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[Crítica] 12 Anos de Escravidão


Olhar para o passado é algo para os fortes. É para aqueles que conseguem lidar com as atrocidades cometidas pelos seres humanos contra eles próprios. Um dos episódios mais abomináveis de nossa história atende pelo nome de escravidão, no caso a ocorrida nos EUA entre os séculos XVII e XIX. E é um olhar sobre esse período que Steve McQueen constrói seu filme. 12 Anos de Escravidão é uma reflexão sobre um tempo onde liberdade era para poucos e a dignidade para menos ainda. Até hoje, mais de um século após o final da escravidão, o racismo persiste. E talvez seja por isso que películas como 12 Anos sejam necessárias, assim como Django ano passado e The Help em 2011, só para citar alguns exemplos. 

12 Anos de Escravidão conta a história de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem livre que foi sequestrado e vendido como escravo em um período anterior a Guerra Civil Americana. Separado de sua família, Solomon passa a reviver os horrores da escravidão em uma fazenda do sul dos EUA. Sem chances de provar sua verdadeira identidade, ele decide sobreviver, e seu talento como violinista o ajuda. Dessa forma, a narrativa se desenvolve. 

Steve McQueen não hesita em mostrar o tratamento dado aos escravos desde o inicio da história. Após ser enganado, Solomon é sequestrado justamente em Washington. A intensidade do drama é pesada, porém o ritmo do filme não cansa. Solomon vai presenciando a morte, a separação de famílias e a maldade do homem branco, com a exceção de poucos que parecem ser mais sensatos. Benedict Cumberbatch, que virou arroz de festa no Oscar desse ano (está também em Álbum de FamíliaAlém da Escuridão - Star Trek e ainda em O Hobbit - A Desolação de Smaug dando voz ao dragão), interpreta o fazendeiro Ford, e apresenta uma atuação sólida, mas apagada se comparada a do próprio Chiwetel, além de Paul Dano, que junto com o protagonista entrega uma das melhores cenas do filme, quando o "mestre" apanha do escravo. O resultado é um dos planos mais sensíveis do filme, com Solomon resistindo para não morrer enforcado em uma cena tão delicada quanto chocante. 

A delicadeza e a brutalidade são postas em confronto a todo o momento, e esse é mais um dos pontos fortes de 12 Anos de Escravidão. A vida de Solomon como escravo de Ford se encerra para partirmos em direção aos momentos mais fortes do filme. Se Ford tinha algum bom senso, isso desaparece completamente com Edwin Epps, então brilhantemente interpretado por Michael Fassbender. Epps é cruel e insano e a tensão entre ele e sua "propriedade" é vista em diversos momentos no filme. Novamente opostos são expostos em cena com a introdução de Patsey, jovem escrava interpretada por Lupita Nyong'o. A atuação da jovem é impressionante e digna do Oscar. A dinâmica entre Epps, Solomon e Patsey alavanca a força da história, que se torna cativante, forte e sensível. As crueldades cometidas por Epps e por sua esposa (Sarah Paulson) levam a momentos de extrema profundidade, quando Solomon desabafa sua real opinião sobre seu senhor enquanto ele chicoteia Patsey.

O roteiro apresenta algumas falhas, como diálogos expositivos, porém tem pontos que privilegiam a atuação de seus atores, como quando Solomon canta ou Patsey é fortemente castigada. Os momentos dramáticos, porém, sofrem com o excesso da repetição da trilha de Hanz Zimmer, que lembra muito a de A Origem, mas felizmente não chega a ser um grande problema para o espectador. No último ato ainda contamos com a participação de Brad Pitt, um dos poucos que dá ouvidos a Solomon.

Se pensarmos que haviam 4 milhões de escravos na época da abolição e que a história de Solomon é só mais uma, 12 Anos consegue ser ainda mais impactante. Uma obra que não foge do clássico "drama histórico favorito ao Oscar", porém consegue destaque por tratar de um tema tão delicado e necessário como a escravidão. É difícil não se emocionar, porém, mais que isso, é importante tentar entender o mundo em que viveu Solomon e como ainda existem efeitos disso nos dias atuais. Acredito que essa seja a proposta de Steve McQueen, que teve a má sorte de ser indicado no mesmo ano de Alfonso Cuarón, pois o prêmio de melhor direção já está claramente definido. Chocante e ao mesmo tempo sensível, 12 Anos de Escravidão deve ficar um tempo na memória das pessoas menos frias, e principalmente daquelas que conseguem se imaginar no lugar de Solomon, ou de qualquer um dos escravos vistos no filme. Lágrimas serão permitidas ao final, mas a reflexão que fica é ainda mais duradoura.

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