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[Crítica] Homem-Formiga


Quem dera a qualidade do Universo Cinematográfico Marvel fosse tão unânime quanto tentam nos fazer crer. Apesar de ter rapidamente se tornado referência para o gênero, em nenhum momento as produções Marvel estiveram isentas de falhas, contando com algumas derrapadas na Fase Um, que se tornaram majoritárias na fraquíssima Fase Dois. O último filme desta, Homem-Formiga, dificilmente conquistará os mais céticos, mas proporciona um bem-vindo retorno à diversão pura das melhores realizações do MCU – ainda que, no caminho, tropece e cometa erros incômodos.

Armado com a incrível habilidade de se diminuir em escala, mas aumentar sua força, o vigarista Scott Lang (Paul Rudd) deve aceitar seu herói interior e ajudar seu mentor, Dr. Hank Pym (Michael Douglas), a proteger o segredo por trás do seu espetacular traje de Homem-Formiga de uma nova geração de crescentes ameaças. Contra vários obstáculos, Pym e Lang devem planejar e executar um golpe que salvará o mundo.

A demissão de Edgar Wright sem dúvidas teve impacto no resultado final. Ainda que sua direção seja ligeiramente inspirada, Peyton Reed tenta constantemente emular a condução de Wright, que, sem dúvidas, estaria melhor nas mãos do próprio. Assim, o fundamental tropeço de Homem-Formiga é, além da fantástica falta de um espírito central forte, a falta de originalidade que permeia praticamente cada linha do roteiro – um prato cheio para os detratores do imperialismo do MCU. Por isto, o longa acaba pecando pela falta de um senso de dramaticidade e uma trama genérica e profundamente descartável, o que certamente atrairá o desdém do público. Reflexo disto é o primeiro ato, tão inconstante que chega a ser fisicamente doloroso. Os diálogos são didáticos e extremamente óbvios, e a dinâmica, apressada e corrida, no ritmo cambaleante de um texto que aparentemente não faz a menor ideia do que está fazendo.

Felizmente, após uma introdução capenga, o longa encontra um tom próprio que, apesar de não sanar todas as suas falhas, consegue conferir o mínimo de carisma necessário para manter-nos entretidos. O tom dramático permanece ineficaz, mas as ambiciosas cenas de ação capturam com sucesso nosso interesse, constantemente brincando com uma noção muito própria de grandiosidade. Do mesmo modo, Homem-Formiga trabalha com um humor incessante, como uma metralhadora incansável determinada a manter nossa simpatia; por mais que algumas vezes recorra a clichês supérfluos, é revigorante notar que, pelo menos por este filme, a Marvel tenha abandonado o cansativo e repetitivo tom leve e aventureiro de suas produções anteriores para investir numa genuína action-comedy – provavelmente, mais uma vez, buscando inspiração no cinema de Wright, ainda que jamais encontre o mesmo senso de encantamento exagerado e deliciosamente criativo deste.

Outros pontos positivos a serem ressaltados no filme são extremamente pontuais: a boa fotografia em alguns momentos lembra o trabalho de iluminação néon presente em Demolidor, ainda que sem a mesma força, e, à exceção de Corey Stoll, cuja canastrice prejudica a capacidade do espectador de levar seu vilão a sério, o elenco é bastante inspirado. Paul Rudd faz um protagonista carismático, enquanto a performance de Evangeline Lilly deve ser ressaltada não só como uma das mais interessantes do MCU, mas como uma promessa para o futuro da franquia. O mesmo pode ser dito de Michael Douglas na pele de Hank Pym, o Homem-Formiga original, numa inteligente jogada que proporciona uma bem-vinda variação às histórias de origem no MCU, além de um fan service inspirado. Aliás, talvez, é provável que Homem-Formiga seja o filme com mais referências dentro do Universo Cinematográfico Marvel, desde breve menções a outros heróis até participações especiais, na péssima cena de abertura e numa ótima cena de ação durante o segundo ato, podendo configurar a primeira vez em que um filme solo se enlaça de verdade com o Universo como um todo – uma demanda dos fãs desde o primeiro Vingadores, que, fosse atendida antes, poderia ter melhorado consideravelmente os rumos desta Fase Dois.

Formulático, previsível, didático, falho e inegavelmente bagunçado, Homem-Formiga se segura apenas em pura empolgação. Juvenil e bobo, de fato, mas enérgico, dificilmente será o filme favorito de alguém dentro do Universo Cinematográfico Marvel, e pode até mesmo irritar certos espectadores, mas, para a maioria, será um guilty pleasure bastante divertido, ainda que dispensável.

Marvel Studios 8981022144414074779

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