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[Crítica] O Cavaleiro Solitário

Ás vezes é mais fácil apontar um determinado filme como um fracasso desde início apenas considerando o fato de ele não ter sido recebido com bons números pelo público ou, ainda mais, pela crítica. Mais fácil ainda é antecipar seu fracasso ao observar apenas os nomes envolvidos em sua produção ou seu orçamento. Fazer isto antes de ver o filme, ainda que não seja a opção mais saudável, é considerável. O - grande - problema surge quando você deixa que isto influencie sua visão da obra.

Muitos fatos apontavam para a possibilidade do fracasso comercial de O Cavaleiro Solitário, mas é de uma tremenda inocência achar que isso significa algo sobre a qualidade do filme, que dirá então de influenciar sua opinião sobre esta. Aliás, ainda mais no caso do título que tratamos aqui, já que O Cavaleiro Solitário está longe de merecer este fracasso, pois merecia o sucesso digno do blockbuster que é.

Rebobinando a história do personagem-título, que outrora foi uma série homônima de sucesso, o roteiro do pouco experiente Justin Haythe e dos especialistas em aventuras dos últimos anos, Ted Elliott e Terry Rossio, preocupa-se em apresentar as origens de sua dupla de protagonistas e todos os eventos que os levaram a tornar-se esta dupla justiceira. Enquanto John Reid (Armie Hammer) era um advogado simples e sem muito a almejar, já que o título de herói sempre acabava ficando com seu irmão, Dan (James Badge Dale), visto que na época em que viviam pouco preocupava-se com grandes títulos como advogados ou médicos, já que a profissão que trazia a glória era ser um oficial a serviço da lei, ou um ranger. O progresso ainda não havia chegado à região, portanto os grandes detentores do poder ainda não eram os detentores da glória. Enquanto isto, o indígena Tonto (Johnny Depp), prometia vingar os ambiciosos homens que mataram sua tribo anos atrás. Quando Dan volta à cidade de seu irmão e o ajuda na busca por um criminoso, acaba ocorrendo algo que mudará sua visão: Seu irmão é morto cruelmente por este procurado assassino, Butch Cavendish (William Fichtner), e o antes certinho Dan deverá ir em busca de vingança, unindo-se então ao excêntrico indígena por este plano. Diversos eventos ocorrem antes e entre este ocorrido principal que os leva ao encontro, mas a descrição já basta para a situação na qual o longa se conduzirá.

As produções cinematográficas de um país tem uma relação direta com os pensamentos de sua população, e a abordagem de O Cavaleiro Solitário é uma bela metáfora desta representação. Passando-se justamente nesta fase de transição do período histórico que grande parte dos faroestes retratam e o período que surge após este (no caso, 1869), com a chegada das ferrovias que minou os Estados Unidos ao progresso e à modernidade. Mas embora com esta transição, a verdade é que os movimentos artísticos americanos nunca deixaram de relembrar a fase do chamado "Velho Oeste" - especialmente o Cinema - e nada como o surgimento de uma lenda que relembrasse este período, o contemplando e tendo uma abordagem de certa forma crítica esta transição, esta é a lenda do Lone Ranger.

E observe como, enquanto os westerns clássicos, em sua maioria, faziam uma retratação prejudicial aos povos indígenas, O Cavaleiro Solitário foca-se de inteligente forma na união entre o modo como ambos os povos poderiam lutar por seus direitos juntamente, devido ao modo como cada um foi prejudicado. E no caso, aqui, Dan e Tonto foram prejudicados pelo fato das excessivas ambições que enganam os olhos mais gananciosos com o progresso iminente, e enquanto o indígena teve sua família morta por investidores que queriam tomar a região a qualquer preço, o estudioso Dan decide recorrer à vingança por ter os criminosos que mataram seu irmão trabalhando a favor dos nomes mais gananciosos que trabalhavam a favor deste progresso. Ainda há toda uma mitologia partindo do indígena para o surgimento da lendária parceria, mas as críticas mais interessantes partem dessas motivações dos protagonistas, e isso é o que leva a obra de Gore Verbinski ainda além de um simples filme bacana, já que eleva a profundidade de seu roteiro para os elementos abordados.

O que não significa que isto livre totalmente a abordagem do longa de por vezes cair nas armadilhas que tanto condenam os projetos mais comerciais, já que a dinâmica entre a dupla, por exemplo, não será diferente daquelas que vimos por muitas outras vezes no Cinema, com estranhamentos iniciais devido às suas extremidades de caráter e comportamentos, mas que logo, em meio às dificuldades de sua jornada, acabam se conhecendo melhor e tecendo uma amizade em prol do objetivo mútuo, e enquanto isto, passam nesta mesma jornada por um bocado de conveniências, que embora representem um problema, não chegam a apresentar déficit para a narrativa, e que, é claro, podem ser ainda mais deixados de lado quando observarmos o primor técnico no design de produção comandado por Jess Gonchor - que já havia trabalhado no gênero em Bravura Indômita - que reproduz um oeste americano de sua época com primor, acompanhado da deliciosa homenagem aos clássicos do gênero que é conduzida pelo sempre competente Hans Zimmer na trilha sonora, e fique atento a esta no terceiro ato, na qual seu crescimento é notável; aliás, o público certamente ficará mais atento no terceiro ato, quando uma longa sequência de ação - a melhor do filme - toma conta do desfecho dos planos da dupla tira o fôlego do espectador (e imagine então dos que estavam a bordo daquele trem). O trabalho de Hammer e Depp fica facilitado pela boa química entre a dupla, que surge muito a vontade ao viver diversos momentos cômicos que destacam o talento de ambos para o bom-humor.

Mas se esta grande presença de cenas cômicas poderá atrapalhar os que buscam uma retratação mais séria do período e da trama, é interessante manter a lembrança de que O Cavaleiro Solitário não é uma retratação histórica, mas sim uma lenda divertidíssima que brinca com o imaginário dos tantos que amam ver esta época na grande tela.
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