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[Resenha] Percy Jackson e os Olimpianos

Uma saga de exageros.


Uma saga de exageros.

Percy Jackson é provavelmente uma das sagas mais polêmicas da atualidade, e isso se deve a vários motivos: os filmes, que desagradam tanto aos fãs que eles fazem questão de deixar isso claro em qualquer situação; os livros, que ainda hoje encontram-se no meio de uma discussão em relação a sua qualidade literária; o autor, Rick Riordan, que não esconde sua antipatia e frieza quanto aos fãs; e as constantes e perigosas acusações de plágio. Seja como for, Olimpianos se firmou no mundo das sagas, ganhando uma fandom quilométrica e um número de vendas igualmente extraordinário. 

Percy Jackson e os Olimpianos conta a história do personagem-título, que, ao completar 12 anos, descobre que é filho de Poseidon, um deus grego, e passa a frequentar o Acampamento Meio Sangue - um lugar especial para os semideuses se protegerem dos monstros e treinarem para a vida adulta. Como se não bastasse a descoberta, Percy também passa a ser centro de uma profecia que pode destruir ou salvar o Olimpo, principalmente após o retorno da ameaça de Cronos, um titã que pretende destruir a civilização ocidental.

Olimpianos é, inegavelmente, uma história divertida, mas sofre de inúmeros problemas. Um deles - e provavelmente o maior - é a infantilidade. Claro, a intenção da série sempre foi apelar para o público infanto-juvenil, mas, no processo, acaba se tornando uma história boba, superficial e insuportável para qualquer um que já não esteja sob o encanto da literatura young adult. Isso e, claro, as várias semelhanças com outras séries, particularmente com Harry Potter. Muitos dos detalhes de Olimpianos parecem descaradamente copiados da saga de J. K. Rowling, em especial nos primeiros livros. A fórmula é a mesma: há um trio de personagens principais, dois garotos e uma garota, sendo a garota, Annabeth, a personagem mais inteligente, e o melhor amigo do protagonista, Grover, um garoto atrapalhado responsável pelo alívio cômico; há um mestre velho e bondoso, e um professor rabugento com uma cisma especial contra o protagonista; há o valentão da escola, que nesse caso tem a desculpa de ser uma filha do deus da guerra; e, sim, também há um boné de invisibilidade e um táxi especial para semideuses. Como podem ver, as comparações não são poucas, e irão com certeza incomodar aqueles que procuram algo além de uma leitura engraçadinha.


O Ladrão de Raios


Primeiro livro da saga, O Ladrão de Raios introduz os personagens e conta com todos os clichês acima citados. É, provavelmente, o livro mais incômodo de Olimpianos - talvez, devido à surpresa de encontrar uma fórmula tão batida e cansativa. Eu mesmo, com 12 anos, terminei o livro sem expectativa de comprar o segundo num futuro próximo - e, se uma criança de 12 anos percebe as falhas, os clichês e a infantilidade excessiva da narrativa (com direito a apelidos bobinhos como "cabeça de alga" ou "monte de carne moída", e situações pra lá de Sessão da Tarde), quem não irá? Por outro lado, apesar da surpresa negativa de ver tantos elementos copiados de outras sagas, O Ladrão de Raios também consegue ser carismático o suficiente para encantar ao menos um pouquinho. As cenas de ação são empolgantes e os personagens, ainda que caricatos, são envolventes. E, para quem conhece um pouco de mitologia grega, é bastante divertido ver as várias lendas se entrelaçando e formando visões modernas das fábulas.



O Mar de Monstros


Se O Ladrão de Raios conseguia se beneficiar do mínimo de carisma, o mesmo não pode ser dito de O Mar de Monstros. A continuação espertamente se afasta das comparações com Harry Potter ao criar uma nova dinâmica, mas infelizmente afunda ainda mais no seu teor infantil e passa a criar situações estranhíssimas e até mesmo forçadas, dignas de livretos da pré-escola. O Mar de Monstros parece se desenrolar no piloto automático, apenas reproduzindo vários clichês de histórias infantis, ignorando o fato de que os personagens deveriam estar mais maduros e crescidos. Há até mesmo personagens se vestindo de noiva para proporcionar alívio cômico, tornando toda a situação impossível de ser levada a sério. No lado positivo, há maior aprofundamento na mitologia da série e mais detalhes sobre a trama principal, que envolve Cronos, e o gancho no final é bastante surpreendente; esses detalhes não melhoram o livro, mas o salvam de ser absolutamente terrível.



A Maldição do Titã


Tudo o que faltou nos primeiros livros da série é mais do que recompensado em A Maldição do Titã. O melhor livro da saga é sombrio, dramático, triste e absurdamente viciante. Finalmente, Rick Riordan decidiu elevar o perigo e tornar as coisas mais sérias. O elemento cômico e os traços infantis enfim encontram seu lugar, deixando de lado o exagero, e novos personagens surpreendentes são introduzidos: Thalia, Bianca e Zoe são três das melhores que passaram pela série. A Maldição do Titã também reserva alguns momentos bastante emocionais, um dos motivos pelos quais este é o livro em que Percy Jackson finalmente encontra seu tom e seu lugar dentre as sagas de sucesso.



A Batalha do Labirinto


Mas, como tudo que é bom dura pouco, logo depois vem A Batalha do Labirinto, o penúltimo e pior livro da série. Se este deveria ser o momento do ápice de tensão e perigo - uma preparação para a batalha final -, A Batalha do Labirinto falha por ser arrastado e muitas vezes tedioso, cheio de situações desnecessárias e muitas conveniências forçadas. O livro se preocupa muito em encher linguiça com momentos gratuitos e sem importância, e acaba deixando de lado a história principal, que só volta a ganhar atenção nas últimas páginas. No processo, acaba deixando personagens secundários subdesenvolvidos e criando reviravoltas difíceis de acreditar. Como história, A Batalha do Labirinto não consegue se segurar, e serve apenas como introdução para o final da saga.



O Último Olimpiano


E aqui estamos, no final da saga. O Último Olimpiano se beneficia da densidade emocional criada pelos livros anteriores, que, mesmo cheios de altos e baixos e de desenvolvimentos precários, conseguiram nos envolver com seus vários personagens, de forma que esse adeus tem seu tom de melancolia. É verdade que Rick Riordan por vezes parece perdido em seu intuito de criar um final bombástico; por exemplo, há várias cenas de batalhas empolgantes, mas sem um grande motivo para estarem acontecendo ou para serem tão longas, e também há várias mortes de personagens secundários, como se o autor não tivesse coragem de matar os principais. Mas é impossível não sentir um aperto no coração com algumas cenas bastante emocionais e as várias resoluções bem pensadas, ainda que algumas pareçam convenientes demais. Seja como for, com todos os seus erros, O Último Olimpiano ainda é um livro emocional e bastante envolvente para quem acompanhou a saga de Percy Jackson ao longo de seus cinco livros.



Inconstante e atrapalhada, a saga Percy Jackson e os Olimpianos teve seus momentos e seus muitos erros. Para o leitor mais exigente, é uma bomba. Para quem procura apenas uma diversão inocente, é uma leitura leve e cheia de besteiras, mas que cumpre seu intuito. Seja como for, Olimpianos ainda tem seu reconhecimento dentre a literatura jovem, e fez tanto sucesso que deu origem a vários spin-offs, incluindo a saga Os Heróis do Olimpo, que dá continuidade à luta de Percy.
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