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[Crítica] Cidades de Papel


Ah, Hollywood e sua nem sempre saudável busca por novas febres. Depois do sucesso estrondoso de A Culpa é das Estrelas, era de se esperar uma onda de adaptações de outros livros de John Green para capitalizar em cima de uma quase-franquia à lá Nicholas Sparks, de produções anuais, em que pouco importam os dados e outras informações técnicas: é o nome de Green que vem estampado em grandes letras acima do título - mesmo que seu envolvimento com o longa seja mínimo.

Cidades de Papel é o segundo lançamento a seguir esta lógica, com a perspectiva de um terceiro, baseado em Looking for Alaska, já no horizonte. Paper Towns é uma história sobre amadurecimento centrada em Quentin e em sua vizinha, Margo, que gostava tanto de mistérios que acabou se tornando um. Depois de levá-lo a uma noite de aventuras pela cidade, Margo desaparece, deixando para trás pistas para Quentin decifrar. A busca coloca Quentin e seus amigos numa jornada eletrizante. Para encontrá-la, Quentin deve entender o verdadeiro significado de amizade - e de amor.

A sinopse oficial é em muitas maneiras parecida com o resultado final do longa: raso, mas extremamente esforçado em empolgar. Em nenhum momento Cidades de Papel aspira a algo além do que já é: um filme convencional e divertido, mas dolorosamente contido em nossa zona de conforto. Com roteiro inconstante e sem ritmo, e um senso de humor tipicamente hipster, baseado num misto de esquisitice e fofura – que, vale ressaltar, nem sempre funciona –, o longa investe numa atmosfera de loucura e subversão de regras que raramente convence. Não há encantamento, e a liberdade em teoria frenética que procura abordar tropeça no moralismo e em diversos clichês do gênero, tornando difícil levar a sério suas reflexões pouco aprofundadas sobre o tédio burguês e as ansiedades engessadas da classe média – reflexões estas que, longe de serem novidades, podem ser encontradas em qualquer outro filme ou livro teen similar, com o mesmíssimo desenvolvimento.

Como tal, Paper Towns acaba por contentar-se em ser um filme difícil de odiar, ou mesmo desgostar, mas muito irrelevante para ressoar verdadeiramente. Tudo parece empacotado para um consumo rápido e fácil: Cidades não dedica muito de seu tempo à fotografia, direção de arte, trilha sonora ou outros aspectos técnicos em geral, apesar de contar com uma direção agradável e ocasionalmente inspirada de Jake Schreier; os diálogos ligeiramente inteligentes, típicos de John Green, são imediatamente citáveis, mas, neste caso, não exatamente impactantes; já o fraquíssimo elenco se baseia apenas em carisma, em especial de Cara Delevingne, que, apesar de não ser uma atriz genial, consegue conquistar o público com sua Margo devidamente misteriosa e distante, enquanto Nat Wolff demonstra um esforço hercúleo, porém falho, em cativar a audiência com sua inexpressividade e olhos arregalados, não conseguindo se segurar no papel de protagonista. Às vezes enérgico, às vezes não, Paper Towns desenvolve sua trajetória numa corda bamba de extrema segurança e nenhuma ousadia, investindo numa fórmula genérica sem se preocupar em conferir mais do que um júbilo domado e resignado à sua narrativa.

Ao final, Cidades de Papel é um esforço meramente mediano, sustentando-se em puro charme e leveza. Um tanto prazeroso, de fato, divertido e simpático, é mais do que certo que, mais de uma vez, o longa arranque risadas de seu público, mas, ao fim da sessão, é imediatamente esquecível. Longe de ser um Monika e o Desejo ou O Demônio das Onze Horas, ou mesmo O Clube dos Cinco, pelo menos, consegue evitar a completa mediocridade e serve como um bom passatempo - isto é, se não houver melhores passatempos disponíveis.

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