Fica a Dica | Música: Solange Knowles - A Seat at the Table
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Deus abençoe as irmãs Knowles.
Durante a criação de seu mais novo álbum, intitulado A Seat at the Table, Solange Knowles parece ter definido uma meta simples, mas ambiciosa. Se seu último lançamento de 2012, o True (EP), tinha a intenção de "provocar alegria" e "desafiar o que conhecemos como pop". Com este novo álbum, ela parece ter tido a intenção de levar o ouvinte em uma "jornada de empoderamento". Felizmente ela conseguiu, pois A Seat at the Table é um álbum incrível!
O álbum, que conta com influências que vão de Aretha Franklin a Lil Wayne, pode ser compreendido como a timeline de um indivíduo negro inteligente. Digo isso, pois seja nas maravilhosas interludes que contam com a ótima participação de Master P - destaque para a narrada pela mãe da cantora, Tina Knowles - ou em suas melodias peculiares e fortes, as canções soam como a voz do negro tentando manter a sanidade e um senso positivo em uma sociedade que constantemente tenta nos tirar ambas as coisas. Se o componente visual do ótimo Lemonade de Beyoncé é uma celebração da feminilidade negra, ASATT é um álbum que aborda a comunidade negra em geral, que fala com a angústia e frustração compartilhada por todos nós e não coíbe a partir da raiz da luta.
Pela primeira vez parece que vamos ter as duas irmãs Knowles com álbuns dignos da lista de melhores do ano. Lemonade e ASATT se complementam tão organicamente, este sendo mais um soco certeiro da família mais poderosa na música de hoje, pois merecidamente em 2016 Beyoncé e Solange ascenderam aos tronos.
ASATT narra muitas facetas da experiência negra. Seu pai, Mathew Knowles, descreve a raiva criada pela segregação e sua experiência como um dos primeiros jovens estudantes para lidar com os esforços de integração no sul em "Dad Was Mad". Sua mãe, e Rainha do Instagram, Tina Knowles, elegantemente explica por que celebrar a cultura negra não é algo "anti-branco", dentre outras discussões interessantes que o álbum promove.
Em "Mad", Solange e Lil Wayne articulam a "justa indignação" dos negros. Solange explora isso ainda mais, e mais incisivamente, em "Don't Touch My Hair" e novamente em "F.U.B.U.", onde se dirige diretamente aos brancos dizendo: "Don't feel bad you can't sing along/Just be glad you got the whole wild world".
A frase "assumidamente black" pode ser usada para algo como ASATT, porque neste álbum Solange foca nos negros, seus sentimentos e cultura. Ela aborda o racismo e os aborrecimentos de brancura, mas isso nunca é o foco, nem a lente através da qual ela mesma ou seu povo vê. Este álbum foi feito para curar e estimular as pessoas negras, não explicar às pessoas brancas porque os negros precisam de cura e encorajamento.
É difícil não se emocionar quando alguém cria uma obra de arte que fala a verdade para a nossa dura realidade. Em "F.U.B.U.", Solange canta sobre esperar estar fazendo seu filho orgulhoso. Eu certamente posso dizer que estou orgulhoso. E grato.
Obrigado, Solange, por fazer isso para todos nós. Espero que todos que leiam essa dica se sintam inspirados em acompanhar o trabalho dessa artista maravilhosa.