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[Resenha] Não Me Abandone Jamais


Um dos meus livros favoritos de todos os tempos, é difícil falar sobre Não Me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro. Considerado uma das obras mais importantes do autor, junto com Os Resíduos do Dia, Não Me Abandone Jamais é uma história impossível de medir em palavras, um exemplo de impacto emocional e criatividade deslumbrantes, que juntos se moldam para construir uma obra que vai longe em suas pretensões e deixa uma profunda e dolorosa cicatriz em seus leitores.

Não Me Abandone Jamais mescla drama existencial, romance, ficção científica, distopia, suspense, mistério e coming-of-age; portanto, é difícil fazer um resumo sem spoilers que fique à altura deste livro. Começamos a leitura sabendo pouco, somente que esta é a história de Kathy, uma mulher que, após anos como "cuidadora", finalmente vai se tornar uma "doadora". Prestes a iniciar esta nova fase em sua vida, Kathy relembra sua alegre infância no internato Hailsham. Mas logo percebemos fissuras em suas memórias. Por que, com tanta perfeição, em Hailsham se respira medo? Por que o isolamento? Por que os alunos são tão especiais?

Não Me Abandone Jamais é um exercício de nostalgia. Primeiro porque, apesar de elementos distópicos e alguns sinais de tecnologia mais avançada, grande parte da história se passa nos anos 1970 e 1980. Segundo, porque toda a história se trata de uma recordação da protagonista, que reconstrói sua vida desde a infância até seus dias presentes. Neste quesito, Não Me Abandone Jamais é uma belíssima e sensível história de amadurecimento, mostrando situações que nem todos nós experienciamos - algumas muito diferentes do nosso cotidiano -, mas que logo criam empatia com o leitor. É impossível não se identificar com as dúvidas de Kathy e seus amigos ao longo da infância e da adolescência, com as transformações de seu crescimento e com as descobertas provenientes da idade. É quase como se nós estivéssemos nos lembrando de nossas vidas junto à Kathy. As páginas são cheias de emoções saudosistas, criando uma aura constante de beleza e deslumbramento que nunca recorre ao sentimentalismo ou ao típico melodrama.

Por isso, Não Me Abandone Jamais também é destruidor. Esta não é uma história feliz. Quando os mistérios vão ganhando respostas, vamos percebendo o quão condenados estes queridos personagem estavam desde o início. Cada nova descoberta é um soco no estômago, que serve para nos lembrar que nenhum deles jamais pode mudar seu destino; nenhum deles jamais teve chance. O sistema sob o qual vivem os criou para isto - e é diante da tragédia que Kathy relembra com carinho de suas mais doces memórias.

Densamente emocional, embalado pela belíssima narração de Kazuo Ishiguro e cheio de beleza e criatividade na construção de seu mundo, é difícil encontrar uma falha que seja neste livro. Não Me Abandone Jamais é um dos livros mais dolorosos e angustiantes que já tive o prazer de ler, e, assim como Kathy com suas memórias, é algo que sempre carregarei com carinho.

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