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[Resenha] Os Instrumentos Mortais: Cidade de Vidro

O final da trilogia original de Os Instrumentos Mortais pode não ser perfeito (e não ser exatamente um final), mas ainda assim é um bom...


O final da trilogia original de Os Instrumentos Mortais pode não ser perfeito (e não ser exatamente um final), mas ainda assim é um bom momento de nostalgia para a série.

Atenção: Haverá SPOILERS dos livros anteriores.

Após três livros, 1300 páginas, um universo inteiro de fantasia e personagens fantásticos, chegamos ao fim de Os Instrumentos Mortais... ou assim pensávamos. Cidade de Vidro, o terceiro volume da trilogia, não é o final desse universo, como se pensava em 2009, quando o livro chegou às livrarias. Apesar de trazer um fim para a Guerra Mortal e resolver todos os mistérios que envolviam o passado de Jace e Clary, sabemos que este não é o fim da saga, que ainda conta com as continuações Cidade dos Anjos Caídos, Cidade das Almas Perdidas e o ainda não lançado Cidade do Fogo Celestial. Isso sem contar a trilogia prequel As Peças Infernais e os vários spin-offs que serão lançados ao longo dos próximos anos. Então, em que página isso nos coloca?

Por enquanto, vamos tratar de Cidade de Vidro. Após a batalha com Valentim, os Caçadores de Sombras se reúnem em seu país natal, Idris, para a iminência da guerra, na deslumbrante Cidade de Vidro, a capital Alicante. Clary está a ponto de encontrar a cura para sua mãe, mas, para isso, terá de enfrentar as políticas da Clave e o perigo que se aproxima. Lá, entretanto, ela ganha o apoio de Sebastian, um estranho e perigoso garoto cheio de escuridão dentro de si. Enquanto isso, Simon deve enfrentar sua nova natureza como vampiro recém-transformado, ao mesmo tempo que acaba se metendo nos problemas dos Caçadores de Sombras – o que pode causar sua destruição. A batalha final com os demônios de Valentim se aproxima, ameaçando destruir a Clave e tudo o que os Caçadores amam.

Este último volume está, sem dúvidas, um nível abaixo de Cidade das Cinzas. Ainda assim, consegue ser um final intenso e poderoso para a guerra, com perdas irreparáveis. Muito mais sombrio que os capítulos anteriores, Cidade de Vidro se preocupa bastante em construir uma temática trágica e melancólica, mostrando a dor e o sofrimento de seus vários personagens. Ainda investindo numa narrativa fragmentada, Os Instrumentos Mortais impressiona pelo sensibilidade em trazer algumas despedidas e em fechar a série num ritmo emocionante – mesmo que Cassandra Clare não pretendesse abandonar seus personagens tão cedo.

Seguindo o modelo do livro anterior, Cidade de Vidro constrói suas primeiras páginas em torno de seus personagens, procurando desenvolver seus motivos e seus atos em meio à guerra. Trazendo várias perguntas e novas respostas, o livro altera a dinâmica dos volumes anteriores, deixando de lado o humor para tratar das revelações nada agradáveis. A origem dos poderes de Clary e Jace é surpreendente por se encaixar tão perfeitamente na mitologia da saga, chegando a ser perfeita. Na metade do livro, entretanto, é dado o início de uma longa batalha que mudará os rumos do livro e trará momentos tristes e devastadores. Há uma clara inspiração de O Senhor dos Anéis aqui, em especial O Retorno do Rei, uma vez que o final da saga dos hobbits também conta com uma grande batalha na metade da narrativa, possibilitando um clímax mais focado nas reviravoltas.

A partir daí, nas páginas entre a batalha de Alicante e a batalha final, temos momentos de nostalgia quanto aos volumes anteriores da saga. Lembramos o porquê amamos tanto estes personagens, são dadas as últimas respostas e, acima de tudo, testemunhamos cenas que esperamos ao longo dos três livros. É incrivelmente reconfortante ver Clary, Simon, Maia, Luke, Alec, Isabelle e Magnus lutando ao lado da Clave, assim como ver Jace enfrentando Valentim. Melhor ainda é o final que esses personagens ganham: dando-me o direito de soltar alguns pequenos spoilers, os fãs podem esperar a realização do casal Magnus e Alec, que desde o primeiro livro chamam a atenção por trazer uma temática voltada aos direitos civis numa história adolescentes, e se juntam de maneira divertida e irreverente. Malec é um dos shipps mais adorados da série, e não poderia ter um final diferente. O crescimento de Simon ao longo dos três livros, passando do nerd desajeitado de Cidade dos Ossos a um vampiro forte e confiante, também é impressionante e irônico, divertido de se recordar e de se acompanhar. Isabelle é, por si só, um espetáculo, e no último livro não é diferente. E se os leitores estão preocupados com as respostas e reviravoltas, que se tornaram marca da saga, não criem pânico: Cidade de Vidro demonstra a habilidade de criar de Cassandra Clare mais afiada do que nunca, garantindo momentos marcantes e um aprofundamento surpreendente da mitologia. Certos detalhes sobre a fantasia de Cidade de Vidro são irrefreáveis; os fãs não perdem por esperar.

O grande problema de Cidade de Vidro é que, apesar de algumas reviravoltas serem genuinamente surpreendentes, outras são bastante previsíveis. A real intenção de Sebastian, sem dúvidas, é uma delas, assim como a de Valentim. Em relação aos vilões, apesar de haver alguns momentos realmente emocionais na relação entre Valentim e Jace, a maioria bate no clichê e na previsibilidade.

O epílogo de Cidade de Vidro fecha a trilogia com chave de ouro, permitindo aos personagens não só um momento para serem eles mesmos após todo o caos da guerra, mas também um último momento para se relacionarem, da mesma maneira que fizeram ao longo de três livros, e se despedirem, sempre com bom humor mesmo diante da melancolia do final. As últimas páginas são de uma simplicidade emocionante. A trilogia original de Os Instrumentos Mortais se encerra aqui, no tom de cumplicidade e união que marcou essa história e seus personagens.

Agora, a dúvida de muitos: afinal, qual é o fim de Os Instrumentos Mortais? Deixe-me explicar: após a publicação de Cidade de Vidro, em 2009, Cassandra Clare anunciou que iria publicar mais uma trilogia focada em Jace, Clary e seus amigos. Essa trilogia acabou virando os livros 4, 5 e 6: Cidade dos Anjos Caídos, Cidade das Almas Perdidas e Cidade do Fogo Celestial. Paralelamente, ela prometeu publicar também a trilogia As Peças Infernais: formada por Anjo Mecânico, Príncipe Mecânico e Princesa Mecânica, a história acompanha um grupo de Caçadores de Sombras na Londres do século XIX no meio de uma trama steampunk. Apesar de serem histórias independentes, as duas sagas se passam no mesmo universo e tem uma pequena ligação entre si (inclusive, personagens de As Peças Infernais desempenham papéis menores e têm impacto na nova trilogia de Os Instrumentos Mortais). Essas sagas expandem o universo dos Caçadores de Sombras (chega a ser assustador a complexidade com que as histórias se desdobram entre si, perfeitamente amarradas e sem uma única falha), por isso, é interessante ler ambas. Mas fique alerta: apesar de serem histórias independentes, podendo ser lidas em qualquer ordem, eu, como fã, sugiro que obedeça a ordem de lançamento, isto é: Cidade dos Ossos, Cidade das Cinzas, Cidade de Vidro, Anjo Mecânico, Cidade dos Anjos Caídos, Príncipe Mecânico, Cidade das Almas Perdidas, Princesa Mecânica e, por fim, Cidade do Fogo Celestial, que será lançado no fim do semestre. Assim como em As Crônicas de Nárnia, é uma experiência maior e melhor do que ler na ordem cronológica. Minhas próximas resenhas, por exemplo, obedecerão a ordem de lançamento. Por outro lado, se você, leitor, preferir não continuar a ler nenhuma das sagas e parar em Cidade de Vidro, também é algo possível, uma vez que o livro fecha as pontas soltas. Fica à escolha do leitor, apesar de eu, como fã, adorar saber um pouco mais sobre esse universo fantástico.

P.S.: Leiam na ordem de lançamento. Sério.

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