homem de negócios que colocaria o "assassinato mestre" da temporada como uma resposta ao lado podre dos empreendimentos imobiliários em Los Angeles. Duas horas depois da estreia, fico feliz que o Kitsch tenha posto à prova meu ceticismo quanto a sua interpretação, afinal, Vince Vaughn foi quem se provou como o maior equívoco de casting até aqui.

Das explosões de violência às revelações de um passado traumático, Vaughn não consegue fazer com que a gente acredite que Semyon signifique alguma coisa na trama, mesmo sabendo que seu acordo com Caspere deve ter selado o destino do velho. Todas as reações do seu personagem acabam soando mecânicas e apáticas. Quem liga para a disfunção erétil do cara ou para o fim das suas finanças? Nem mesmo a sequência do episódio três, onde ele encarna o Wilson Fisk, espancando e desdentando um gângster, consegue despertar alguma coisa. Termina que é a figura da sua misteriosa esposa, o único ponto digno de nota quando abrimos os olhos para o seu núcleo. Até porque, a relação dele com Velcoro sofre um afastamento considerável após as ameaças da ex-mulher do detetive.

Acredito também que depois da metade da temporada teremos um panorama considerável do que foi acertado entre Frank, Caspere e Chessani, o prefeito de Vinci. É certo que a vida sexual do finado tem muita parte nos segredos que Chessani anda tentando esconder, mas fico curioso mesmo é com o fato de que as preferências de Caspere pareceram despertar certas memórias em Ani. Se elas fazem parte do passado da detetive na antiga comunidade do pai eu não sei, porém casar as tramas com ela vendo o pornô na cena final de Night Finds You não foi por acaso.


Sim, é Ani Bezzerides a estrela do novo conto de True Detective. Se alguém tinha alguma dúvida disto, os ótimos diálogos da personagem estabeleceram por definitivo o que já se agigantava no material promocional. Ani não gosta de meias palavras, não leva desaforo para casa e nem perde a chance de cutucar quando suspeita de algo. Acho incrível que seus chefes a queiram investigando Velcoro por fora, ao mesmo tempo em que os dois apresentam uma química inegável quando partem juntos para destrinchar a vida de Caspere. Quer dizer, Ani também tem química com Paul e eu penso que o carisma invejável de Rachel McAdams tem muita parte neste feito. A eterna Regina George deixou de lado o estigma de atriz de comédia romântica e encarna um papel durão, que não faz feio a nenhum outro visto em séries do gênero.

Deal with it! Ani no coração <3

No entanto, o que me assusta mesmo são os fantasmas do passado de Ani. Já fui ler um pouco sobre a origem do seu nome e torço para que Pizzolatto coloque um pouco da peça grega e da Antígona original na sua história, afinal ele já fez isso na primeira temporada. A backstory de Ani bem como a de Velcoro são os pontos mais altos da trama e fico esperando por mais a cada peça que vai sendo cuspida em meio a perseguições e assaltos de mascarados. As máscaras inclusive vêm desempenhando um papel imagético assombroso no segundo ano. O corvo e o incendiário nos cliffhangers do segundo e do terceiro episódio, respectivamente, arrepiaram de verdade e confesso que senti aquela sensação de apreensão que se fez ausente na estreia.

Sobram Paul e Ray Velcoro como vértices do triângulo de detetives que carregam plots egressos infinitamente mais interessantes do que aquele que põe a trama central para frente. A cola que põe a entrega de Colin Farrell na constante luta por ser um homem bom para o filho que ele nem sabe se é realmente dele emociona tanto quanto a frieza no olhar de Taylor Kitsch e seu Paul Woodrugh, o patrulheiro que ainda não se encontrou ou não tem coragem de se revelar como realmente deseja. Não esperava que True Detective aprontasse tanto subtexto para tramas que talvez nem vejamos o fim. Mais uma vez elogio o roteiro da série por não precisar estar esmiuçando o que é fácil de compreender por interpretação. Isto é que é TV para gente grande.

Estou dando um deadline de cinco episódios para declarar efetivamente o que é True Detective nesta segunda temporada. Ainda não desvendei e talvez esteja em cima do muro por temer uma decepção maior. Mas que fique claro, não quero que ela venha de forma alguma.

P.S.1: Velcoro chamando Ani de Xena e Ani querendo usar a baby face do Paul para interrogar as prostitutas me fez rir um bocado.

P.S.2: A trilha sonora desse ano me apresentou Lera Lynn, a moça que canta no bar favorito do Ray. 

P.S.3: Bizarríssima a relação entre Paul e sua mãe. Ali tem, hein?

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