[Resenha] Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos
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Como vão, pessoal? Hoje, começamos com uma nova coluna no LoGGado: a Resenhas, onde quinzenalmente iremos discutir sobre livros e talvez um pouquinho sobre suas adaptações - se é que algumas merecem este nome. E, hoje, começamos com o primeiro volume de uma das sagas mais populares da atualidade e cujo filme estreou há menos de um mês: Cidade dos Ossos, o primeiro da série Os Instrumentos Mortais, de Cassandra Clare.
Como disse na minha crítica do filme, sou extremamente fã da saga. Chego a dizer até que é a minha preferida, na frente de várias outras mais conhecidas pelo público geral. E isso acontece porque, quando pensamos em "saga", a ideia que nos vem é de uma leitura despretensiosa, até mesmo um passatempo mais juvenil e mais focado no entretenimento. Quando uma saga vai além disso, é sucesso na certa e geralmente é responsável por desencadear histeria em massa e uma grande legião de fãs.
Com Os Instrumentos Mortais, não poderia ser diferente. Longe da pretensão de trazer fortes mensagens políticas e filosóficas, Cidade dos Ossos se assume, se consolida e se esbanja como uma fantasia nerd de primeiro nível. Digo isso porque, desde a primeira página, somos arremetidos com uma atmosfera fantástica que achava ser típica somente de quadrinhos, de filmes de fantasia, ficção-científica, comédia ou terror da década de 70 ou de filmes de super heróis. E, num momento em que a literatura young adult se focava mais do que deveria em vampiros brilhantes e outros seres sobrenaturais adocicados, isso foi uma lufada de ar limpo para um gênero decadente.
A história é bem simples; tanto que, num primeiro momento, o leitor acaba assumindo uma posição um tanta cética: Clary Fray, uma garota de 16 anos, presencia um cruel assassinato, mas parece que ninguém consegue ver os assassinos, e o corpo inexplicavelmente desaparece no ar. Para piorar a situação, sua mãe é sequestrada - e Clary se vê num mundo desconhecido, mas do qual faz parte desde o momento em que nasceu. Eu lembro que, em 2010, comprei o livro pelo impulso de estar em promoção, mas não coloquei muita fé. E acabou que tive uma baita surpresa.
Após isso, Clary se vê no Mundo Das Sombras, um mundo que existe dentro do nosso, mas é invisível aos mundanos, os seres humanos comuns. Neste Mundo, existem vampiros, lobisomens, feiticeiros, fadas, fantasmas, gênios - e, acima de tudo, demônios: criaturas interdimensionais que ameaçam a vida no nosso universo. Para combatê-los, surgiram os Caçadores de Sombras, uma raça que, ao beber o sangue do anjo Raziel, adquiriu poderes sobrehumanos. São mais velozes, mais fortes e mais habilidosos do que os mundanos, e, para proteger nosso mundo, vivem em constante guerra com os demônios - e com alguns seres sobrenaturais do Submundo também. Há 150 anos, os Caçadores convivem em paz com estes últimos por causa dos Acordos, que delimita leis e limites para todas as raças.
O problema é quando surge um homem, Valentim Morgenstern, e declara guerra contra o Submundo, decidido a purificar o mundo. Após ver seu plano destruído e seu exército de Caçadores desertores massacrados, Valentim se suicida em sua casa em Idris, e desde então o mundo está em paz. Ou ao menos é isso o que se pensa. E, no meio disso, estão Clary e sua mãe, descendentes da raça dos Caçadores, e de alguma maneira envolvidas com o Ciclo de Valentim. Auxiliada por Jace, um Caçador bonitão e sarcástico, Clary deve descobrir por que sua mãe sumiu, e se vê diante do inicio de uma guerra inimaginável.
À primeira vista, não é possível visualizar o grande diferencial da saga, visto que a sinopse não é muito diferente de outras histórias que estamos acostumados. Mas, com o passar das páginas, é notável o imenso universo que Cassandra Clare criou - e que ganhou mais substância ao longo da saga, ao ponto de acabar se tornando um universo estendido, denso e imenso, abrangendo mais de dez livros publicados e pelo menos mais quinze planejados. Nem todos são da saga Os Instrumentos Mortais, mas todos se interligam, desde a Inglaterra Vitoriana até os dias atuais. Mas isso é assunto para outro post.
A grande força de Cidade dos Ossos está, como eu já disse, na atmosfera assumidamente geek. São inúmeras as referências a obras como Star Wars, Naruto, Arquivo X, Buffy, Harry Potter, Doctor Who, as HQs da Marvel e da DC Comics, entre outros, que vão encantar instantaneamente aos fãs destes. E, junto a isto, está o senso de humor que falta à maioria das sagas: Os Instrumentos Mortais nunca se leva a sério demais, e sempre tem uma tirada ou um referência à cultura popular, como as citadas acima, para aliviar a tensão ou mesmo quebrar o gelo. Os livros são carregados de uma autocrítica afiada, que ao mesmo tempo homenageia e satiriza a cultura nerd com seus clichês propositais e inusitados, sempre tratados com bom humor, e de personagens audaciosos e envolventes. É impossível escolher um personagem preferido, visto que todos são igualmente encantadores e divertidos, principalmente pelo fato de que, debaixo dessa superfície irônica e engraçada, todos eles tem bastante substância: tanto Jace como o galã convencido, quanto Simon como o melhor amigo nerd, Alec como o rival mal-humorado (e com um grande motivo para tal) e Isabelle como a Caçadora mais "dada".
Porém, é impossível não deixar de notar alguns erros. O leitor mais exigente provavelmente terá problemas com os primeiros capítulos, nos quais Clare demonstra seu amadorismo na escrita e na coesão da história, além de um ritmo pouco empolgante. Depois de aproximadamente 150 páginas, a história dá uma guinada com ação, comédia, mitologia e as referências já mencionadas que se mantém até o fim de suas quase 500 páginas, mas alguns problemas narrativos - como repetição de palavras, má formulação no desenvolvimento de certos períodos etc. - são notáveis. Além disso, alguns poderão notar no intenso foco em Clary e Jace (não no romance, mas no desenvolvimento em si), em detrimento dos fortíssimos personagens secundários. Felizmente, este é um problema que não se repete nos próximos livros - que, diga-se de passagem, são muito melhores em diversos aspectos -, mas, em Cidade dos Ossos, é um tanto quanto incômodo.
Os Instrumentos Mortais é um clássico nerd instantâneo. Com seu senso de humor e de divertimento insano, a saga se estabelece como uma leitura leve e prazerosa, mas ainda assim completamente viciante. Se o filme tivesse mantido estas características, Cidade dos Ossos poderia ter se mantido como uma série extremamente lucrativa e adorada no cinema por anos. Mas, por enquanto, o sucesso literário é o suficiente para agradar o público e os céticos, mesmo que este primeiro livro não tenha sido perfeito.