[Review] American Horror Story: Coven 3x02 - Boy Parts
Culpa por associação.
http://siteloggado.blogspot.com/2013/10/review-american-horror-story-coven-3x02.html
No horror,
existe uma linha tênue que o separa do humor negro e eu sempre achei genial
produções que conseguem usar este limite como um artifício para criar histórias
tão absurdas que, para os mais desavisados, soariam até como piadas de mau
gosto. Em sua estreia, Coven havia
começado a flertar com a estrutura citada, afinal a promessa de um ano menos
opressivo do que Asylum tinha de ser
cumprida de alguma forma. Porém, se o sótão de Madame LaLaurie, o estupro de
Madison e a vingança de Zoe no primeiro episódio, meio que surgiram para nos
relembrar de que a noção do soft em American Horror Story é tão cínica
quanto qualquer outro produto de Ryan
Murphy, esta semana, Boy Parts
foi mais além ao trazer um empolgante clima trash
que enriqueceu ainda mais o novo universo proposto. Tendo direito a jacarés
assassinos, rituais negros de acasalamento e um Frankenstein próprio.
Se as menções ao poder da jovem
Misty Day já soavam provocativas por si só, imaginem uma abertura com ela no
pleno exercício do seu dom. A sequência da ressurreição dos jacarés já nasce
clássica pelo tom poético hardcore.
Misty é a última representação que faltava para os imagéticos gêneros de bruxas
que Coven criou até aqui. Ela é uma wicca, guiada pelos sons da natureza,
inocente ao idolatrar Stevie Nicks
(genial essa sacada), mas ainda sim consciente de que não é tão inofensiva como
se pode julgar a primeira vista.
Na academia, a evolução da trama
reservou um espaço para cada uma de suas moradoras. É bem impressionante ver um
enredo difícil como este se firmar em tão pouco tempo, mas isto não é mais
surpresa quando se fala de AHS. Outro
detalhe essencial para o sucesso de todos os plots vem da escolha de apostar nos pares de bruxas: Zoe e Madison,
Queenie e Nan, Fiona e Cordelia, e por aí a permuta continua. Claro que as
discussões temáticas também contribuem, afinal a “culpa por associação” deu força as parcerias e criou vários
momentos arrebatadores.
Eu já posso falar que os
encontros de bom dia organizados por Cordelia só rendem boas sequências?
Queenie contando como foi descoberta pela diretora fez jus ao seu emblemático
poder e Gabourey Sidibe continua
arrasando como sempre. A reunião também gerou o que podemos chamar de exemplo
prático para o que Fiona havia dito ao falar sobre a importância das mulheres
do clã lutarem juntas. A água batizada com um saboroso (ou seria venenoso?)
cuspe para os investigadores e o ultimato dado as jovens sobre o real
significado do título de Suprema, é forte, irônico e por isso mesmo divertido.
Não tem como não adorar a forma
que Madison acha para retribuir a ajudinha que a amiga deu ao destino nenhum
pouco agradável do seu estuprador. Só o “humor doentio” da atriz já valeria a
pena, porém Emma Roberts vai fazendo
maravilhas com o cinismo de Madison. O feitiço de ressurreição é over na execução e casca grossa na
montagem. Costurar as melhores partes dos garotos mortos no acidente à cabeça
de Kyle é dessas bizarrices carregadas de referências POP que você ama por ser
impressionante. Atentar para os detalhes também faz toda a diferença, ou seja,
um ritual de necromancia sem vender a alma ao capiroto seria bem broxante.
Aqui, não só a figura de Azazel (o deus bode da abertura?) já começa a ser
referenciada, como também Zoe se mostra mais do que uma pussycopata, ou vocês acham que o beijo não teve parte no despertar
final de Kyle? Outro ponto curioso foi o fato da energia de Zoe atrair Misty
até o necrotério, tem mais nisso aí do que a gente pensa e o mistério já chega
matador.
Já que o teor sexual de AHS vez ou outra toma conta de uma
trama grande da temporada, cabe a Cordelia (Sarah
Paulson sendo o oposto de sua Lana
Banana) cair no dilema da concepção por direito divino, científico ou
mágico. Já detestei esse Hank, cara prego e chato, que felizmente deve rodar
logo, pois a magia negra para concepção deve ter atraído algo não muito bom até
Cordelia. Como se não bastasse todo o apelo visual das sequências já citadas, o
feitiço de acasalamento foi hipnótico. Criar momentos assim é arte sendo feita
na televisão. O diretor Michael Rymer
(Hannibal e Battlestar Galactica) fez toda a diferença desde que entrou para
série, já que o roteirista Tim Minear entrega
sequências apoteóticas que merecem um apuro técnico estilizado, desde o
massacre da escolha no halloween da Murder
House. Não tem como a trupe de Ryan
Murphy se distanciar dos bebês demônio e dessa vez o negócio já começa
muito, mais muito bem.
Madame LaLaurie e Marie Laveau são
tipo os must see de Coven. Personagens reais defendidos por
grandes atrizes que estão visivelmente se divertindo com os absurdos. Para
acrescer o caldeirão, só jogar Fiona entre elas. A conversa no salão de Marie
Laveau que trouxe a explicação do por que da fuga de Salem para New Orleans brilhou por não ter sido expositiva como a cena do jantar de poderes no
episódio passado. Trouxeram até a figura da escrava Tituba (uma das três
mulheres que receberam a primeira acusação de bruxaria em Salem), para explicar
a origem da ordem comandada por Fiona hoje. É notável o desprezo que Laveau tem
pela raça que traiu uma de suas iguais e ainda saiu com o mesmo nível de
poderes que lhes foram entregues. Esta rixa vai ditar muito do que veremos
no embate das três forças maiores, que tem LaLaurie como terceiro vértice.
Não consigo nem prever quanto o
encontro de Zoe e Misty movimentará as regras do coven, mas a pussycopata teve uma química incrível
com a wicca country. Da mesma forma,
eu não apostaria muito na redenção de LaLaurie só pelo fato dela ter mostrado
uma ponta de humanidade pela morte das filhas. A mulher é egocêntrica a ponto
de se lamentar com a celebração do macabro em sua vida. Fiona tem planos para
LaLaurie e mesmo do jeito dela, eu aposto num revés de justiça, no maior estilo
“olho por olho”. Resta saber quem
será o prego e o martelo desta vez.
P.S.: Cultura POP explodindo por aqui. Já tivemos Hogwarts, Sabrina e agora Charmed.
P.S. 2: Nan ouvindo os apelos de Madame LaLaurie foi muito fofo.
Fico impressionado como a Jamie Brewer é
expressiva.
P.S. 3: Trilha sonora incidental inspirada no trabalho da banda Goblin do filme Suspiria (também sobre um internato de bruxas) do Dario Argento, não por acaso um dos ídolos de Ryan Murphy. De encher os ouvidos.