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[Review] The Leftovers 1x09 - The Garveys At Their Best


Como falar deste episódio? Como resumir tantas camadas e tanto conteúdo em um só texto? The Garveys At Their Best não foi simplesmente um exercício sobre luto e tristeza, a exemplo dos episódios anteriores. Com The Garveys, The Leftovers conseguiu entregar a hora mais angustiante de toda sua temporada.

Não vou mentir: foi difícil chegar até o fim deste episódio. Com pouco mais de vinte minutos, eu já não aguentava a tensão. É impressionante a quantidade e a intensidade da pressão psicológica que The Garveys At Their Best confia ao espectador, especialmente ao mais atento, que conseguirá traçar vários paralelos deste nono episódio para com o resto da temporada. Este episódio flerta com vários aspectos, vários detalhes mínimos e até mesmo esquecidos dos oito episódios anteriores, de forma que não existe apenas uma ou outra cena de destaque, ou alguns poucos momentos mais dolorosos: tudo, absolutamente tudo, do início ao fim, é uma odisseia de dor e angústia. Você, leitor, consegue perceber o tamanho desta conquista? Como um episódio - ainda por cima de uma série estreante que começou com vários problemas em seu encalço - consegue assombrar, atingir e revirar seu espectador em absolutamente cada aspecto? Em praticamente cada frase no roteiro - literalmente cada frase -, havia um novo soco no estômago para os mais apaixonados por esta série, que conseguiam captar, em detalhes, o quão destruidora foi a trajetória destes personagens.

Esta foi, sem dúvidas, a jogada mais genial de The Leftovers: desenvolver cada trama ao longo da temporada e deixar as explicações somente para o fim é algo comum em narrativas de mistério, mas poucas conseguem conciliar emoção e surpresa como neste episódio. Nem todas as respostas chegam a ser novidade - várias dicas já haviam sido dadas antes -, mas algumas são devastadoras. A sequência final, então, brutal e belamente orquestrada, foi uma sinfonia de emoções: em cada cena, uma nova pontada; em cada momento, embalado pelo tema da série, uma nova facada. É impossível suportar estes últimos cinco  e sair ileso; a expectativa quanto ao que irá acontecer, junto ao desejo de que não aconteça de maneira alguma, geram no espectador (ou, ao menos, em mim) um sentimento de impotência, a impossibilidade de manter estes queridos personagens felizes, de impedir seus respectivos sofrimentos. Ainda assim, entretanto, não temos todas as respostas, o que garante uma segunda temporada tão misteriosa quanto esta primeira. Se não houvesse tanta coisa em aberto, eu diria que The Leftovers estaria por seguir o caminho antológico de True Detective e American Horror Story.

Incrível também foi ver a diferença dos personagens, entre os dias pré-arrebatamento e o presente. A diferença mais notória foi, sem dúvidas, Jill. Se a performance de Margareth Qualley já havia me interessado na semana passada, nesta ela me surpreendeu. Apesar de um excesso de risinhos irritantes (culpa que escolho colocar no roteiro), Qualley conseguiu construir um personagem completamente diferente e, ainda assim, absurdamente real. O mesmo serve para Chris Zylka, apesar de em menor escala. Zylka, por quem nutro certo ranço devido às péssimas atuações em trabalhos anteriores, cresceu muito como ator, e, mesmo ainda tendo um longo caminho pela frente, já provou ter ganho maturidade, e, estando no caminho certo, merece nosso interesse. Justin Theroux e Amy Brenneman também estiveram bem em seus respectivos personagens, optando por uma construção mais sublime, mas não menos impressionante. A minha simpatia maior, entretanto, vai novamente para Nora - uma de minhas personagens favoritas -, cuja trama, apesar de ser reduzida neste episódio, foi marcada pela dor (quer dizer, por mais dor ainda que todas as outras) do início ao fim, em especial em sua última cena.

O "saber" foi essencial para o sucesso de The Garveys At Their Best. Uma vez que o espectador já sabe de todas as dores, todos os acontecimentos do presente, olhar para o passado, mesmo que mais bonito, pacífico e alegre, foi destruidor, absolutamente destruidor, em 55 minutos de angústia insaciável para todos os personagens. Deve-se ressaltar a construção desse passado desde a fotografia - menos fria, mais colorida, para transmitir uma aura mais calma - até a direção - cujos maneirismos, mesmo que necessários para diferenciar o passado do presente, foram um tanto irritantes; além disso, mais uma vez, marcaram presença cenas visualmente pobres, como a da explosão do bueiro. Mesmo com estes pequenos erros, porém, The Garveys At Their Best foi um episódio visceralmente perfeito. Ignorem o fato de eu não conferir as merecidas 5 estrelas para este capítulo; sou obrigado a levar em conta pequenas falhas e descontá-las da nota final. Considerem esta uma nota máxima espiritual, afinal, The Garveys At Their Best foi, de fato, o melhor episódio de The Leftovers - tão bom que acho difícil mesmo a finale superar.


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