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[Crítica] Truque de Mestre


A relação de determinados segmentos do Cinema com a mágica, mesmo que possa soar estranha, sempre existiu. Há diversas obras da sétima Arte nas quais, embora as situações ali possam parecer as mais implausíveis aos olhos do público, tornam-se mais palpáveis graças ao mágico trabalho dos que ali as interpretam, enquanto nos grandes espetáculos de magia, por mais que saibamos que o que estamos vendo ali é apenas um truque, uma ilusão, é muito difícil não se encantar por esta ilusão que presenciamos, e muito graças ao trabalho de seu ilusionista.

O diretor Louis Leterrier reuniu uma porção de grandes nomes do Cinema americano atual para seu Truque de Mestre, em que apresenta de início quatro ilusionistas que buscam alçar sua carreira na magia, seja esta carreira mais modesta, como a dos aspirantes a mágicos Merritt McKinney (Woody Harrelson) ou Jack Wilder (Dave Franco), ou as daqueles que já comandam um espetáculo de maior escalão, como são os casos de Daniel Atlas (Jesse Eisenberg) ou Henley Reeves (Isla Fisher). Mas suas carreiras e vidas mudarão para sempre quando cada um deles recebe uma carta que leva todos a um único destino, um local que une os quatro mágicos que tem pouco em comum além da carreira que seguem, e que os modificará pelo simples fato de que a partir daquele dia eles decidem se reunir e seguir carreira como um quarteto de ilusão.

Mas após um ano deste encontro, os "Quatro Cavaleiros" já tem uma carreira de sucesso e reúnem milhares de pessoas em seus espetáculos cheios de surpresas e elementos fantásticos, porém tudo mudará novamente quando, num de seus shows, realizam um número no qual, quebrando qualquer regra judiciária ou física, teletransportam um de seus espectadores para o cofre de um banco na França e, através disto, transportam de volta para o palco milhões de euros que jogam para toda a plateia. Com isto, provocam o interesse do FBI em sua mágica, mas não como fãs, e sim para investigar a suspeita em torno deste arriscado truque. Mas é claro que não será uma missão fácil buscar rastros de um golpe conduzido por ilusionistas tão profissionais, cuja possibilidade de terem deixado marcas de sua passagem será baixíssima. A partir deste momento, surgirá um verdadeiro jogo de gato e rato entre os investigadores e os ilusionistas, ainda envolvendo diversas outras sub-tramas que surgem por trás deste pano principal da investigação, como uma vingança que parte por trás da cuidadosa mitologia gerada a partir da relação de um antigo e famoso ilusionista com o que ocorre no tempo presente e os conflitos gerados a partir das decisões ousadas do grupo para deixar seus nomes marcados na magia.

Deixando bem clara a divisão entre seus atos, sempre apresentados por um dos espetáculos do grupo, já que os eventos apresentados naquele ato partirão dos ocorridos neste; seja no primeiro - com o número citado no parágrafo em que descrevi a premissa do longa, que gera a investigação -, no segundo - quando o número inicia o conflito com o financiador do grupo -, e por fim no terceiro - com o número "holográfico" que dá início ao desfecho -, Truque de Mestre reserva seus principais momentos cômicos para o primeiro ato, no qual apresenta seu quarteto protagonista de forma bem-humorada e inicia o desenvolvimento da química entre eles, mas a partir do início das suspeitas do FBI em que a grande perseguição se inicia, o clima de tensão bem construído toma o lugar da descontração, embora a abordagem nunca torne-se pesada.

Mas o roteiro de Ed Solomon, Boaz Yakin e Edward Ricourt cria um obstáculo para si próprio na geração da tensão quando sempre em que ocorre uma aproximação mais perigosa dos agentes em relação à sua perseguição aos ilusionistas, surge uma conveniência de mais uma das mirabolantes armadilhas que o quarteto bolou para sempre manter-se "três passos a frente" da lei, o que tira um pouco da graça de sentir o risco corrido ali, e digo isso pelo fato de que a abordagem do longa se posiciona sim a favor dos ilusionistas. 

Sem deixar completamente este quesito, as várias personagens de Truque de Mestre não representam grandes exemplos de desenvolvimento pessoal, mas também despertam a simpatia do público desde o primeiro momento, embora eu particularmente não considere este um mérito do roteiro, mas sim de seu estrelado elenco, que no geral está muito bem na produção. Desde o competente e subestimado Woody Harrelson, que funciona como o elo cômico do grupo, passando por Jesse Eisenberg, que repete sua personalidade que já é conhecida de outros papéis, vivendo o arrogante, inteligente e ainda assim carismático líder do grupo, Mark Ruffalo, que vive o investigador do FBI e constrói uma personalidade frustrada que aparentemente segue seu personagem, a belíssima Isla Fisher que mantém uma ótima química com qualquer seja o personagem com quem divide a cena, e embora os experientes Morgan Freeman e Michael Caine demonstrem talento somente ao surgir em cena, seus esforços são tão altos quanto a profundidade de seus personagens, e poderiam render muito mais, mas como um amigo meu disse, é sempre bom vê-los juntos novamente. Quem também não é muito bem aproveitada é a belíssima Mélanie Laurent, que vive uma personagem que pouco passa dos estereótipos da nova assistente do investigador experiente em seus estranhamentos com este até o surgimento do previsível romance entre os dois, aquém de seus esforços. Dave Franco tem pouco a fazer. E em certo momento do longa, o personagem de Harrelson solta a frase "estou apenas me divertindo" e esta parece ser a síntese do trabalho deste elenco: Eles estão se divertindo.

Mas o que realmente denota o bom ritmo da obra é a ágil direção de Louis Leterrier, que em sua câmera inquieta e cheia de travellings circulares consegue surgir competente desde o enfoque visual dos espetáculos de magia ao ritmo mais veloz e menos detalhado das sequências mais movimentadas, que se une a um roteiro, como já citado, competente mas cheio de falhas, e divide-se com uma maior proporção de cenas de um bom thriller comercial e outras descartáveis, mas que infelizmente, e talvez justamente pelo comprometedor comercial, aposta em um desfecho que força as relações propostas durante a trama para explicá-las de forma mais plausível, e acaba comprometendo um pouco a competente obra.

Ainda assim, gosto de pensar que, como detalhado no parágrafo de introdução deste texto, Truque de Mestre convenientemente se assemelha a um espetáculo de mágica: Embora você possa enxergar seus visíveis problemas, isto não te impede de aproveitar o show, justamente por, assim como na magia da ilusão, Truque de Mestre consegue prender bastante a atenção do início ao fim, muito graças aos seus ilusionistas, ou no caso, seu elenco como um todo. E este divertimento também é parte fundamental da magia da sétima Arte.
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