[Fica a Dica] Livro: Orange is the New Black
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Orange is the New Black, livro escrito por Piper Kerman, que serviu de base para a criação da ótima série homônima do Netflix, conta a história de Piper um pouco como na série: adulta, com uma vida encaminhada e um relacionamento estável com o escritor Larry, ela se vê de repente em meio a um processo criminal por tráfico de drogas que envolve relacionamentos e erros cometidos no começo de sua juventude. Para cumprir menos tempo de pena, admite a culpa e é condenada, depois de uma espera de cinco anos a se apresentar para passar 13 meses em um presídio.
Uma coisa que gostei muito foi que a linguagem do livro é bem fácil e as histórias me levaram a um mundo até então desconhecido: o submundo do crime e das penitenciárias femininas. É impressionante como Kerman consegue nos passar exatamente como está se sentindo com muita clareza, de modo que a identificação se torna quase que imediata. Para os que, assim como eu, já assistiram e são fãs do seriado, a essência da trama é a mesma e muitas situações foram adaptadas para as telas com incrível autenticidade, porém, muitas alterações foram feitas.
Para mim, a principal delas é o relacionamento entre Piper e Nora Jansen (que no seriado, é chamada de Alex Vause). Acompanhamos todas as viagens e luxos e o encantamento da moça por Nora. Toda a trama do que levou Piper a transportar dinheiro gerado pelo tráfico internacional de drogas é esmiuçada com mais calma no livro, de modo que a coisa funciona tão bem quanto no seriado, porém de forma mais coesa, sem pressa. Além disto, na obra literária, Nora não é presa na mesma cadeia que Piper Chapman; na verdade, elas só se encontram quando Piper é transferida para Chicago para aguardar o julgamento do traficante Kubra Balik (Jonathan Bibby, no livro) quase treze meses depois de estar na prisão. Provavelmente essa foi uma decisão dos roteiristas da série para trazer uma dramaticidade e tornar o enredo mais interessante para o programa.
Os nomes dos personagens também foram alterados. Piper Kerman, que no seriado se chama Piper Chapman, deixa claro que os nomes utilizados no livro são fictícios, a não ser aqueles em que os personagens autorizaram o uso do nome verdadeiro. Aparentemente, os produtores do seriado não gostaram dos nomes criados pela autora, e acabaram alterando alguns detalhes, a começar pela prisão.
A Piper real foi presa na penitenciária feminina de Danbury, em Connecticut, enquanto no seriado a personagem vai à prisão de Litchfield, no mesmo Estado.
Como já citei antes, Alex Vause na verdade é Nora Jansen. Red, a cozinheira russa, é chamada de Pop - uma das pessoas a quem Piper dedica o livro. Já outras personagens tiveram seus nomes mantidos, como o Larry, Pennsatucky - que infelizmente não tem muito destaque no livro e recebe apenas poucas linhas - e Crazy Eyes. Esta, aliás, é completamente diferente no livro. Na história real, ela é hispânica e chamada de Morena. Piper conta que ela tinha aspecto imaculado, com uniforme passado e arrumado, mas seus olhos eram assustadores.
Obviamente o discurso da necessidade de se rever as condições e o cotidiano dos presídios está melhor colocado no livro.
Orange is the New Black traz, também, dados (lembra, por exemplo, que um dos principais problemas dos Estados Unidos é que a sua população carcerária é a maior do mundo) junto à experiência da autora.
Se existe um ponto que pode ser caracterizado como negativo no livro, em comparação com o seriado, esse seria a centralização de toda a trama em Piper, o que faz todo sentido, visto que esta é uma obra autobiográfica. Entretanto, creio que a forma como a história é contada na série seja mais atraente e nos permita uma visão mais ampla da situação da protagonista.
Minha conclusão é que, ao ler o livro, não podemos esperar todas as reviravoltas que ocorrem na série, entretanto a obra original de Kerman tem o mérito de ser bem mais séria e mais confessional sobre a vivência no presídio, sendo válida para quem se interessou mais pelo tema do que pelo impacto da história.