loggado
Carregando...

[Resenha] As Vantagens de Ser Invisível

O grito de uma geração sob uma perspectiva de inocência.


O grito de uma geração sob uma perspectiva de inocência.

Esse é o melhor jeito de descrever As Vantagens de Ser Invisível, o livro de estreia do cineasta Stephen Chbosky, também responsável pela adaptação da obra ao cinema. Simples e minimalista, e ao mesmo tempo extremamente ambicioso, o livro consegue tratar com tanta leveza de temas ora cotidianos e mundanos, ora pesados e complexos, que volta e meia, no meio de sua simplicidade, consegue ser brutal. 

A força de Perks, como foi apelidado pelos fãs, está na simplicidade que Chbosky usa em sua narrativa. O livro fala sobre Charlie, um garoto de quinze anos, cujo melhor amigo acabou de cometer suicídio. Temeroso com o início do ensino médio, Charlie decide escrever cartas para um desconhecido num processo que ele mesmo considera terapêutico. E, a partir dessas cartas, somos apresentados ao mundo pelos olhos de um garoto estranho e deslocado, mas ao mesmo tempo doce e inocente. O autor encanta ao usar uma linguagem extremamente simples, sem expressões complicadas ou frases feitas; no lugar disso, emprega uma linha de raciocínio simples e fácil de entender, sem adornos, para reproduzir genuinamente o pensamento de um adolescente perturbado. E essa simplicidade é o suficiente para transmitir reflexões profundas e, como o próprio Charlie diria, fazer-nos sentirmos infinitos. 

As situações são construídas com base no dia-a-dia, dando destaque a momentos comuns como uma canção tocando no rádio ou um menininho perdido num shopping, abrindo leque para diversas analogias sobre vida, morte, perda, solidão e saudade. Tudo sob o olhar pouco sofisticado de um adolescente que ainda está tentando se descobrir. Perks consegue ser devastador por conduzir o leitor a uma reflexão triste sobre a vida que não vemos, ligada intrinsecamente a cada ato presente no nosso cotidiano, várias das coisas sem sentido que fazemos por que estamos simplesmente acostumados a fazer. Como é dito em certa parte do livro, Charlie é um invisível. É especial, e vê coisas que nenhum de nós é capaz de ver. E, nessas coisas, vê também a beleza e a inocência.

É claro que o livro às vezes peca por tocar em lugares comuns aos de dramas adolescentes - como drogas e alcoolismo. Chega um momento em que essas passagens ficam repetitivas e parecem mecanizadas, o que as torna cansativas e um pouco desnecessárias. Mas quando o livro volta àquela profundidade reflexiva sobre a vida de Charlie, encontra forças novamente para conduzir-nos a um final ao mesmo tempo lindo e devastador. A última dificuldade de Charlie é a solidão, e a promessa esperançosa de que ele um dia poderá encontrar a si mesmo. E nós - assim como ele mesmo - não podemos deixar de ficar alegres e torcer para que um dia ele consiga.

Com um dos protagonistas mais carismáticos, interessantes e intensos da literatura young adult dos últimos anos, As Vantagens de Ser Invisível é aquele livro que vai apelar para todas as gerações - para os mais jovens e os mais velhos, que viveram nas décadas da contracultura, do sexo, drogas e rock'n'roll. É o hino de uma geração - de todas as gerações -, e é a literatura jovem na sua melhor forma.

Resenhas 2701549317025243670

Postar um comentário Comentários Disqus

Página inicial item