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Fora de Cena | Horizonte Perdido (1937)


Vamos falar sobre utopia. 

Imagine o lugar perfeito, onde as pessoas demoram para envelhecer, não há doenças, nem pobreza, todos são felizes e vivem em perfeita harmonia. Neste filme esse lugar existe. Seria de fato real ou apenas um sonho? E se for real, seria realmente perfeito? Ou estariam aquelas pessoas planejando alguma coisa?

O diplomata inglês Robert Conway encontrava-se em uma missão de paz na China quando uma rebelião estoura na cidade e impede as negociações. É necessário então que ele saia de lá e retorne para Londres. Por obra do destino, nunca do acaso, o avião em que ele, juntamente com seu irmão e mais três pessoas, embarca é sequestrado por um homem misterioso, que os leva para um local mais misterioso ainda chamado Shangri-la.

Mais importante agora que falar do enredo desta história fantástica, é deixar claro alguns de seus objetivos. Este filme foi lançado em 1937, um período de recessão econômica e também um momento em que Hollywood adorava ressaltar o poderio bélico dos Estados Unidos. Tendo em mente esses dois pequenos detalhes, percebemos que Horizonte Perdido faz um contraste com as demais produções e traz esperança de um futuro melhor, ou simplesmente vem revelar um desejo presente no interior de qualquer um naquela época.

Conway, o personagem principal interpretado por Ronald Colman, um dos poucos atores que conseguiu sobreviver à introdução do som no cinema, é um sonhador que durante toda a vida foi condicionado a fazer o que era esperado que fizesse. Entretanto, sempre soube que havia mais a ver e a ser vivido, e ele encontra as respostas naquele lugar, que nada tem de misterioso. Na verdade, é tudo muito simples. Deve estar aí a dificuldade de aceitar que é real. Nada tão bom pode ser assim tão simples. Mas... por que não?

Pesquisando sobre o filme, podemos nos deparar com o seguinte comentário: "Na época da estreia, esta aventura de Frank Capra foi considerada luxuosa e cativante. Atualmente, mesmo ainda seduzindo o espectador moderno com seus ousados cenários, premiados com o Oscar e com a música dramática dos veteranos Dimitri Tiomkin e Max Steiner, a fita envelheceu um pouco, principalmente em seu misticismo ingênuo demais".

Não creio que seja um filme ingênuo demais, tampouco místico. Em um momento em que o mundo estava em crise, esse filme veio mostrar que para alcançar uma melhor situação basta ser gentil, pacífico. Infelizmente, nossa sociedade "evoluiu" nessa cultura de obter paz através da guerra e, com medo de aceitar mudar, depara-se com um filme como este e o declara ingênuo.

O ser humano passa a vida sonhando com um mundo melhor, e quando vislumbra a realização desse sonho tem dificuldade para acreditar. É muito difícil aceitar uma mudança. É mais fácil ficar na miséria do que alterar a ordem natural do caos. O novo assusta. O perfeito é demais para os olhos acostumados à guerra. A paz é imaginária. Sua realização, um esforço inalcançável.

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