loggado
Carregando...

[Crítica] Lucy


Quando a jovem Lucy (Scarlett Johansson) se vê obrigada a transportar drogas dentro do seu próprio corpo, ela não imagina o tamanho do risco que corre. Após seu organismo ser exposto acidentalmente a altas quantidades de uma misteriosa substância sintética, um efeito avassalador acontece: Lucy tem a capacidade de utilizar 100% de seu cérebro, tornando-a uma verdadeira máquina. Premissa interessante? Sim. Um tanto quanto repetida e clichê, mas nem por isso menos interessante. Mas o que Lucy fez de tão errado?

Não é novidade o quanto a ficção científica, como gênero cinematográfico, tem a capacidade instantânea de conquistar cinéfilos e simpatizantes da Sétima Arte. Utilizar-se do imaginário e da capacidade de percepção para criar histórias que ultrapassam os limites da ciência são, sem dúvidas, prato cheio para grandes produções. No entanto, nem sempre a receita consegue dar certo.

Com direção e roteiro de Luc Besson (13º Distrito), Lucy dá uma aula de Cinema. E não é das melhores. Os aspectos técnicos do filme chegam a compor uma massa gigantesca de uma bagunça que parece não ter fim. A direção de Besson é confusa e completamente desordenada: com câmeras que percorrem o cenário e seus personagens sem um objetivo claro, aquelas que deveriam se tornar cenas-chave do longa passam totalmente despercebidas aos olhos do espectador. O roteiro pobre e desconexo não consegue sequer convencer sobre a trama que tenta calejadamente se desenvolver durante 89 minutos, em que a insistência em recorrer ao conhecimento prévio do público para criar um elo com a história e seus personagens se torna corriqueira e sem sucesso. Quando é possível, em alguns raros momentos, comprar aquilo que ocorre em tela e seguir com a ideia até o fim, a auto-sabotagem reaparece fielmente, resumindo a própria trama à facilidade das soluções medíocres.

O elenco também é outro que não está em sua melhor forma. Nem a beleza e simpatia de Scarlett Johansson foram capazes de transformar sua Lucy em um personagem forte e digno das maiores torcidas. Ao fim da produção, a protagonista torna-se apenas mais um personagem comum em meio a tantos outros esquecidos pelo Cinema. Sem um propósito maior para sua interpretação, Morgan Freeman e seu núcleo se tornam subvalorizados na trama, sendo até dispensáveis se analisarmos no contexto geral. O que se torna uma lástima, já que a ciência propriamente dita é a única capaz de despertar genuinamente no espectador o mínimo de interesse pela história.

Com um time de personagens secundários que também deixa a desejar, a quantidade infundada de subtramas incomoda, e muito. É quase impossível fazer, rapidamente, uma conexão entre todos os subnúcleos de maneira consciente, sem se perguntar "o que era mesmo que aquele fulano de tal fazia?".

Figurando na lista de produções que mais deixaram a desejar neste ano de 2014, Lucy decepciona pela total falta de comprometimento com sua própria trama. Apostar apenas no sucesso prévio de grandes atores para elevar os números nas bilheterias é quase sempre um risco muito alto a se correr. Para Lucy, este risco pode se tornar alto até demais.

P.S.: Com um fim desses (péssimo e de mau gosto, por sinal), Lucy se torna o prelúdio de Ela (Her), é isso mesmo?


Lucy 3835293532491600216

Postar um comentário Comentários Disqus

Página inicial item